Confesso que fiquei decepcionada ao descobrir que o Exorcista do Papa, interpretado por Russell Crowe não executaria um exorcismo em um Papa. Acontece que esta blogueira que vos escreve não sabia que o longa Julius Avery (do bom Operação Overlord), é inspirado em uma figura real, e foi enganada pela dubiedade do título.
Ao invés da ficção mirabolante de um demônio que ousa possuir o mais alto membro da igreja (muito mais útil que possuir crianças, não é mesmo?), a trama se inspira nos arquivos reais do Padre Gabriele Amorth exorcista oficial do Vaticano, logo, do Papa, por décadas.
Amorth (Crowe), cujo sobrenome parece calculadamente escolhido para sua profissão, mas acredite é real, está prestes a ser dispensado pelas alas mais jovens da igreja, que não acreditam na personificação física do mal. Entretanto, ao investigar a possessão de um menino, ele descobre uma conspiração secular gigantesca que o vaticano manteve abafada por séculos.
Reparou que falei pouco sobre o exorcismo de fato na sinopse à cima? Isso porque O Exorcista do Papa não está tão interessado no ato em si, mas na figura que o comanda, e no potencial de franquia que ele carrega. A apresentação de Gabriele Amorth, e a construção de mundo (se é que podemos chamar assim) é o verdadeiro objetivo da produção. À intenção é clara, seguir o exemplo de sucesso do Casal Warren de Invocação do Mal, com uma história que já se mostra maior do que este filme aborda.
Com isso, o exorcismo quase fica em segundo plano, entre as investigações sobre as origens do demônio e a exploração da personalidade do padre. Apesar de dizer o contrário, Amorth parece não ter pressa para expulsar a criatura do corpo do pequeno Henry (Peter DeSouza-Feighoney). Mas tudo bem, já que seguindo a tradição (ou seria clichê?) dos possessores, o demônio não tem pressa em matar ninguém. Usando esse tempo para usar e abusar de truques conhecidos em produções do gênero.
Deformações e mensagens escritas no corpo, levitação, arremessar pessoas contra a parede, se transformar em conhecidos para explorar mágoas e assuntos inacabados, provocar em diferentes idiomas, todos os ingredientes da fórmula estão lá. Organizadinhos, em um crescendo, que tradicionalmente funciona, mas não surpreende.
É o lado mais "Indiana Jones" da investigação (com direito a catacumbas com armadilhas e tudo!), e a personalidade curiosa do protagonista que trazem algum diferencial, que pode garantir o futuro da franquia. Russell Crowe cria um personagem que apesar de lidar com o nefasto e a morte cotidianamente, ainda encara a vida de forma leve e com bom humor. Traço de personalidade que ele inclusive usa, ao lidar com os demônios. O que junto com seu carisma, cria um personagem fácil de simpatizar e acompanhar.
Há também tempo de apresentar o Padre Esquibel (Daniel Zovatto), que pode vir a se tornar parceiro de Amorth em aventuras futuras. E claro, o Papa (Franco Nero) está presente na história, e tem uma conexão curiosa com os eventos do exorcismo. Alex Essoe e Laurel Marsden completam o elenco principal como mãe e irmã do garotinho possuído. À exceção de Crowe e Zovatto cujos personagens tem históricos mais complexos, ninguém precisa oferecer atuações que vão além do que os clichês do gênero pedem. E dentro disso, todos entregam um trabalho satisfatório.
Satisfatórios também são os efeitos especiais e a direção de arte. Novamente, não reinventam à roda, mas atendem às necessidades do filme, que além de toda a parte sobrenatural, ainda exigem uma reconstrução de época razoável da década 1980.
O Exorcista do Papa está longe de ser um filme ruim, mas também não é excepcional. Vai agradar quem gosta de terror e seu sub-gênero de possessão demoníaca. Traz Russel Crowe num papel curiosamente empolgante. E se for bem nas bilheterias, quem sabem as sequencias futuras não tragam a ambiciosa possessão papal que erroneamente imaginei ao ler o título.
O Exorcista do Papa (The Pope's Exorcist)
2023 - EUA - 103min
Terror
إرسال تعليق