O Urso do Pó Branco

Em uma operação de tráfico que dá errado, uma quantidade absurda de cocaína é perdida em um parque florestal e encontrada por um urso negro. Esta é uma premissa que pode partir para caminhos muitos distintos. O primeiro é o do caso real, que culminou na morte do animal. O segundo, é premissa amalucada deste longa dirigido por Elizabeth Banks.

Um traficante de drogas atira de seu avião uma enorme quantidade de cocaína, mas por causa de um incidente em seu salto de paraquedas não sobrevive para recuperar a droga. Perdidos na floresta, os tijolos atraem a atenção de jovens arruaceiros, crianças, guardas florestais, os traficantes que os perderam, e o policial em seu encalço. Mas é uma grande ursa negra que encontra primeiro, chapada e viciada, ela procura mais do tal pó-branco e destroça qualquer um que atravesse seu caminho. 

Um animal gigantesco, forte, para qual nenhum humano é páreo, completamente fora de si. É isso que o argumento de O Urso do Pó Branco propõe. Perseguições e ataques gore alucinantes, abordados acertadamente com um tom galhofa, irônico e irreverente. É quando esses encontros entre humanos desavisados e o grande predador acontecem, que o longa entrega seus melhores momentos. Isso porque a direção de Banks abraça o trash e o absurdo para entregar sequencias ao mesmo tempo aterrorizantes (quando observamos a feracidade do bicho) e cômicas (quando vemos a forma patética como os humanos encaram esses encontros). 

O problema fica por conta do caminho até esses ataques. Para criar o mínimo de empatia com as vítimas, o roteiro precisa gastar algum tempo apresentando os personagens. O problema é a forma como a produção escolhe fazer isso. Trazendo dramas simplórios, relações rasas, e diálogos sem objetivo. O maior exemplo disso, é o personagem de Alden Ehrenreich. Viúvo recente que é enviado pelo pai chefão do tráfico para esquecer a tristeza com trabalho. O filme nunca decide, se seu luto será abordado de forma patética ou realista, restando ao ator oscilar entre a canastrice e a tristeza. 

Essa indecisão quanto ao tom, se repete ao longo de vários núcleos. Seriam os traficantes perigosos, ou patéticos? Pergunta que também vale para o policial que os persegue. Estaria a mãe em busca da filha em perigo, ou ela é um verdadeiro exemplar de mãe ursa? Ao menos os guardas florestais, e os adolescentes arruaceiros são patéticos do início ao fim. 

Preso nessa atuações despropositadas, está um elenco de peso. Keri Russell vive a mãe que vai a selva sozinha para regatar a filha e o amiginho, vividos pelos competentes Brooklynn Prince e Christian Convery (de Projeto Flórida e Sweet Thooth, respectivamente). Margo Martindale, Jesse Tyler Ferguson e Kristofer Hivju vivem meras caricaturas, assim como Ray Liotta, em seu último trabalho. Isiah Whitlock Jr. e O'Shea Jackson Jr. trazem carisma a personagens que poderiam ser mais, mas o roteiro prefere investir em outros assuntos. 

A fotografia é criativa, especialmente para criar a coreografia de cenas dos ataques. Já o urso em CGI não é dos mais realistas, mesmo assim funciona para a proposta boba do filme. É um animal chapado, tudo bem se ele parecer cartunesco em alguns momentos, de fato a gente até conta com isso. 

O Urso do Pó Branco é inspirado em um evento real ocorrido nos Estados Unidos na década de 1980: urso encontra cocaína perdida por traficantes. Mas a inspiração para por aí, o desfecho do urso real foi bem mais trágico. O animal morreu por ingerir tamanha quantidade de drogas, foi empalhado e está em exibição até hoje. 

Felizmente o filme escolhe um caminho mais criativo bem humorado e positivo (para o urso, não para as vítimas, claro!). E brilha optar por focar em sua estrela peluda e no trash, mas perde o foco e o ritmo quando desperdiça tempo com dramas humanos interessantes. O resultado são pontuais ótimos momento, em meio a longos trechos de espera. Não é um fracasso, mas tinha potencial para muito mais. 

O Urso do Pó Branco (Cocaine Bear)
2023 - EUA - 95min
Comédia, Ação

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