Homem-Aranha: Através do Aranhaverso

Uma exclamação coletiva de susto e decepção, seguido de calorosos aplausos. Não tinha como eu começar essa crítica sem apontar o misto de sentimentos expressados pela plateia da sessão em que vi Homem-Aranha: Através do Aranhaverso. Vale mencionar, uma sessão comum, não a costumeira cabine de imprensa. Logo, uma amostragem mais fiel, da relação do filme com o grande público. 

E esta relação foi curiosa! Ao mesmo tempo que o desfecho repentino gerou uma frustação geral imediata, no segundo seguinte, a plateia pareceu ter a percepção súbita do quanto de fato se divertira ao longo das mais de duas horas anteriores. Imediatamente perdoando ausência inesperada de desfecho. 

Sim, Através do Aranhaverso é uma "parte 1", e por isso não tem final, deixando a trama ser encerada por Além do Aranhaverso, anunciado para 2014. Essas escolha, meio picareta, por conta da Sony de não anunciar o filme como a primeira parte que é (provavelmente com medo que isso refletisse na bilheteria) é de fato o único ponto fraco da produção, tanto comercial quanto narrativamente. Mas estou me adiantando aqui. Primeiro é preciso dizer do que se trata esta sequencia do ganhador do Oscar de animação de 2019.

Algum tempo depois dos eventos de Homem-Aranha no Aranhaverso, Miles Morales (voz de Shameik Moore) segue tentando equilibrar sua vida adolescente com as responsabilidades de ser um super-herói. Até que "um violãozinho da vez" aparece com uma habilidade capaz de rasgar o tecido da realidade e destruir todo o multiverso. Uma força tarefa de homens, mulheres e criaturas aranhas se reúnem para tentar manter a ordem nos mundos. Mas Miles não é bem vindo entre eles!

É essa relação entre os vários aranhas, e principalmente os paralelos entre as jornadas de Miles e Gwen Stacey (Hailee Steinfeld), que guiam os rumos deste segundo filme. Chegando até à, sabiamente, deixar o vilão de lado em muitos momentos. Sua ameaça permanece e evolui fora de cena, enquanto nós e o protagonista compreendemos a expansão e complexidade desse universo aranha. Os desafios, e sacrifícios pelos quais todo cabeça de teia invariavelmente passará. 

Questionar esse suposto destino imutável, e supostas verdades estabelecidas, e a culpa oriunda destes eventos estão entre os principais temas discutidos aqui. Ao mesmo tempo em que explora a relação com a família, outro paralelo bem estabelecido entre Miles e Gwen. Embora no caso dela, este arco tenha de fato um desfecho ainda neste longa. A moça tem muito mais destaque nesta aventura que na anterior, quase dividindo seu protagonismo. De qualquer forma, são dois adolescentes que estão vendo o mundo da mesma forma, ainda que não sejam do mesmo mundo. 

Se discussões ricas e complexas são pouco pra você, o longa ainda conta com uma profusão de referências e personagens nunca vista antes. Alguns retornos do filme anterior, mas a maioria versões novas e inusitadas do aracnídeo, para desafiar até o mais dedicado fã. 

Acompanhando este crescimento, tanto em variedade de personagens, quanto em escopo e ousadia, a produção segue explorando e descobrindo recursos com uma liberdade que apenas a animação proporciona. Se no filme anterior, quadros, interjeições, texturas e mudanças de design impressionavam, aqui tudo isso é elevado à enésima potência. Já que traços, estilos e cores fluem junto com a temática e até os sentimentos em cena. Diferenciando não apenas os diferentes mundos, mas também expressando o que os personagens sentem. 

Seja a melancolia da relação de Gwen com o pai, em um apartamento que se transforma em aquarela diante de nossos olhos, seja o frenesi de uma perseguição em massa em um mundo futurista. Sempre com uma trilha sonora que completa e intensifica esse guia de emoções. Homem-Aranha: Através do Aranhaverso não apenas usa todos os recursos imagináveis, mas consegue fazer com que estes conversem, interajam e se completem, junto com a história que pretende contar.

Riqueza, cuidado e capricho, que nos fazem relevar até o fato de que o filme não conta toda a história. Nos abandonando bem na virada para o terceiro ato. O que seria compreensível com um filme mais curto, anunciado como uma "parte 1". Mas para um filme de mais de duas horas, e que foi vendido como uma história completa, pode frustrar alguns. 

Outro mérito do filme, e trazer toda essa evolução narrativa e visual, mas ainda manter a unidade com o primeiro longa. Especialmente se considerarmos que da equipe original, apenas o roteirista Phil Lord está de volta, acompanhado de novos parceiros de escrita. Enquanto a direção fica a cargo de um trio completamente novo, formado por Joaquim Dos Santos,Kemp Powers e Justin K. Thompson.

E já que estou listando nomes, além de Shameik Moore e Hailee Steinfeld, o elenco de vozes ainda conta com Oscar Isaac, Jason Schwartzman, Issa Rae, Daniel Kaluuya, Mahershala Ali, Amandla Stenberg, Andy Samberg e Jack Quaid. Apenas para citar os nomes mais conhecidos, já que a quantidade de personagens é gigantesca, mas não convém enumerá-los aqui para não estragar a surpresa. A versão nacional, traz pequenas participações especiais de youtubers de cultura pop, mas o trabalho pesado é mesmo feito por dubladores profissionais, vários retornando do longa anterior. 

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso é em todos os aspectos surpreendente. Um pouco por seu final incompleto e inesperado, que deve atingir a cada um de maneiras distintas. Mas principalmente pela capacidade de manter a qualidade e a unidade de um longa anterior que revolucionou a indústria. Ainda não posso dizer que supera anterior, entretanto, se o capricho seguir para o filme final da trilogia (o que não duvido), estaremos presenciando o surgimento de um clássico instantâneo, em uma obra de arte da indústria cinematográfica.   

Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (Spider-Man: Across the Spider-Verse)
2023 - EUA - 140min
Animação, Ação, Aventura

Leia também a crítica de Homem-Aranha no Aranhaverso.

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