Super Mario Bros.

Levou décadas, mas finalmente o cinema e a TV estão começando a descobrir como levar as aventuras dos videogames para suas mídias. Super Mario Bros. - O Filme é o auge dessa tarefa complicada, surpreendendo pela eficiência de sua simplicidade e autoconsciência.

Os irmãos Mário e Luigi tentam ganhar a vida como encanadores no Brooklin, mas não estão tendo muita sorte no trabalho. Até que em mais um trabalho a dupla é sugada para um reino mágico e separada. Com Luigi capturado pelo malvado Bowser (Jack Black(, Mário embarca na jornada de resgatar o irmão, e para tal une forças com Princesa Peach (Anya Taylor-Joy), que tem seu reino ameaçado pelo mesmo vilão.

Uma aventura bem simples que tem como diferencial sua execução. Ciente de que conversa não apenas com cinéfilos, mas com jogadores, a narrativa assume as etapas de um jogo. Desde sua progressão (desafios seguidos e crescentes, que culminam o grande chefão), passando pelas diferentes eras do jogo, até a experiência de jogabilidade. A sequência em que o protagonista repete por horas o mesmo desafio até superá-lo, nada mais é que o reflexo dos milhões de jogadores que gastaram horas de vida tentando superar uma fase.

As referências completam a experiência ao transpor jogos de diferentes eras. Desde os primórdios de oito bits, quando o cenário corria apenas para os lados, até os gráficos mais recentes e mundos complexos. Tudo que já passou pela franquia está representado de alguma forma em cena. Para encaixar tanta coisa, algumas conveniências e desvios curiosos precisam ser tomados, mas são facilmente relevados em prol do que se espera de uma adaptação de Mário. Em outras palavras, havia jeitos mais práticos de levar certos personagens de um lugar a outro? Sim, havia. Contudo, encaixar uma corrida de Mário Kart ali é muito mais interessante!

Já a construção de mundo, abusa das cores e fofura, apontando que não apenas é fiel aos jogos, mas é uma produção assumidamente voltada para as crianças. O que surpreende, é que ela também converse tão bem com os adultos. Conexão oriunda do fato de Mário estar presente e ser referência para várias gerações. Nos últimos 40 anos, é difícil encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar da franquia. Nem que seja pelo trágico filme de 1993, que era exibido à exaustão na sessão da tarde. Deste aliás ficou apenas a semelhança na origem dos irmãos, que vivem em nosso mundo e são transportados para o Reino dos Cogumelos e "adjacências".

A escolha por repetir a origem do mal fadado live-action, pode parecer uma referência duvidosa, mas a inclusão de um "mundo real" em tela, torna o mundo mágico ainda mais deslumbrantes por meio da comparação. Já os personagens, antes meros arquétipos (o herói, o vilão, a mocinha em perigo, etc...), agora ganham mais personalidade. Ainda simples, é verdade, mas muito mais consistentes que suas versões dos jogos.

Os que mais crescem aqui são Bowser e a Princesa Peach. Ele com objetivos mais complexos e cômicos, do que "apenas ser mal". E ela abandonando o posto de donzela em apuros, para se tornar guia e parceira do protagonista. Quem sai perdendo com isso é Luigi, que assume o posto de "esperar na torre", embora cresça sempre que divide cenas com o irmão.

A dublagem nacional, formato que a grande em que maioria do público vai encontrar o longa, não deixa nada a desejar para o som original cheio de astros. Os nomes famosos dão lugar a um tom de humor certeiro, e uma adaptação bem executada. E por falar no som, a produção traz músicas nostálgicas e vibrantes, mas são as trilhas dos jogos, transpostas para atender ao drama do filme que conquistam. Bem como os efeitos sonoros, que evocam os movimentos dos jogos.

Super Mario Bros. - O Filme é uma aventura extremamente simples, até clichê alguns diriam. Mas é bem construida, executada e extremamente frenética (é sério, talvez alguns prefiram dispensar o 3D, para diminuir o excesso de estímulos em tela). Com os muitos pequenos, conversa através desse ritmo acelerado e fofura, com as gerações seguintes fala através da identificação e nostalgia, com elementos diferentes para cada um. Identificação que compensa a simplicidade e até infantilidade que alguns podem apontar como problemas.

É provavelmente a melhor adaptação de um videogame para o cinema já feita. Resta saber se se sustenta como franquia. Agora que o básico fora bem sucedido, o público pedirá por mais!