Outubro de 2021, assim começa minha crítica dos filmes sobre o caso Von Richthofen:
"Eu preciso de um terceiro ponto de vista!!! O que não significa de forma alguma que eu acredite na necessidade de um terceiro filme na curiosa experiência cinematográfica brasileira que é a dupla de longas A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais."
Parece que meu pedido foi atendido, ou não... considerando que eu queria sim um terceiro ponto de vista, mas não necessariamente um terceiro filme. A Menina Que Matou os Pais: A Confissão tem a proposta de oferecer essa nova abordagem, dessa vez voltada para o trabalho investigativo, e consequentemente a uma confissão. Uma pena que o foco se perca no caminho.
Em 2002, Suzane Von Richthofen (Carla Diaz) e os irmãos Cristian e Daniel Cravinhos (Allan Souza Lima e Leonardo Bittencourt), assassinaram os pais da moça. Sete dias após a morte do casal, o trio confessou o crime. É o processo de investigação da polícia, e as reações e atitudes dos acusados ao longo dessa semana que acompanhamos neste terceiro filme.
O passo a passo da investigação, as tentativas do trio de atrapalhá-las divide espaço com momentos dos assassinos no pós-crime, que tanto escancaram sua culpa, quanto tentam dar uma amostra de seu psicológico. É aí que a produção se perde, ao não apenas repetir temas mostrados nos longas anteriores, mas também, ao se posicionar mais claramente.
Antes tínhamos duas versões dos assassinos, mesmo que a de Suzane soasse mais caricata e consequentemente mais lenta, as obras deixavam abertas à interpretação o nível de culpa de cada um. A Confissão claramente escolhe a moça como principal mentora, mais fria e calculista que o namorado. Ao mesmo tempo, esse foco no psicológico do trio, tira tempo da investigação, que acaba sendo mais didática e tradicional em sua abordagem, do que poderia ser. Basicamente uma reconstrução dos fatos, que a mídia já havia relatado à exaustão.
A escolha por abordar apenas estes sete dias, deixando de lado o trabalho posterior, a reconstrução do crime, o julgamento e até as patéticas entrevistas que a moça deu à TV, nos deixa com a pulga atrás da orelha. Seria essa trilogia na verdade uma "quadrilogia", e este contudo estar sendo guardado para o próximo filme?
O foco no trabalho pré-confissão também seria uma forma de dar mais intensidade aos depoimentos de admissão de culpa do trio. Mas a entrega apressada dessas cenas, não traz a catarse que a longa espera prometia. O filme constrói todo um terreno para arrancar a grande confissão, especialmente de Suzane, mas a entrega é curta e fria. A exceção fica por conta de Allan Souza Lima, que tem a oportunidade de criar um Cristian Cravinhos desesperado e histérico e o faz com veracidade.
E por falar no elenco, Carla Diaz e Leonardo Bittencourt repetem o bom trabalho das produções anteriores, mas é a equipe policial quem se destaca. Bárbara Colen, que vive a delegada responsável pelo caso, puxa o filme para si sempre que o roteiro permite, e sua equipe a acompanha. Uma pena que o roteiro não lhe entrega completamente o protagonismo, ficando ainda fascinado por Suzane, de quem já vimos a versão nos longas anteriores.
Novamente direção de arte e figurinos recriam bem a época, assim como os símbolos presentes no imaginário coletivo de quem acompanhou o caso enquanto ele se desenrolava. Enquanto a direção de Mauricio Eça experimenta mais, especialmente nas sequencias em que transpõe para a tela os intensos sentimentos dos personagens.
A Menina Que Matou os Pais: A Confissão ainda está fascinado pelos assassinos, e acaba desperdiçando parte de seu potencial. Mais ainda é um filme competente, de um tema em alta, o true crime, e principalmente parte desse curioso e bem vindo experimento de linguagem que é esta trilogia. Mal posso esperar pelo próximo capítulo filme "A Menina Que Matou os Pais, mas Sai da Prisão no Indulto de Dia Das Mães"!
Assim como os filmes anteriores que tiveram a carreira nos cinemas frustrada pela pandemia, A Menina Que Matou os Pais: A Confissão foi lançado diretamente no Prime Video.
A Menina Que Matou os Pais: A Confissão
2023 - Brasil - 98min
Policial, Drama
Leia também a crítica de A Menina que Matou os Pais e O Menino que Matou Meus Pais
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