Treze Vidas: O Resgate

 Um resgate que se fosse escrito como ficção, grande parte do público certamente apontaria como irreal e fantasioso. Mas, Treze Vidas: O Resgate, é baseado em uma história real recente e acompanhada por todo o globo, tornando impossível acursarmos os roteiristas de exagerar ou apelar para situações impossíveis. 

Em junho de 2018, time de futebol composto por doze meninos e seu treinador ficou preso na caverna Tham Luang na Tailândia, alagada por fortes chuvas na região. Um esforço global foi montado para encontrar e resgatar os meninos, entre eles praticantes de um esporte difícil e perigoso. É o complicado trabalho dos mergulhadores especializados em cavernas que acompanhamos aqui. 

Da busca desesperançada aos meninos, passando pela surpresa de encontrá-los vivos, à percepção da impossibilidade de resgatá-los, até a arriscada operação de resgate, o longa dirigido por Ron Howard retrata com bastante veracidade e sobreidade os eventos, que acompanhamos massivamente pela mídia. E até alguns detalhes só divulgados muito depois. É nesse aspecto que o filme se diferencia de outas produções baseadas em histórias reais. 

Apesar da escolha do ponto de vista dos mergulhadores, não há uma pausa para um construção prévia destes personagens. Muito menos, o ponto de vista detalhado das crianças presas, ou de seus pais agoniados pela espera. Esses elementos são apresentados conforme o resgate se desenrola. E este é história mais que suficiente a ser retratada aqui. 

Assim, é conforme as dificuldades se apresentam que conhecemos o pragmatismo de Rick (Viggo Mortensen), a atitude mais confortadora de John (Colin Farrell). Personalidades opostas que se mostraram cruciais para a realização do trabalho. E os únicos personagens com um pouco mais de desenvolvimento. O foco do filme não é retratar os personagens. É, assim como o objetivo das pessoas envolvidas, resgatar as crianças, a todo custo. O que também impede a produção de cair no clichê do "salvador branco", por escolher os estrangeiros como ponto de vista.

Ao decorrer do resgate também vemos um pouco de política, empasses internacionais, o orgulho militar, religiosidade, o interesse mundial, a difícil tomada de grande decisões, e outros temas que se impõem à situação. O perigo da construção de falsas esperanças, e o dilema ético envolvido na única solução encontrada para retirar as crianças da caverna, são provavelmente as discussões mais interessantes encontradas ali.  Tudo isso, abordado gradualmente, e mantendo sempre com o resgate como linha principal, ao ponto de nem precisarmos aprender os nomes de todos em cena. 

A escolha do ponto de vista do resgate, e não das criança, também cria outro efeito que engrandece o filme. O de nos encontrarmos no mesmo suspense em que o mundo ficou antes de descobrir o que havia acontecido aos meninos, com toda duvida, temor e agonia que isso acarreta. Um feito e tanto do roteiro, considerando que a história foi massivamente coberta pela mídia e aconteceu a apenas quatro anos. Estando ainda fresca na memória de muitos. 

Some-se aí, longas sequencias submersas em um labirinto escuro e desconhecido, e acrescentamos novos sentimentos à projeção. É praticamente impossível não sentir claustrofóbico e sem folego ao acompanhar os mergulhos de mais de sete horas. A sensação de desespero é inevitável. 

A longa duração do filme, é um dos pontos fracos. Entretanto, talvez seja ela um dos componentes que ampliam a sensação de desespero pelo fim da missão. Afinal, se mal suportamos duas horas e meia e tensão e dúvida, imagina os pais que esperaram dezoito dias para ver seus filhos em segurança novamente. 

Experiente, Ron Howard parece percorrer com facilidade o pesadelo que deve ter sido filmar estas sequencias submersas. Com escolhas simples, e sem grande firulas, para atender o melhor possível à uma história que já se passa em um cenário complicado. Além da caverna em si, há a chuva constante, lama, centenas de figurantes, barracas, e todo tipo de obstáculo.

Viggo Mortensen e Colin Farrell fazem a maioria de suas cenas de mergulho, ao mesmo tempo que transmitem o peso da responsabilidade da missão. Outro que carrega bem este dilema é Joel Edgerton, que chega mais tarde na narrativa, mas carrega consigo o conhecimento completo da ética a ser quebrada para que o resgate seja bem sucedido. Vale lembrar, os mergulhadores de cavernas que participaram, não faziam parte de nenhum grupo de resgate. Eram apenas civis, que praticavam o a atividade por conta própria, e se prontificaram a ajudar. 

Sóbrio e oferecendo um panorama geral e bem detalhado do ocorrido, o Treze Vidas: O Resgate reúne em uma grande narrativa a história que acompanhamos avidamente à prestação na época. Evidenciando, propositalmente ou não, o esforço coletivo mundial que o evento mobilizou. 

Curiosamente o salvamento dividiu os noticiários com a Copa do Mundo na Rússia. Um evento planejado para ser uma grande comunhão mundial, que não chegou nem perto da união que o resgate destas crianças promoveu. Uma prova que milhares de pessoas movidas pelo mesmos ideal podem sim executar o que parece impossível. 

Treze Vidas: O Resgate (Thirteen Lives)
2022 - Reino Unido - 147min
Drama

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