Mãe e muito mais

Após anos de comédias românticas estereotipadas e de padrões impossíveis, o cinema descobriu as suas mocinhas podem alcançar um final feliz por ela mesma, sem a interferência de um "príncipe" encantado. Mas e quando o rapaz que ocupa o centro de sua vida não é um par romântico, mas um filho? Mãe e muito mais vem ocupar esta lacuna, e mostrar que apesar da importância da maternidade da vida das mulheres, mães também pessoas antes de qualquer coisa.

Carol (Angela Bassett), Gillian (Patricia Arquette) e Hellen (Felicity Huffman) tornaram-se amigas a partir da amizade entre seus filhos, e agora enfrentam juntas uma severa crise de ninho vazio. Quando seus filhos esquecem mais uma vez o dia das mães, o trio parte em uma missão para retomar sua importância na vida dos rebentos. É claro, a tarefa muda no meio do caminho, além de redefinir sua relação com sua prole, elas reanalisam sua amizade, e suas perspectivas individuais.

Entretanto, não espere por um drama existencial complexo, este filme é assumidamente uma comédia. E é através do humor que a produção mostra dilemas reais deste outro momento na vida de uma mulher. Um humor inteligente, atual e eficiente. Enquanto as produções com protagonistas "jovens" tentam mostrar como superar a exigência da sociedade pelo romance perfeito, este filme vem provar que existe vida após a tarefa que muitos consideram a mais importante na vida de uma mulher. Importante sim, mas não é a única coisa que ela pode almejar.

O sentimento de estar sendo inconveniente no cotidiano dos filhos já crescido, ou mesmo desnecessária em sua vida, a descoberta de que não há idade para se sentir atraente ou para se divertir da forma que bem entender, aprender a desapegar de relacionamentos passados, e descobrir objetivos de vida, estão entre os desafios enfrentados por Carol, Gillian e Hellen, através e situações cotidianas e divertida. Afinal, quem nunca fora pego pela mãe fazendo algo que não devia? Ou mesmo reclamou de sua intromissão ao mesmo tempo que aproveitava os prazeres de sua presença? Seja você mãe, ou apenas filho, é difícil não se relacionar com algumas destas histórias.

Além de situações comuns à maioria do público, é seu carismático trio de protagonistas quem conquista a empatia o espectador. Veteranas experientes Bassett, Arquette e Huffman acertam no tom que mistura humor e drama. Apesar de estarem fazendo graça, seus sentimentos são para lá de verdadeiros e evidentes nos momentos mais dramáticos, humanizando as personagens e evitando que caiam na caricatura. A química entre elas também funciona, apresentando uma autentica amizade de longa data, que já foi além das circunstancias que as uniu. Se você tem um grupo de amigas antigas vai notar, é exatamente assim que agimos quanto reunidas.

Seus filhos não tem intérpretes tão brilhantes, mas funcionam. Sinqua Walls, Jake Hoffman e Jake Lacy, cumprem o que o roteiro exige deles, criado uma galeria de filhos distintos, para evidenciar a diversidade da experiencia da maternidade. Já a amizade deles não é tão crível quanto as de suas mães, já que vemos os três juntos apenas em um par de cenas, e seus dilemas são tratados separadamente. Se foi a amizade deles que as apresentou, agora é a delas que mantém todos conectados.

O longa é baseado no livro O Que Te Faça Feliz de William Sutcliffe. E é a estreia na direção de Cindy Chupack, roteirista conhecida por assinar episódios de Sex and the City e Mothern Family, que também colaborou com o roteiro desta adaptação.

Loucuras cometidas no calor do momento, bebedeiras, festas, ressacas, makeover, brigas e reconciliações, Mãe e muito mais tem tudo que as atuais comédias de empoderamento feminino tem, e muito mais. Assim como seu título, Otherhood ("Outraidade"), brinca com a palavra "Motherhood" (Maternidade), esta produção da Netflix, se diverte de forma honesta e inteligente com o cotidiano e desafios daquelas que já foram mães, e agora podem ser o que bem entenderem.

Mãe e muito mais (Otherhood)
2019 - EUA - 100min
Comédia


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