O tempo deve passar diferente na Paris de Emily. Afinal, já estamos na terceira temporada da série da Netflix, e continuamos no mesmo primeiro ano de "intercambio profissional" da protagonista na cidade luz. Sem a excitação da novidade, e pouco evoluindo tanto em temas, quanto em dilemas, Emily em Paris começa a perder seu charme e tornar-se cansativa.
Partindo exatamente de onde a temporada anterior terminou, Emily (Lilly Colins) se encontra dividida entre a Savoir agora sob a tutela de Madeline (Kate Walsh), sua chefe estadunidense, e a nova agência a ser aberta por seus colegas de trabalho franceses. Escolha de roteiro que ameniza a grande decisão que a protagonista tomara no final da temporada anterior. E que reflete, o impacto leve dos acontecimentos ao longo da temporada.
Ok, eu reconheço, ninguém está procurando muito drama, ou grandes reviravoltas quando decide acompanhar Emily em Paris. Não é a proposta inicial da série. Entretanto, já em sua terceira temporada, espera-se que a personagem e suas relações evoluam de certa forma, ao invés de ficar apenas se repetindo. O próprio empasse da escolha entre agências é um bom exemplo.
Resolvido logo nos episódios iniciais da temporada, o resultado coloca Emily exatamente na mesma posição em que estava antes: tentando se provar em Paris. Se provar mas as mesmas pessoas, sobre as mesmas capacidades, inclusive no mesmo lugar. Mantendo o conforto do statuos-quo, mas perdendo em engajamento, já que não há sensação de risco ou consequências.
Uma novidade que tira um pouco desse conforto e previsibilidade é ouvir mais o francês. O idioma já estava presente antes, mas agora com os personagens parisienses mais desenvolvidos, e a divisão entre agências o ouvimos muito mais. Afinal não faz sentido dois franceses conversando em outro idioma.
O padrão se reflete na vida amorosa, com as mesmas tensões entre a protagonista, o cozinheiro (Lucas Bravo), a namorada Camille (Camille Razat) e alguns novos pretendentes. Ao menos o clichê de colocar as moças como rivais por um homem, escolhido para a segunda temporada, foi abandonado. Retornando à uma relação mais madura e complexa entre as duas. Sim, elas estão em uma dança complexa de relações, mas o objetivo é encontrar a felicidade, não derrotar a parceira.
Personagem favorita dos fãs, Mindy (Ashley Park) tem um pouco menos de espaço que no ano anterior, mas sua jornada própria ainda se destaca sobre os demais coadjuvantes. Sim, outros personagens tem seus próprios dilemas, alguns até sem relação direta com a protagonista. Mas são arcos curtos, que parecem ter a intenção de manter em cena personagens recorrentes. Tornando paris um ovo, já que todas as pessoas que Emily conhecem parecem ter negócios umas com as outras.
Entretanto nada é mais cansativo e repetitivo que a constante boa sorte de Emily. Já que a moça é bem sucedida em qualquer coisa que faça, mesmo que se trate de soluções óbvias e nada originais. É preciso reforçar, ela trabalha em marketing, com redes sociais, um ramo extremamente concorrido cuja originalidade é tarefa difícil. Mesmo assim, parece que qualquer postagem improvisada da moça é material viral.
Se antes vivíamos através de Emily, compartilhando as experiências de sua vida de sonhos em Paris, agora começamos a duvidar da realidade dessa vida. Ninguém acerta sempre, ou mesmo resolve problemas com tanta facilidade. Novamente, resultado da falta de consequências e da repetição de temas.
Finalmente chegamos a outro aspecto marcante da série, os figurinos. E sim, eles continuam elaborados e criativos. Entretanto, desde a temporada anterior há um exagero crescente nos figurinos da protagonista, em particular. Fazendo leigos como nós, constantemente se perguntar: será isso é bonito mesmo? Ou é só graça de fashionista para chamar atenção?
Por fim, a Paris romântica e instagramável está de volta, do jeitinho que conquistou o público nas temporadas anteriores. E sim, Lilly Colins continua carismática apesar da pouca evolução de sua personagem. O resultado é uma temporada confortável para quem procurava apenas a familiaridade dos anos anteriores.
Particularmente, achei a terceira temporada de Emily em Paris repetitiva e cansativa. Com os personagens correndo em círculos com os mesmos problemas e dilemas, disfarçados com uma roupagem nova. Viver com Emily em Paris ainda é agradável, mas tá na hora da série começar a evoluir e correr riscos. Se reinventar como as ideias de marketing da moça volta e meia propõem.
Cada temporada de Emily em Paris tem dez episódios com cerca de meia hora cada, todos já disponíveis na Netflix.
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