Em algum momento na minha crítica da terceira temporada de The Boys, eu mencionei que Capitão Pátria era um herói para os cidadãos em seu mundo, mas claramente um vilão para nós do lado de cá da tela. Eu estava errada! Aparentemente, havia quem visse o o mais poderoso dos Sete como um exemplo a ser seguido. Ciente disso, o quarto ano da série resolveu escancarar ainda mais as críticas que sempre fez ao extremismo de direita. Em outras palavras, desenhar para o "nerd de bem" que ainda não tinha entendido a mensagem.
Derrotar o Capitão Pátria (Antony Starr) continua sendo o maior objetivo dos "garotos", agora liderados por Leitinho (Laz Alonso), em uma parceria secreta com o governo, já que Butcher (Karl Urban), além de imprevisível está à beira da morte, por ter usado muito Composto V. Do outro lado da disputa, os Sete buscam reforços para suprir as perdas das temporadas anteriores. Rival assumida de Luz Estrela (Erin Moriarty), a youtuber Espoleta (Valorie Curry) reforça o lado midiático da equipe com fake news. Enquanto a super mais inteligente do mundo Mana Sábia (Susan Heyward) elabora um complicado plano para colocar Pátria no poder.
Assim a temporada segue no embate entre extremos, Luz Estrelistas versus fãs do Pátria. Alternado com os arcos pessoais dos personagens. É aí que reside o ponto fraco da série, com o desvio de atenção para tramas que não necessariamente acrescentam para o arco geral. Um bom exemplo é toda a jornada de Hughie (Jack Quaid) com os pais, que não evolui a história e pouco afeta o personagem. Por outro lado, a separação de Francês (Tomer Capone) e Kimiko (Karen Fukuhara), faz sentido ao intensificar o impacto dos eventos finais da temporada.
Assim os episódios oscilam entre momentos extremamente empolgantes, e outros que parecem não levar a nada. A passagem de tempo, e as soluções também são confusas e convenientes em alguns momentos. Como a chegada da Luz Estrela no momento perfeito no episódio final.Nem todas as surpresas funcionam, como a verdadeira natureza do personagem de Jeffrey Dean Morgan, descoberta pelos fãs capítulos antes. Já outras como os efeitos do Composto V no pai de Hughie e o uso de um metamorfo, divertem.
Mas todas essas falhas e desequilíbrio, são compensadas pela critica direta, debochada, cheia de referências e acenos ao mundo real. Negacionismo, golpes de estado, fake news, discussões hipócritas sobre aborto, atentados políticos, ideais nazistas disfarçados, nada disso é mera coincidência. É sim uma extrapolação assumida do cenário político estadunidense, que assustadoramente também é muito parecido com o brasileiro.
Além, é claro, de nosso apego pelos personagens e seus interpretes. Amamos odiar os Sete tanto quanto adoramos ver Kimiko em ação. Para muitos passar mais tempo observando aquele universo e seus habitantes já é motivação suficiente.
Outro ponto alto, é a já conhecida aposta no exagero e absurdo, sem medo de chocar ou constranger. A série continua acertando ao apostar no gore, e escatologia, para escancarar ainda mais a podridão de seu universo. Complementada por boas sequencias de lutas, e usos bastante criativos da enorme gama de poderes disponíveis.
O maior destaque na atuação continua com Antony Starr e seu malvadamente complexo Capitão Pátria. Mas entre as boas surpresas, estão Nathan Mitchell finalmente podendo se expressar na pele do "novo Black Noir". E principalmente, Erin Moriarty que no episódio final ganha a oportunidade de explorar novos trejeitos enquanto Luz Estrela enfrenta a si mesma, literal e figurativamente.Vale mencionar, a conexão com a série derivada Gen V é bem pequena. Se limitando a breve aparições de personagens, e a inserção de um elemento, que é satisfatoriamente apresentado aqui. Logo, não é preciso assistir a série dos super universitários para compreender esta temporada.
Já o desfecho da temporada, também aponta os rumos para o desfecho da série. Colocando o desafio do grupo título no nível máximo. Oferecendo um conflito digno de um final grandioso.
A quarta temporada de The Boys não é impecável, mas ainda é muito eficiente, e mais importante divertida. Personagens ricos, complexos, e carismáticos, com uma crítica clara e contundente à sociedade atual. Além de muita ação, absurdos e exageros. Só não se diverte quem não quer, ou quem fizer parte do grupo criticado em questão. Sim, são vocês que estamos zoando!
The Boys tem quatro temporadas, cada uma com oito episódios de uma hora cada, todos disponíveis no Prime Video.
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