Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro


Seres humanos gostam de sentir medo por diversão. Filmes de terror, montanhas-russas, esportes radicais, não faltam opções de riscos calculados para que exercitemos um de nossos instintos mais primitivos em segurança. Dito isso, devo ressaltar este fato não está restrito à idade, a criançada também curte se assustar de vez em quando, adolescentes mais ainda. E este é sem dúvida o público alvo de Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro. O que não significa que os mais velhos não vão tirar bom proveito desta adaptação da série de terror juvenil escrita por Alvin Schwartz.

É Halloween de 1968 na pacata cidade de Mill Valley quando um grupo de adolescentes resolve explorar o casarão assombrado da família Bellows. Lá eles encontram um livro repleto de histórias macabras que logo começam a se tornar realidade. Stella (Zoe Margaret Colletti), Ramón (Michael Garza), Auggie (Gabriel Rush) e Chuck (Gabriel Rush), precisam descobrir as origens efeitos do livro, ao mesmo tempo que tentam escapar de seus maiores medos que ganham vida através do artefato.

É através do livro assombrado que o roteiro conecta vários contos assustadores da trilogia de Schwartz, ao tornar os jovens o centro de cada um deles. Escolha acertada que evita que a produção soe episódica, ao abordar pequenas histórias completamente distintas umas das outras, em paralelo à trama do volume literário macabro. Não se tratam de tramas complexas, mas criativas e com ameaças que percorrem vários motes do gênero.

Fantasmas, entidades, criaturas, maldições, casas assombradas, cadáveres, insetos, vudu, malfeitores humanos, hospital psiquiátrico, perseguição em milharal, tem um pouquinho de tudo nesta produção dirigida por André Øvredal, com a produção de Guillermo del Toro. À primeira vista, esse excesso de elementos pode parecer falta de foco ou uma combinação de clichés, mas na verdade trata-se de um curioso catálogo. Uma grande vitrine das opções disponíveis ao gênero do terror, funcionando com uma espécie de apresentação para o público jovem que o filme tem como alvo.

Já a presença de del Toro, garante a estética dos seres, que trazem muito do estilo do diretor, mas também bebem nas ilustrações de Stephen Gammell, para as primeiras edições do livro. Apostando mais nos efeitos práticos, bem combinados com as poucas inserções em CGI, as criaturas aterrorizam e enojam por seu design bem pensado, sem precisar apelar excessivamente para vísceras e sangue. Uma pena que a fotografia escura, combinada com a necessidade patológica que personagens de filmes de terror tem de andar no escuro, atrapalhem um pouco a apreciação dos detalhes.

Com cada conto de terror devidamente calibrado e distribuído ao longo da projeção, cabe voltar os olhos para o conto maior que conecta todos. Focado na aspirante a escritora Stella, a trama relacionada ao livro é eficiente, tanto em conectar as histórias, quanto em abrir espaço para sequencias. Afinal o volume mostrado em cena, tem muitas histórias não contadas e páginas em branco, enquanto a trilogia literária mais de setenta contos.

Para os já iniciados no entanto, o roteiro pode soar simplista demais, já que apresenta bons conceitos, mas o explora apenas o necessário para extrair um pavor mais imediato da platéia. Eu acompanharia facilmente mais momentos curiosos dentro da mansão Bellows, ou adoraria mais informações sobre o destino das vítimas. Mas, a produção e o livros, sao inspirados em histórias passadas de forma oral, e nelas raramente há este nível de aprofundamento. Logo a escolha é coerente com a proposta.

O elenco jovem é bastante eficiente em seus papéis, com destaque para Zoe Margaret Colletti, que consegue carregar o protagonismo do filme com facilidade e boas escolhas. Repare como Stella tenta esconder uma leve empolgação e curiosidade quando os fenômenos sobrenaturais começam a acontecer, antes da coisa ficar mortal e a culpa por acontecimentos presentes e passados tomarem conta da garota. Adultos não são as criaturas mais presentes, ou mesmo prestativas neste tipo de produção, mesmo assim o filme conta com boas aparições de Dean Norris, Gil Bellows e Lorraine Toussaint.

Este é um terror voltado para o público juvenil, a classificação estária brasileira é 14 anos. Enquanto a molecada se apavora, o público com mais bagagem deve se divertir com os pequenos sustos, produção caprichada e a história bem amarrada, e a nostalgia de uma época em que este tipo de produção os faria passar noites em claro. Sustos, suspense, ojeriza para iniciar os novatos e entreter os veteranos, é Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro oferece e entrega satisfatoriamente.

Histórias Assustadoras Para Contar no Escuro (Scary Stories to Tell in the Dark)
2019 - EUA - 111min
Terror

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