Boo, Bitch

Medo de ser invisível ou irrelevante ao ponto de ninguém sentir sua falta se você desaparecer. Este sempre foi mais um dos muitos dilemas dos adolescentes. E em tempos de visibilidade ampliada por redes sociais, parece ser uma preocupação ainda mais latente nesta geração. É disso, e de algumas outras coisas, que Boo, Bitch tenta falar. 

Erika e Gia (Lana Condor e Zoe Margaret Colletti respectivamente) são adolescentes comportadas, que passaram toda a adolescência sendo "as invisíveis" do colégio. Faltando poucas semanas para a formatura a dupla decide mudar de comportamento, aproveitar ao máximo os últimos dias de escola e quem sabe construírem uma reputação memorável antes do fim das aulas. O único problema é que uma delas se torna um fantasma logo no início da missão. 

Assumidamente uma comédia adolescente, a minissérie da Netflix abraça a premissa absurda, cria sua própria mitologia e entrega reviravoltas divertidas, especialmente para aqueles sem muita bagagem com mistérios do tipo. Acreditando estar morta, Erika começa a investigar porque continua no plano terreno como se nada tivesse acontecido. Assuntos pendentes, frio incomum, poderes fantasmagóricos estão entre os elementos mais conhecidos na mitologia de fantasmas. Outros porém, são criação própria da série e podem agradar puristas. 

Poder interagir com vivos, sentir necessidades humanas como comer e ir ao banheiro, poder trocar de roupas, se tornar mais forte se for um fantasma de alguém popular (pensando bem, Viva - A Vida é uma Festa traz esta última) são elementos criados apenas para favorecer a história que a série escolheu contar, e podem ou não serem fatos na mitologia da série, quando finalmente todos os detalhes são revelados. 

A história contada aqui é a de uma garota que no "pós mortem", vive melhor do que em vida. Com o tempo contado, e a missão de encerrar assuntos pendentes ascender, Erika finalmente se arrisca a fazer coisas novas, a expressar o que tem vontade e encarar assuntos que vivia adiando.  Mas esta também é a história de alguém que vive seu pior, já que a jornada também inclui a perdição pela fama repentina e a dificuldade de desapegar de coisas terrenas. 

Por último, mas não menos importante, é também sobre a amizade de Erika e Gia. Como uma faz de tudo pela outra, ao mesmo tempo que não percebem os verdadeiros sinais de problema. Erika está tão focada em sua jornada como fantasma, que negligencia o que se passa com a melhor amiga.

Haverá quem não vai conseguir relevar elementos absolutamente necessários para apreciar a comédia. Ninguém nunca encontra o corpo da menina, mesmo que ele cheire mal, e sua decomposição absurdamente lenta (é verão, e a temperatura é um tema constante na série). Ou ainda que nenhum dos muitos coadjuvantes note comportamentos estranhos como falar sozinho, ou ainda o sumiço de uma pessoa por semanas. Quem conseguir passar por cima destes detalhes, e aceitar que estes absurdos fazem parte da intensa perspectiva adolescente, vai conseguir embarcar em uma comédia atual e divertida. 

Outros detalhes que podem incomodar é o fato de todo assunto pendente que as garotas conseguem imaginar estar relacionado à garotos, beijos e bailes. Mas convenhamos é uma comédia adolescente, quaisquer outros temas como futuro, carreira ou conflitos com os pais, poderiam trazer um peso e importância que a série nunca pretendera ter. O erro é esperar que a temática desvie muito do básico clichê adolescente.. 

O público alvo é o jovem, que não apenas tem mais facilidade de lidar com o absurdo, e se identificar com a atmosfera de colégio, mas também vai se surpreender com as reviravoltas igualmente absurdas. Já os mais velhos, e principalmente quem tem mais bagagem com produções como O Sexto Sentido, Os Outros e Clube da Luta, provavelmente vai matar o mistério logo nos primeiros episódios. Continuando apenas pela curiosidade de como o caso vai se resolver e pelo carisma das protagonistas. 

Lana Condor (da trilogia Para Todos os Garotos) e Zoe Margaret (Histórias Assustadoras para Contar no Escuro) tem uma excelente dinâmica juntas, e são o ponto alto da série. Infelizmente os coadjuvantes não as acompanham em carisma, mas entregam um trabalho de suporte a elas eficiente. A dupla protagonista mergulha de cabeça nos absurdos da proposta, e sustentam o bom humor ao longo de seus oito episódios. A comédia brinca com os hábitos adolescentes atuais, os estereótipos de sempre, com clichês de filme de fantasmas e até com a relação entre pais e filhos. 

Boo, Bitch tem uma premissa curiosa, e uma execução de escolhas um tanto quanto absurda. Mas os exageros e as improbabilidades são propositais e assumidas, criando mais possibilidades para o humor. As piadas funcionam, o ritmo é ágil e a dupla de protagonista é carismática. É verdade, dava para tirar muito mais reflexões da proposta, mas a intenção nunca foi essa. Esta é uma minissérie de comédia, e quem estiver disposto a embarcar na brincadeira certamente vai se divertir. 

Boo, Bitch tem oito episódios com cerca de meia hora cada, todos já disponíveis na Netflix

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