Noite Passada em Soho

Música, fascínio, suspense e mistério. Noite Passada em Soho, novo longa de Edgar Wright explora o máximo e o melhor das possibilidades que seu argumento oferece, em uma jornada enérgica e angustiante. 

Eloise (Thomasin Mckenzie), jovem estudante de moda se muda para Londres, e lá consegue visitar sua época favorita enquanto dorme. Nos anos de 1960, acompanha a vida noturna da deslumbrante aspirante a cantora Sandy (Anya Taylor-Joy). Mas o que originalmente seria um sonho, logo se torna pesadelo quando a vida da cantora se mostra mais complicada do que parece.

A mudança de uma jovem sonhadora do interior para a cidade grande, e os empecilhos da mudança de ritmo e das diferenças culturais, já foi contado e recontado várias vezes no cinema. É o viés sobrenatural que vai dar a este longa seu algo à mais. Eloise tem habilidade de ver coisas, e isso leva o choque à realidade cruel da metrópole à outro nível, uma vez que vai além das dificuldades cotidianas da moça, até a completa desconstrução da imagem romântica de uma era.

O fascínio fica por conta da primeira visita ao passado, com ar de glamour de Hollywood. Visual deslumbrante, montagens e truques de câmera e edição excelentes, que logo determinam as "regras" desta visita. Assim, como a protagonista, ficamos tentados a revisitar este mundo de sonho. Infelizmente, nada acontece duas vezes da mesma forma.

Conforme à idealização de Eloise pelos glamorosos anos 60 no Soho se desfaz, um suspense é construído em uma crescente, até entregar momentos de horror desesperador em seu clímax. Tudo carregado por boas atuações de suas protagonistas, e um senso de estética próprio.

Thomasin Mckenzie carrega boa parte do filme, criando uma protagonista solitária determinada ainda que de voz frágil e trejeitos contidos, tornando imediata a empatia com o público. Já Anya Taylor-Joy transita bem do brilho e glamour da Sandy esperançosa, passando pela quebra da ilusão, até os atos desesperados oriundos da situação insustentável a qual a moça é submetida. 

Matt Smith é outro que transita bem entre extremos de seu personagem. É Michael Ajao que pouco pode entregar, seu personagem soa meio deslocando, funcionando como mera ferramenta quando a trama precisa. Já Diana Rigg entrega uma atuação impecável, em seu último papel. A atriz faleceu em 2020. 

A fotografia assumidamente estilizada, abusa dos neons para nos transportar para outra atmosfera,. Inicialmente a de mistério pela "viagem no tempo", transformando-se gradualmente em apavorante conforme o terror se instaura. A música é outro fator determinante na construção do tom da produção, recheado de músicas da década de 60, cujas letras conversam de forma curiosa com os momentos em que aparecem no longa. 

Como muitas obras de seu diretor Noite Passada em Soho é estiloso e nostálgico. Mas, também é, enervante e aterrorizante. Assim como a protagonista, Edgar Wright nos leva do sonho ao pesadelo sem rodeios, com uma construção bem pensada, e produção caprichada. Em uma das mais interessantes e instigantes produções deste ano. 

Noite Passada em Soho (Last Night in Soho)
2021 - Reino Unido - 117min
Suspense, Terror, Mistério

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