Este não deveria ser o final da temporada! Isso ficou claro ao assistirmos o oitavo e último episódio da segunda temporada de A Casa do Dragão (ou House of the Dragon no original), que originalmente teria dois episódios a mais. Felizmente uma série não é feita apenas de seu desfecho, e há muito que se discutir sobre as aventuras mais recentes de Westeros.
Em pleno auge da dinastia Targaryen, surge uma disputa pelo Trono de Ferro, entre a herdeira declarada Rhaenyra (Emma D'Arcy) e o segundo filho Aegon (Tom Glynn-Carney) do falecido rei. E o primeiro sangue já fora derramado, mesmo que não intencionalmente, dando início à guerra aberta... Ao menos era isso o esperado após do final da primeira temporada.
E sim, há um embate declarado, mas os dragões ainda não dançaram como contam as lendas. Muita política e preparação tomam o foco, antes de entregar alguma das poucas batalhas. Escolha familiar para os fãs das primeiras temporadas de Game of Thrones, mas frustrante para quem queria fogo e sangue.
Há também uma necessidade de preencher lacunas que não fora tão bem aproveitada quanto no primeiro ano. Fogo e Sangue, livro no qual a série é baseada, é um relato histórico produzido por meistres. Um livro de estudo que existe também no universo dos personagens, para aqueles que quiserem conhecer a história Targarien. Como qualquer livro escolar, foi produzido por fontes terciárias, que não tinham acesso à momentos mais particulares. E deixam de lado passagens consideradas menos importantes. O que deixa livre a criatividade, para o bem e para o mal.
Se por um lado é delicioso ver detalhes sobre como realmente aconteceu a semeadura, e tentar compreender como é feita a conexão com os dragões. O que aliás, varia de fera para fera. Por outro tentar encontrar tarefas para personagens que passam períodos ausentes na narrativa original pode ser um desafio.
Assim, temos a jornada de Rhaena (Phoebe Campbell), que no original apenas se afasta, misturada a de outra personagem cortada. A descartada politicamente Alicent (Olivia Cooke), ganhando uma jornada de arrependimento. E o polêmico arco de Daemon (Matt Smith), que enfrenta os próprios demônios em Harrenhall. Um desenvolvimento interessante, que explora a mitlogia de Westeros, mas estendido além da conta. Especialmente se considerarmos que não foram necessariamente, os muitos reencontros que fizeram o personagem amadurecer, mas uma única visão, cheia de fã-services, no season finale.
E por falar em amadurecimento, de fato não há tempo hábil para todos enfrentarem algum. Diferente do primeiro ano que cobriu décadas, esta segunda temporada se passa em um curto período de tempo. Tempo esse mal determinado pela narrativa. Viagens longas são feitas, no mesmo tempo que pequenos eventos, e o público nunca realmente compreende completamente quanto tempo se passou entre um acontecimento e outro. Tempo suficiente para as feias queimaduras de Aegon cicatrizarem, mas não para o exército do Norte chegar ao meio do caminho?
É Rhaenyra quem mais se prejudica com o tempo e desenvolvimento confuso. Inicialmente de luto pela perda do filho, a rainha do time dos pretos, passa apática por boa parte da temporada. Talvez ingênua demais ao crer que poderia terminar o embate sem grandes batalhas, e por isso tendo atitudes ponderadas demais. Felizmente, Emma D'Arcy, faz muito com o pouco que lhe oferecem, se aproveitando dos momentos reflexivos e intimistas para manter a fidelidade do público.
Já Olivia Cooke, perde espaço de tela mantendo a lógica daquele universo. Mas brilha sempre que encontra a chance, mantendo o equilíbrio do embate entre as ex-amigas. O restante do elenco acompanha a qualidade da dupla de protagonistas, com destaque para Tom Glynn-Carney na pele do irritantemente burro Aegon II.
Outra grande estrela da temporada são, é claro, os dragões! Em maior número, com mais aparições e muitas cenas diurnas. Os produtores ouviram as reclamações da temporada anterior, e investiram mais nas bestas voadoras, que tem suas características e personalidades ainda mais trabalhadas. Ao ponto de fãs conseguirem identificar quem é quem em pleno voo. E tornando ainda mais emocionante o evento que escolheram para ser o destaque da temporada, a semeadura.
Ver um pouco mais do povo comum, seja através dos futuros montadores, seja através das reações coletivas, também é um adicional que Game of Thrones não trazia. E que interfere na guerra pelo trono, mesmo que aqueles que estão no topo desprezem sua importancia.
Mais coeso narrativamente, e com a entrega mais gratificante o sétimo episódio The Red Sowing, é o melhor da temporada. Ao construir toda a tensão na busca de novos montadores de dragão, e entregar um espetáculo grandioso em seu clímax. Seguido de perto pelo episódio The Red Dragon and the Gold, onde de fato vemos a primeira, e única, batalha de dragões da temporada.
É o oitavo capítulo The Queen Who Ever Was, o mais fraco da temporada. Infelizmente também é seu desfecho, deixando o público com uma sensação amaga na espera pelos próximos episódios que só devem chegar em 2026. Originalmente a segunda temporada teria dez episódios, e a falta dos dois últimos é sentida. O episódio final deixa evidente que este não era o desfecho planejado, com muitos personagens à caminho de algo. À única exceção é a já mencionada jornada de Daemon. Se cliffihangers (os temidos ganchos) já são enervantes, imagina esperar por dois anos por histórias em aberto?
A segunda temporada de A Casa do Dragão, trouxe muitas boas promessas, mas poucas recompensas. Resultando em uma temporada de altos e baixos, principalmente para os mais afoitos pela ação. Mas a produção é caprichada (figurinos impecáveis, e CGI convincente), o elenco está afinado, e é sempre bom retornar ao mundo de G.R.R.Martin. Podia ter entregue muito mais, quem sabe se tornar memorável, mas se contentaram em entregar apenas oito semanas agradáveis.
A Casa do Dragão é exibida pela HBO, e está disponível no Max. A segunda temporada tem oito episódios, a primeira tem dez, todos com cerca de uma hora de duração.
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