Quem leu minha crítica da segunda temporada de De Volta aos 15, vai notar que mencionei que a temporada poderia ser o desfecho da série estrelada por Maísa. De fato, a série já havia encerrado com o segundo dos dois livros de Bruna Vieira que serviram de base para o programa. Entretanto, a viajante do tempo da Netflix retorna para uma terceira e última temporada totalmente independente das páginas.
É assim, que De Volta aos 15 se torna "De Volta aos 18", já que agora Anita (Camila Queiroz) adulta salta para 2009, quando está em seu primeiro semestre na faculdade. Dessa vez, com o Floguinho "bugado", a moça tem zero controle das viagens que estão sendo executadas por alguém misterioso. Então, na pele de Maísa ela precisa conhecer sua vida de universitária, ao mesmo tempo que tenta descobrir o outro viajante do tempo, e interromper o vai-e-vem entre linhas temporais e realidades alternativas.
Se havia algum resquício de lógica na dinâmica de viagens temporais, esta é completamente descartada ao, ironicamente, tentarem explicá-las. Trazer Gregório Duvivier como criador excêntrico da rede social que proporciona as viagens é interessante, mas a tentativa de explicar como acontecem é cheia de furos. Apresentando o fenômeno quase como uma maldição que passa de um usuário para outro, ignorando completamente que no ano anterior haviam dois viajantes simultâneos. Mas estas incoerências bem comuns em ficções-cientificas com esta temática, estão longe de ser o grande problema da temporada.
De Volta aos 15 se perde ao ignorar seu público alvo original, o infanto-juvenil, e focar apenas no "juvenil" da dinâmica. É verdade que parte do público amadureceu desde a estreia em 2022, mas acredito que os menores ainda são maioria. E o impacto de três anos há mais nos personagens e na narrativa é um tanto questionável.
A busca por identidade e independência dos adolescentes de quinze anos, se tornou a liberação total e completa dos jovens de dezoito. Representada não apenas pela ausência do elenco adulto, os pais, mas pelos interesses dos personagens. Curtir a vida, o que para eles é sinônimo de cerveja e palavreado de baixo calão ilimitado. Já os namoricos, primeiros beijos, descobertas do romance, se transformara na busca incessante pela próxima transa.
Longe de mim bancar a puritana, mas a mudança é de fato muito brusca, ignorando o público mais jovem da série. Além de retratar uma juventude e vida universitária completamente irreais. E não estou falando do padrão estadunidense de repúblicas rivais e festinhas. Não é comum no Brasil, mas existe, e a opção faz sentido para tornar a série mais palatável para outros públicos. Mas o pouco esforço, as facilidades só existentes para poucos privilegiados, e até o fato de todo o elenco frequentar a mesma universidade. Quais as chances?
Além disso os novos interesses da molecada, tomam conta e interrompem arbitrariamente a trama principal. - É urgente voltar para minha realidade, mas antes vou dar uns pegas aqui e ali ou participar de uma festa! - Diferente das temporadas anteriores, essas pequenas relações não são introduzidas de forma tão orgânica. Tão pouco acrescentam ao desenvolvimento da protagonista, já que apenas repete o aprendizado que ela já teve nos anos anteriores.
Outros temas como chantagem e exploração do corpo feminino, namoro à distância, convívio social, decepção com escolhas da faculdade, e sair da sua zona de conforto, são apenas pincelados para justificar a presença de personagens queridos em cena. Estão de volta Klara Castanho, Antonio Carrara, Nila, Amanda Azevedo e Livia La Gatto. Além das versões adultas de alguns dos personagens, em participações pequenas. Vale mencionar, de todas as temporadas esta é a que menos explora o presente, e consequentemente menos explora as consequências das ações da personagem no passado. Enquanto Larissa Manoela é a única grande adição ao elenco nesta última temporada.
Menos criativa e coerente que as temporadas anteriores, o terceiro e último ano de De Volta aos 15, agrada mais pelo reencontro com os personagens a quem nos apegamos, do que pela aventura de fato. Dividida entre encerrar a história e aproveitar a maioridade dos personagens, a trama perde foco tempo de desenvolvimento, e dramas repetidos e mistérios menores.
Ao menos, as referências a obras com viagem no tempo como Feitiço do Tempo, e às músicas, modas, memes e eventos de 2009 ainda divertem. Resta saber se isso e o carisma do elenco é o suficiente para te manter ligado ao longo de toda a temporada.
De Volta aos 15 tem três temporadas, cada uma com seis episódios decerca de 45 minutos cada, todos já disponíveis na Netflix.
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