Obi-Wan Kenobi

A jornada do mestre! Quase vinte anos, e muita experiência separavam o Obi-Wan de Alec Guinness e o de Ewan McGregor. É este hiato, e a evolução do personagem nesse período que a nova série de Star Wars para o Disney+ se propõe a explorar. 

Cerca de dez anos após os eventos de A Vingança do Sith, e nove antes de Uma Nova Esperança, encontramos Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor) recluso, cansado em sem esperança em Tatooine. Observando e protegendo Luke (Grant Feely) à distância, enquanto se mantém escondido dos inquisitores do Império. Sua rotina é interrompida por um pedido de ajuda de um velho amigo. Ele precisa resgatar a Princesa Leia Organa (Vivien Lyra Blair).

É claro, neste processo ele vai recuperar a esperança, fazer descobertas sobre um velho amigo e reencontrar seu caminho como mestre. Em outras palavras, se encaminhar para o status em que o encontramos no episódio quatro da franquia. Preso tanto pela história pregressa, quanto pela futura, o roteiro encontra meios de construir esta jornada de forma coerente e simples. Apostando mais na nostalgia e em seu personagem título, que na expansão do universo.

Logo, faz sentido que a jornada seja motivada por Leia, e não Luke. Justificando acontecimentos futuros onde a moça acredita que o mestre seja "sua única esperança", enquanto para o jovem, nosso protagonista é apenas "o velho Ben". Mas é a relação entre Kenobi e seu antigo pupilo Anakin/Darth Vader (Hayden Christensen), a que realmente transforma o protagonista. O embate final entre os dois, finalmente coloca motivações e posicionamentos no ponto que encontramos os personagens em Uma Nova Esperança, através de uma cena que brinca com as cores das luzes dos sabres, a dualidade de Anakin e traz falas precisas.

Fã assumido da franquia, e conhecendo muito bem seu personagem McGregor entrega todas as camadas e diferentes nuances de seu personagem. Desde o cansaço e falta de propósito de seu estágio inicial, passando pelo receio de retornar a ativa, o choque de grandes descobertas, a sensação de incapacidade e consequente o temor de ser insuficiente, até a redescoberta de seu propósito e a restauração da esperança. Mudança alcançada através de diversos encontros e relações bem escolhidas. Obi-Wan finalmente está conhecendo o mundo que o Império criou, encontrando pessoas pelas quais vale a pena lutar, e outras dispostas a encarar a luta. 

É com Leia a dinâmica mais eficiente e acertada. A pequena Vivien Lyra Blair acerta na intensidade, determinação e atrevimento da princesa, mostrando que a personagem já trazia suas principais e cativantes características desde o berço. A força de Padmé, é inclusive referenciada aqui. Há também tempo para observar as diferentes personalidades que movem a rebelião, o líder (O'Shea Jackson Jr.), a guerreira inspiradora (Indira Varma), o guerreiro improvável (Kumail Nanjiani), e por aí vai. 

 
Quem fica um pouco atrás é Hayden Christensen. Com poucas cenas fora do figurino de Vader, e com a voz de James Earl Jones, é fácil esquecer que o ator retornara ao papel. Tão pouco há possibilidades para que ele entregue grandes atuações. Embora Anakin tenha sua própria obsessão e dualidade a serem trabalhadas. Sua participação tem mais efeito como oportunidade para os fãs radicais se desculparem e redimirem da péssima aceitação que tiveram com o interprete no passado.

Outra personagem que tem um arco bem definido é a inquisitora Reva (Moses Ingram). A Terceira Irmã tem sua jornada pessoal de sobrevivência,vingança, falha e busca de um novo propósito. E pode ter um futuro promissor na franquia, se o ódio infundado direcionado a ela não atrapalhar. Há quem ache que a personagem soa caricata e exagerada. A estes eu relembro, esta é uma franquia que veste seu vilão em manto negro, mascara fria e voz imponente. Sutileza não é exatamente o tom da série. É com Reva também que aprendemos um pouco mais sobre os inquisidores e toda a caça aos Jedi que sobreviveram à Ordem 66. Conteúdo inédito para quem só acompanha a franquia através dos live-actions.

E por falar em tom, Obi-Wan Kenobi tanto referencia, quanto se aproxima do episódio quatro em estética, formato e soluções narrativas. Mais uma maneira de criar uma transição entre os Kenobis de McGregor e Guinness. Entretanto, para audiência de hoje algumas escolhas de roteiro podem soar pouco críveis, como esconder alguém sob seu casaco e ninguém notar. Ou ainda extremamente convenientes, como usar comunicadores em uma missão secreta, e enviar mensagens com nome e endereço de seus segredos, apenas para facilitar o trabalho do vilão. Sim, são escolhas questionáveis para os padrões de hoje, mas bem familiares ao filme de 1977. E principalmente, distante dos episódios um, dois e três dos quais McGregor participa. Toda a série parece trabalhar esta transição da complicada política galática dos prequels, para o cenário mais simples de bem versus mal da trilogia clássica.

Tecnicamente a série segue a qualidade estabelecida por The Mandalorian e O Livro de Boba Fett. Embora tenha menos alienígenas e criaturas práticas a serem apreciadas. Os pontos fortes ficam na recriação da casa de Luke em Tatooine e o primeiro grande vislumbre em live-action, e muito CGI, de Alderaan, planeta em que Leia cresceu.

Padawan, mestre Jedi, general, ermitão, mestre sábio... Agora conhecemos todos os estágios e o caminho que levou Kenobi do jovem aprendiz do episódio I ao fantasma da força do VI. Obi-Wan Kenobi é a minissérie que completa a jornada do mestre. E como bônus também apresenta um pouco mais do cenário entre filmes, a jornada de Vader a vilão implacável, e as sementes da rebelião, inclusive em Leia.

A produção conhece bem seu espaço e papel na franquia, entrega o que se propõe, uma história de evolução bastante intimista. Pode não ser a jornada épica que o fã mais radical imaginou, mas com certeza é a jornada que seu protagonista precisava.

Obi-Wan Kenobi tem seis episódios com cerca de uma hora cada. Todos já disponíveis no Disney+!

Leia mais sobre Star Wars. E confira também as críticas de The Mandalorian e O Livro de Boba Fett.

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