Red: Crescer é uma Fera

Ficar obcecado com algum produto da cultura pop, se identificar mais com os amigos que com a família, ter seus primeiros interesses amorosos, encarar o despertar da sexualidade e as mudanças corporais, entrar em conflitos com os pais... que atire a primeira pedra, quem não passou por nada disso na adolescência! Independente de gênero, e ouso dizer, até de geração, não há quem não tenha passado por ao menos um destes "estágios" enquanto crescia. É por isso, que Red: Crescer é uma Fera, vai alcançar qualquer um que esteja disposto a realmente assistir o filme.

Meilin é uma adolescente sino-canadense que no auge de seus treze anos, começa a se interessar por coisas que estão além dos planos que sua tradicional mãe fez para sua vida. Tudo fica ainda mais complicado, quando uma nova condição surge. A jovem se transforma em um panda vermelho gigante, sempre que enfrenta emoções mais intensas.

Hora de tirar o grande panda vermelho do meio da sala!  Red: Crescer é uma Fera é sobre a puberdade de uma menina de 13 anos, com direito metáforas nada sutis ao período menstrual, entre outros temas. O que parece assustar parte do público masculino de alguma forma. A suposta falta de identificação, no entanto, nada mais é do que a soma de um tabu enraizado em nossa sociedade (sério, 2022 e ainda não podemos falar de menstruação?), e a falta de empatia, de um público que sempre teve histórias protagonizadas por seus semelhantes. A estes, falta um pouco da mesma boa vontade que tiveram, ao se identificar facilmente com carros, insetos, brinquedos, monstros.... 

Afinal, não é apenas do protagonista que se trata, mas de sua jornada, os questionamentos e temas que ela levanta. E a história de Meilin, não apenas fala de questões de amadurecimento comuns à todo, como apontado parágrafos acima, mas também de identidade cultural, conflitos de gerações, visões de mundo, respeito às tradições, família e amizade. Temas mais que suficientes para que qualquer um consiga se identificar, se não pelos olhos da protagonista, pelos de outros diversos personagens em cena. Discussão esclarecida? Voltemos à nossa programação normal.

Red é a estreia na direção de Domee Shi, primeira mulher a dirigir sozinha um longa do estúdio, e que já recebeu um Oscar pelo excelente curta Bao, que já falava sobre a relação de mãe e filho. Aqui este tema retorna, com foco na fase da construção da independência e individualidade da protagonista, e a dificuldade dos pais em aceitar esta nova fase. Bem como as expectativas de uma família tradicional chinesa, em contraponto com a nova geração, criada no Canadá sob novas perspectivas e visões de mundo. 

O roteiro usa muito bem o panda, como a representação de toda a confusão e excitação de adentrar em uma nova fase na vida. Compreendendo bem como esta condição deveria ser encarada por sua jovem protagonista. Logo Meilin, descobre como esta condição pode ser incorporada em sua vida, mesmo que de forma irresponsável em alguns momentos. Alcançando ao longo da jornada a compreensão de que talvez, estes monstros que fazem parte de todos nós, não devam ser totalmente reprimidos. Lição que compartilha com toda a família.

Sua mãe por sua vez, encara uma jornada própria. Enfrentando os sentimentos reprimidos por uma vida toda. E compreendendo, que repassava para a filha, todas as cobranças e rigidez que ela também encarou de sua mãe. 

Os demais personagens atendem a estereótipos, mas mesmo sendo menos complexos atendem bem a narrativa. Como as amigas de personalidades distintas e unilaterais, o pai compreensivo e a avó exigente. Curioso perceber, que embora existam momentos de antagonismo, a produção não necessita de vilões propriamente ditos para desenvolver sua história. Crescer já é desafio suficiente.

Ambientado em 2002, o filme cria um retrato fiel da adolescência da época. Ainda não tomada pela internet e celulares, um tempo de CDs, bichinhos virtuais e boy bands. Garantindo nostalgia imediata, para determinada geração. 

Já os pequenos, que ainda não tem a "bagagem" para se identificar com os dilemas da adolescência, serão pegos pelas boas piadas físicas, e o visual vibrante que flerta com características de animes. Além claro, do enorme e adorável e extremamente fofo panda gigante em cena. Tudo com a já esperada qualidade técnica da Pixar.

O trabalho de vozes traz excelentes trabalhos nas versões original e dublada. Sandra Oh, Rosalie Chiang, Maitreyi Ramakrishnan, Wai Ching Ho, James Hong e Jordan Fisher, estão entre os nomes conhecidos em inglês. A versão nacional, ganhou vozes de Flávia Alessandra, Rodrigo Lombardi e Ary Fontoura.

Red: Crescer é uma Fera é a primeira animação do estúdio a tratar a puberdade de forma tão direta e honesta, sem perder o bom humor e sua tradicional doçura. No final das contas, o longa nada mais é que a boa e velha jornada de amadurecimento. Apimentada com conflito de gerações, e um pouquinho de "magia metafórica". Tudo isso com o jeitinho Pixar de contar histórias, abraçando todos os públicos, sem subestimar os pequenos, nem negligenciar os pais que acompanham os pequenos.

Red: Crescer é uma Fera (Turning Red)
2022 - EUA - 100min
Animação, Aventura, Comédia

 Red: Crescer é uma Fera foi lançado diretamente no Disney+!

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