A agenda de Pantera Negra: Wakanda para Sempre é enorme! O filme precisa dar sequencia à história iniciada no longa de 2018, apresentar ao menos dois personagens que terão grande destaque no futuro do MCU, lidar com a morte de Chadwick Boseman e definir os rumos de Wakanda e a nova identidade do herói título. Sim, é muito trabalho, mesmo para um filme com quase três horas de duração.
Nada de paz para o reino de Wakanda pós Ultimato, logo seu governante adoece, e apesar dos esforços e toda a tecnologia, ele não sobrevive. É assim, com uma despedida emocionante à T'Challa, e consequentemente à Boseman, que o diretor e roteirista Ryan Coogler decidiu honrar o legado do amigo. As lutas de interprete e personagem se assemelham aqui, e suas perdas permeiam todo o filme, seja na reverência feita à ambos, seja na forma como os personagens reagem e seguem suas vidas à partir dali.
Com todo o reino ainda abalado pelo luto, uma nova ameaça surge das profundezas, literalmente! Namor (Tenoch Huerta) surge do reino submarino de Talocan exigindo posicionamento de Wakanda em relação as investidas do mundo para obter vibranium. Cabendo à Rainha Ramonda (Angela Bassett), Shuri (Letitia Wright) e Okoye (Danai Gurira), lidar com a situação, o que inclui proteger uma cientista estadunidense, e compreender este novo povo, e seu lugar na politica global. Eventualmente, o embate cresce e se complica, trazendo de volta à cena antigos aliados, como Nakia (Lupita Nyong'o), M'Baku (Winston Duke) e o agente Everett Ross (Martin Freeman), e apresentando novos personagens.
Assim como no filme de 2018, uma nova nação e cultura são apresentados aqui, mesmo que não tão detalhadamente, quanto fora a apresentação de Wakanda. A origem e história de Namor e seu povo são apresentados, e alguns vislumbres de seu reino são revelados aqui. Embora não conheçamos outros personagens com nomes, só vemos os Talocan de fato em cenas de batalha, o que é apresentado aqui é suficiente para mostrar uma rica cultura que deve ser melhor explorada no futuro.
A escolha por dar origem a esse povo na América Central constrói um paralelo interessante com os wakandanos. São dois povos não brancos que escaparam da colonização europeia graças às dádivas do vibranium, e por isso tem uma história forte de autoproteção. Mudanças em relação aos quadrinhos que fornecem personalidade, e diferenciam o personagem de seu semelhante da DC, o Aquaman. Além de fornecer a esse núcleo a riqueza temática presente em todo o longa. O roteiro ainda fala sobre comunidade, responsabilidade, legado e luto.
E por falar no luto, este permeia as ações de muitos dos personagens em cena. O afastamento de Nakia, a obsessão pelo trabalho de Shuri, o tom condescendente de M'Baku, e por aí vai. Enquanto a falta de um Pantera Negra tona toda ameaça urgente, e evidencia os muitos candidatos para o cargo. O roteiro dá a todos eles um momento heroico que justificaria seu merecimento ao manto do herói, ainda que à certa altura, comece a ficar evidente quem será escolhido pela tarefa. Apesar de dividir bem o espaço de tela entre os muitos bons personagens, o filme tem sim um protagonista, que se torna o personagem título, ao longo da história. A escolha é coerente e até previsível, mas já que a própria Marvel tentou fazer suspense sobre isso, quem sou eu para revelar o segredo.
Não tão secreta assim, é a introdução da Coração de Ferro. Riri Williams (Dominique Thorne, carismática) é considerada a "substituta do Homem de Ferro", e é bem recente nos quadrinhos. Aqui é peça chave para o andamento da história, e tem uma apresentação eficiente, que a deixa pronta para histórias próprias no futuro.
Com a maioria dos atores retornando para seus papéis, as atuações aqui são eficientes. Os intérpretes conhecem melhor seus personagens e estão mais confortáveis neles, mesmo com a difícil tarefa de incorporar o luto da vida real na ficção. Os destaques ficam com a presença e imponência de Angela Bassett, e as muita nuances que Letitia Wright consegue imprimir em sua Shuri.
Forte e marcante música é, novamente, fator determinante para a reafirmação e construção do universo, que agora inclui o povo de Namor também. Assim como o design de produção que reforça a personalidade ancestral e tecnológica de Wakanda, enquanto cria um novo mundo ancestral para Talocan.
É o figurino que deixa à desejar, se antes criativo e cheio de simbolismos, aqui parece repetitivo e pouco inspirado. Especialmente quando se trata dos trajes heroicos. O uniforme de Pantera Negra, parece apenas atualizar o antigo ao físico de seu novo interprete. Já as armaduras de Okoye e Coração de Ferro, parecem figurinos saídos de Power Rangers.
Outro escorregão da produção são pequenas falhas de roteiro, como impossibilidades geográficas e algumas conveniências. Algumas cenas de ação também são mais longas que o necessário, o que faz muita diferença em um filme com tanto tempo de duração. Esses erros, no entanto, são pequenos e altamente releváveis, diante dos muitos acertos do longa. Muita gente sequer deve notá-los, em meio ao envolvimento que o roteiro consegue criar.
Diferente de outras produções do MCU, o longa não exige que você tenha assistido a duas dezenas de filmes para compreender. Apenas o primeiro Pantera Negra, já é bagagem suficiente. Mesmo assim, há conexões, acenos para o futuro, e até para o passado deste universo cinematográfico.
Pantera Negra: Wakanda para Sempre é acima de tudo uma grande homenagem e despedida à Chadwick Boseman. Mas também a vida que continua após a perda. Traz novos personagens, evolui os antigos, e segue a história daquele povo. Tudo isso com bastante respeito, empatia, e um senso de urgência e envolvimento, que nos prende na cadeira, e faz quase três horas de filme passarem voando.
Pantera Negra: Wakanda para Sempre (Black Panther: Wakanda Forever)
2022 - EUA - 161min
Ação, Aventura, Drama
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