Free Guy: Assumindo o Controle

Transportar grandes franquias dos games para o cinema ainda é um desafio para cultura pop. Entretanto, o hall de filmes sobre "videogames que não existem", tem se saído muito bem ao levar a linguagem e referências do mundo dos jogos para a tela grande. Como comprovado com Detona Ralph, Jumanji e Jogador Nº1. Free Guy chega para ampliar esta lista. 

Guy (Ryan Reynolds) é um NPC (personagem não jogável) de um funcionário de banco no jogo Free City, que começa a desenvolver consciência. O que já é suficiente para revolucionar o mundo do qual faz parte, mas é claro este mundo está ameaçado e Guy é o único que pode salvá-lo, com a ajuda da jogadora Molotovgirl (Jodie Comer).

Desta vez, a história se divide em mundo do jogo e mundo real.  O roteiro bem amarrado, consegue lidar bem com a alternância entre as duas realidades, sem que nossa empatia seja prejudicada em nenhuma delas. Apesar de fictícia, Free City traz personagens pelos quais conseguimos torcer e nos preocupar, potencializando a ameaça à sua existência. Esta por sua vez, conecta a vida de Guy à trama do mundo exterior.

O roteiro também aborda, ainda que superficialmente, questões sobre a natureza da realidade dos NPCs. Se para eles aquele universo é real, quem somos nós para determinar os parâmetros de sua existência, quando nós mesmos não somos capazes de questionar a nossa realidade. Temas bastante conhecidos de fãs de obras como Matrix e Westworld, que aqui são apenas apontados, para espectadores que desejem pensar mais além.

Ryan Reynolds não é tão versátil para criar personagens, mas tem carisma, presença e o tom de comédia perfeito. Ele não traz grandes surpresas, mas cria um personagem altruísta, meio ingênuo de forma bastante verdadeira, além de se sair muito bem nas cenas de ação que misturam piruetas mirabolantes e comédia. A surpresa fica por conta de Jodie Comer, que não apenas acompanha o protagonista nas cenas de pancadaria, como nunca é eclipsada por ele. Além de alternar entre duas versões da mesma personagem, mais contida e preocupada no mundo real, ousada e determinada enquanto no jogo. 

O escorregão no elenco fica por conta de Taika Waititi. É possível compreender a crítica à criadores de startups birrentos da vida real adotada para o personagem, mas a caricatura passou do ponto, soando exagerada e descolada da realidade da qual ele faz parte. 

As cenas de ação se passam majoritariamente em Free City. O que dá a produção liberdade para executar sequencias criativas e mirabolantes, sem perder a credibilidade, já que dentro do mundo dos jogos quase tudo é possível. Garantindo cenas eletrizantes, bem executadas pelo diretor Shawn Levi, que apesar de precisar lidar com muita informação em cena, jamais entrega sequencias confusas ou incompreensíveis.

O principal jogo emulado aqui é GTA, com violência higienizada, afinal é um filme para toda a família. A inspiração contudo não impede que a produção traga outras fontes e referências que vão além do mundo dos games. A maioria delas, easter-eggs bastante eficientes e localizados de forma inteligente para serem "encontrados" pelo público sem tirar a atenção da trama. À exceção fica por conta das referências a produções da Disney que gritam na tela durante clímax, com direito a referencia visual, musica tema e comentários exaltados dos personagens, caso algum espectador absurdamente desatento não as note. Exagero destoante, que talvez seja resultado da compra da Fox pela Disney, enquanto este filme estava em produção. 

Carismático, com bom uso da linguagem dos games, frenético e principalmente divertido. Free Guy, é um dos muitos filmes que foi engavetado pela pandemia. Apesar disso, chega em boa forma aumentando a lista de adaptações bem sucedidas do mundo dos games para a tela grande. 

Free Guy: Assumindo o Controle (Free Guy)
2021 - EUA - 115min
Ação, Comédia, Aventura

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