Amor & Gelato

Faltou amor, e faltou gelato! É essa a sensação que temos ao final de Amor & Gelato, filme Netflix baseado no romance homônimo de  Jenna Evans Welch. Uma produção, que segundo os fãs do livro não adapta fielmente a obra. E que também não pouco consegue conquistar o público por conta própria.

Após passar a adolescência reclusa entre os estudos e acompanhar a mãe no hospital, Lina (Susanna Skaggs) se vê sozinha no mundo, e com o último desejo da mãe a ser atendido. Viajar sozinha para a Itália e ter uma grande jornada de amadurecimento e auto descoberta, seguindo seus passos. Inclua aqui os primeiros interesses amorosos, e a descoberta da identidade de seu pai.

Sim, você já viu este filme algumas vezes. É uma comédia romântica com temáticas adolescentes, proposta já bastante explorada. E que, quando bem feita, sempre conquista uma legião de fãs. Mas Amor & Gelato está longe de conseguir fazer o básico no gênero.

À começar pela construção de personagens. Rasos e caricatos, é difícil se identificar e, consequentemente, torcer por eles. Da melhor amiga sem limites, aos pretendentes opostos (o bad boy rico versos o bom moço pobre), todos interpretados de forma burocrática e sem carisma. Veja bem, personagens caricatos em comédias românticas são mais que comuns, mas eles precisam ser simpáticos o suficiente para que relvemos suas poucas camadas. 

Nenhum personagem porém, é mais problemático que a protagonista. Conduzindo a história, Lina, uma adolescente em luto, poderia gerar empatia simplesmente pelo momento delicado por qual está passando.  Mas o roteiro decide transforma-la em uma jovem assustada, reclamona e conformada. A personagem realmente não quer viver a experiência que a mãe propõe, mas não desiste, tão pouco aproveita. É apenas levada pelos acontecimentos. Estes, obviamente, mais convenientes e idealizados o possível. 


Sim, eventos convenientes e idealizados também são lugar comum em romances açucarados, mas estes também precisam ser construídos com uma certa cadência e construção. Além de assumir sua atmosfera lúdica e improvável. Aqui a mocinha passa por uma série de encontros desconexos, e cenas burocráticas. Lina chega em Roma, fica deslumbrada, vai a uma festa aleatória, conhece pretendente A, encontra descompromissadamente pretendente B, e por aí vai....

E por falar nos pretendentes, existe sim uma tentativa de dar mais estofo a estes rapazes. Mas novamente os temas são clichês, as discussões rasas e as soluções preguiçosas. O "pobre menino rico" Alessandro (Michele Favaro), não quer seguir os planos do pai para seu futuro. Mas, além de se rebelar e fixar na primeira garota que encontra, não faz nada quanto a isso. Tão pouco o roteiro dá um desfecho à sua história. Já Lorenzo (Tobia De Angelis) precisa deixar a timidez de lado, e perseguir seu sonho de se tornar um grande cozinheiro. Seu empasse serve mais à protagonista, que a ele mesmo. 


A mocinha por sua vez, encara seus dois primeiros romances simultaneamente, e escolhe a si mesma como desfecho deste triângulo amoroso, em uma tentativa de transformar a história em uma jornada de amadurecimento e superação. A lição de se valorizar primeiro é boa, mas a execução, com direito à tradicional cena de correria até o aeroporto, é apenas boba. Abandonar um pretendente e correr alucinadamente pela cidade para - surpresa! -  dispensar o outro.

A tentativa de criar um paralelo ente a viagem da protagonista, com a que sua mãe fizera anos antes, através de seu diário também não funciona. Uma vez que divide atenções com o romance e os pequenos arcos incompletos dos rapazes. O mesmo vale para o mistério em relação a identidade do pai. O roteiro quer dar atenção a tantas coisas, que acaba não falando bem de nenhuma. 

Sem um bom material para trabalhar, o elenco não consegue entregar nada além do básico. E muitas vezes peca demais pela caricatura. Design de produção e figurino não conseguem conferir personalidade ao longa, ou aos personagens. Nem sequer as belas locações italianas são bem aproveitadas pela direção pouco inspirada de Brandon Camp, que também assina como roteirista.


Independente da fidelidade ou não com a obra original, Amor & Gelato se vendeu como um romance leve e gostoso de assistir, com belas paisagens e gelatos deliciosos para adoçar a jornada. Mas entregou uma tentativa de jornada de autodescoberta e amadurecimento, rasa, clichê e desconexa, habitada por personagens sem carisma. Incapaz de gerar empatia, envolver, ou mesmo nos fazer desejar um sorvete  pós sessão!

Amor & Gelato (Love & Gelato)
2022 - EUA - 110min
Comédia romântica

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