Continência ao Amor

Histórias sobre casais que vão de inimigos à amantes precisam, acima de tudo, equilibrar as diferenças e as semelhanças entre as duas partes da relação. Usando as para gradualmente criar um vínculo através de crescimento pessoal pela convivência com o outro. Continência ao Amor, sucesso da Netflix, tem as características necessárias para construir este tipo de história, mas se apressa, apresenta temas demais e não alcança a química necessária para tornar este romance crível.

Cassie Salazar (Sofia Carson) é uma garçonete/aspirante a cantora que luta para conseguir pagar o caro tratamento para sua diabetes. Luke Morrow (Nicholas Galitzine) é um ex viciado que está tentando reconstruir sua vida como fuzileiro. Precisando de dinheiro, ela para os remédios, ele para o traficante, a dupla apesar de não se dar bem, resolve forjar um casamento falso, para receber benefícios extras para casados que a marinha oferece. É claro, entre um conflito e outro, a dupla acaba se apaixonando de verdade.

E põe conflitos nisso! Além do mais óbvio, o casamento fraudulento e todo o teatro para mantê-lo, a dupla ainda enfrenta perda de amigos, ameaça de traficantes, relações de família complicadas, acidentes de guerra, problemas de saúde, suas visões de mundo opostas e até uma inconveniente escadaria para seu apartamento. Mencionei que a produção ainda para algumas vezes para mostrar as canções compostas por Cassie? 

São tantos temas acontecendo nessas duas horas, que nenhum deles é realmente aprofundado, enquanto a construção do romance fica espremida e consequentemente desequilibrada entre eles. A primeira noite do casal é um excelente exemplo disso. Acontece repentinamente, logo no início do casamento falso, antes da convivência (mesmo que a distância), que construiria esta tensão. Aparentemente apenas pela necessidade da produção em incluir uma cena de sexo em algum momento da trama. 

O desamparo do sistema de saúde estadunidense (viva o SUS!), e a fidelidade cega dos militares que nunca questionam as batalhas que lutam, são dois excelentes temas apontados, mas logo abandonados pela produção. A parte militar é ainda mais complicada, já que a produção não se decide entre criticar, ou romantizar a vida do soldado. 

A produção capricha nas escolhas de locações que dão amplitude aos cenários de guerra e alguns shows da protagonista, mas não inova além disso. A direção de Elizabeth Allen Rosenbaum, segue escolhas seguras e conhecidas para este tipo de história. 

Carson e Galitzine bem que tentam, mas não conseguem criar a química de amor e ódio que a história pede com o material que lhes é oferecido. A atriz ainda se esforça na composição e performance das músicas originais do filme. Mas os números musicais longos interrompem o andamento da história, mesmo quando retratam o momento pelo qual a protagonista está passando. O estilo quase sussurrado e bastante arrastado de cantar de Carson, também não ajuda a tornar as músicas empolgantes. Em muitos momentos é até difícil compreender suas palavras. 

Baseado no livro homônimo de Tess Wakefield, Continência ao Amor (Purple Hearts é o título original), tem muitas boas ideias. E este é exatamente o problema, na tentativa de falar de tudo, não se aprofunda em nada realmente. E quem mais sofre com esta escolha é o tema principal: o romance. Falta aquela química que nos faz torcer pelo casal, mesmo que sua jornada seja a mais óbvia e cliché de todas!

Continência ao Amor (Purple Hearts)
2022 - EUA - 122min
Romance, Drama, Musical

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