Nas últimas duas décadas, tivemos nada menos que três encarnações do Homem-Aranha no cinema. Logo, para alguns, pode parecer exagero a chegada de um novo amigão da vizinhança na tela grande. Surpreendentemente, Homem-Aranha no Aranhaverso, traz sim algo de novo que justifique a existência não apenas de mais uma, mas de várias versões do herói.
Miles Morales (voz de Shameik Moore) é um adolescente que vive em uma Nova York onde o Homem-Aranha já é um herói estabelecido e adorado pelo povo. Admirador do herói, ele acaba vestindo o manto do teioso, após ser picado por uma aranha radioativa e presenciar a morte de Peter Parker (Chris Pine). Além de eliminar o herói, plano do Rei do Crime (Liev Schreiber), causa um cataclisma entre dimensões paralelas, e acaba trazendo várias versões do cabeça de teia para o mundo de Morales.
Um Peter Parker (Jake Johnson) mais velho, uma Gwen Stacy (Hailee Steinfeld) que se tornou a Mulher-Aranha, o Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage), o Porco-Aranha (John Mulaney) e Peni Parker (Kimiko Glenn), de apenas 9 anos que além de poderes aracnídeos tem também um robô, se unem à Miles para consertar a bagunça e ajudá-lo a aprender o "ofício". Todos com sua devida apresentação simples, porém eficiente, mesmo para aqueles não conhecem as muitas versões do personagem, ou não está familiarizado com o conceito de multiversos.
Vindos de mundos diferentes, estes personagens tem tons e traços distintos. O Noir não conhece cores, Peni tem traços de anime, Porco-Aranha tem humor e visual no estilo Looney Tunes, estas e outras diferenças são acertadamente usadas em prol da narrativa, e principalmente do humor. A parceria forçada e estranhamento pelo novo mundo, criam situações tanto tensas, quanto engraçadas naturalmente. Há também espaço para pitadas de comédia pastelão, geralmente com o suíno-aracnídeo, e referencias. Muitas referencias! Especialmente relacionadas à trilogia de Sam Raimi, mas também do universo "super-heróico" como um todo.
E já que estamos falando de referências, a tradicional participação de Stan Lee, merece atenção especial pelo tom poético que carrega. Não apenas por ser a primeira participação pós-mortem (é provável que ele ainda apareça em Capitã Marvel, e Vingadores: Ultimato), mas também por sua função mas significativa que as meras aparições anteriores.
De volta ao Aranhaverso, as perdas estão no cerne da maioria dos heróis, o cabeça de teia não é uma exceção. Nesta animação o tema se mantém como, seja pela morte de Peter Parker na vida de Miles, seja pelas perdas pessoais das outras "pessoas-aranha" em cena, ou mesmo por perdas menos literais, como a perda da inocência, ou de um rumo na vida. São estes dilemas que conferem peso à aventura, que apesar de bem humorada não tem receio de momentos mais sérios e dramáticos.
No aspecto técnico, além de fazer personagens de estilos distintos funcionarem em um mesmo mundo, o longa tem identidade própria. O visual de animação tradicional, possibilita a incorporação de texturas e efeitos que remetem à HQ. Virar de páginas, onomatopeias, balões de pensamentos são os recursos mais evidentes. Há também uma textura que simula a impressão no papel, enquanto a fotografia usa coloração como recurso, para acentuar a intenção de cada cena a través da predominância de uma ou mais cores em alguns momentos.
Apesar de toda essa sofisticação técnica e das muitas referências, a produção é para toda a família. A trama não exatamente simples, mas é bem definida, e fui sem dificuldade em um ritmo frenético. As cores e as piadas visuais devem dar conta de prender as atenções dos muito pequenos. E, vale avisar, exite cenas pós créditos.
Uma quarta (aliás oitava se contar os "aranhas convidados") encarnação do Homem-Aranha na telona pode sorar exagero à primeira vista. Mas esta não é a história de Peter Parker, é a de Miles Morales uma pessoa completamente diferente. Além de todos os pontos citados acima, ainda ainda carrega todo o peso da representatividade, ele é um jovem negro de ascendência latina. Não que isso seja um ponto de militância no filme, mesmo porquê diversidade de personagens aqui não falta (alô, porco falante!).
Homem-Aranha no Aranhaverso se faz mais que necessário no universo dos heróis no cinema, ao mostrar há espaço sim para para reinterpretações e reimaginações de velhos conhecidos. Desde que haja um bom roteiro, a abordagem certa e um pouco de ousadia.
Homem-Aranha no Aranhaverso (Spider-Man: Into the Spider-Verse)
2018 - EUA - 117min
Animação, Ação, Aventura
Leia mais sobre o Homem-Aranha!
Postar um comentário