"Um sombrio triller de terror cômico", é assim que o próprio Prime Video descreve O Exorcismo da Minha Melhor Amiga em sua sinopse. Mas, a adaptação do livro homônimo de Grady Hendrix não é sombria, nem cômica e os flertes com o terror são poucos e frágeis. Uma pena, já que a proposta de fazer graça e criar sustos com uma paródia adolescente de filmes de exorcismo era bastante promissora.
Abby (Abby Rivers) e Gretchen (Amiah Miller) são melhores amigas. Depois de uma noite desastrosa em uma casa do lago, a estilosa Gretchen começa a apresentar sintomas e comportamentos estranhos. Enquanto a amiga causa confusão por aí, Abby tenda desvendar o mistério que está por traz da mudança de personalidade da garota.
A transformação de Gretchen é lenta e gradual, passando por um longo e cansativo período de enfermidade, antes da possessão completa. A demora que pode ter uma cadência interessante no livro, aqui apenas arrasta a história. A protagonista roda às cegas procurando uma resposta, mas sem ter todas as peças no tabuleiro. Esse momento até inicia com uma boa discussão sobre vitimas de abuso e a forma como a sociedade lida com elas, mas logo a abandona para voltar a temática demoníaca principal.
Enquanto isso o roteiro escolhe os eventos mais clichês e previsíveis para mostrar os efeitos da possessão no cotidiano das garotas. Desgaste do corpo na fase enferma, sabotagens típicas de patricinhas de colégio, criaturas nojentas e uma estranha obsessão por longas cenas de vômito. Nada que de fato aterrorize, ou seja abordado com algum teor cômico. De fato, algumas sequencias geram no público apenas constrangimento mesmo, especialmente a que envolve um cão.
Quando finalmente alcança a conclusão improvável de que a amiga está possuída, Abby faz as escolhas mais burras que uma personagem pode ter. Não em prol da comédia, o que faria sentido com a proposta, mas com uma ugência e importância que simplesmente não funcionam. A coisa fica ainda mais difícil de aceitar quando estas escolhas sem pé nem cabeça de fato dão resultado.
Admito, à certa altura da projeção comecei a torcer para que toda a história da possessão fosse falsa. As garotas estariam sofrendo simplesmente de "intrigas da puberdade", e da rivalidade de a sociedade impõem entre mulheres. Gretchen estaria apenas sendo cruel mesmo, enquanto Abby torturaria a amiga na tentativa de um exorcismo infundado. Surpreendendo o público e abordando alguns assuntos por novos pontos de vista. Mas não, o filme segue o caminho seguro, e entrega exatamente o que propõe. Incluindo uma mensagem sobre o poder da amizade superando as forças do mal.
Tecnicamente o filme também não entrega grandes feitos. A reconstrução de época é interessante, especialmente figurino, cabelo e maquiagem. E acerta ao não cair na tentação de encher a produção de referencias desnecessárias, as poucas que aparecem fazem parte do cotidiano das jovens, ou estão lá para ajudar a construir a época. Por outro lado, haverá quem acredite que a produção perdeu a oportunidade de emular e homenagear produções do gênero do período. Já a direção de Damon Thomas é bastante convencional, serve à narrativa e apenas isso.
Fiel ou não ao livro que o inspirou, O Exorcismo da Milha Melhor Amiga tinha uma proposta interessante, e potencial para entregar um longa divertido e memorável. Mas a produção parece nunca deslanchar, apostando em escolhas ruins de roteiro, entregando um clímax frágil e pouco convincente. Promete comédia, suspense e terror sombrio, mas não consegue entregar nada disso.
O Exorcismo da Minha Melhor Amiga (My Best Friend's Exorcism)
2022 - EUA - 97min
Terror, Suspense, Comédia
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