Virkadaz

Hora de trazer de volta uma antiga parceria! Geisy Almeida companheira do blog DVD, Sofá e Pipoca, resenhou este sci-fi brasileiro juvenil. 

Uma estória que evoca viagens interdimensionais e um mistério: porquê o garoto Zuwi, de repente, consegue atravessar as dimensões e isso se torna um problemão na vida dele? O que tudo isso tem a ver com o seu falecido pai? A trama de Virkadaz, de Renata Dembogurski, parecia promissora e tem muitos elementos que podem agradar ao público juvenil. A execução, porém, acaba sendo um tanto aquém do esperado. O leitor mais acostumado a ler ficção científica certamente irá se identificar com a temática, mas perceberá os pontos fracos de cara. Mas, antes de tudo, vamos a um pequeno resumo do livro.

            Zuwi é um adolescente que, em seu aniversário de catorze anos, inexplicavelmente passa mal durante sua festa de aniversário e consegue viajar para outra dimensão – mesmo sem ter noção do que aconteceu, e muito menos como aconteceu. O fato é que sua experiência (nada agradável, a princípio), gerou uma anomalia na Index (uma espécie de ordem multidimensional) e chamou a atenção de muita gente perigosa: por ser uma rara e poderosa chave entre os muitos plix (dimensões), logo agentes reguladores e o perigoso Mr. Khan desejam obtê-la. Os reguladores para protegê-la; Mr. Khan para finalmente pôr em prática seu plano de dominação da Index.

            Nisso tudo, Zuwi não está sozinho. Ele acabará envolvendo, involuntariamente, seu grupo de amigos na nebulosa trama desenvolvida a partir de um evento sob o qual não tinha nenhum controle. Na tentativa de ajudar o amigo, Fred, Lui e Julie e Lara acabarão convocados pelo misterioso dono da lanchonete Marghour, Llinky, para decifrar as novas possibilidades que o evento causou. Sua pupila, a jovem Anne, não fica muito contente com a solução encontrada pelo mestre, mas verá que os riscos são muito maiores se os jovens capangas de Mr. Khan, Simon e Alexa, conseguirem chegar primeiro à chave e a levarem para seu chefe. Então, mesmo que por caminhos tortos – e com muitos percalços para os dois, Anne e Zuwi terão que correr contra o tempo para evitar que um simples acidente se torne a destruição de tudo.

            Como ponto positivo, creio que o maior mérito da autora é tentar descomplicar conceitos físicos para os jovens. Dito isso, toda a forma como a trama é exposta parece confusa e apressada. Como dito antes, fãs de clássicos de sci-fi sabem que é necessário um tempo maior para assimilar as novidades e também para a ambientação nos novos mundos apresentados. Os capítulos são bem curtinhos, o que leva a uma enxurrada de informação e uma sequência de ações por vezes apressada demais e que dificultam a absorção e entendimento do que se passa. Além disso, incomoda um pouco as novas definições e expressões – é muito mais fácil entender “outra dimensão” que “plix”, até porque ele também se torna um verbo e “plixar” é viajar entre as dimensões – e o falso vocabulário jovem. Esse é um dos maiores desafios de um escritor que se volta para uma audiência tão antenada e em evolução, comunicar-se em seu próprio idioma (e não em como ele acha que os jovens se comunicam). A escrita em terceira pessoa, nessas horas, se revela melhor do que quando lemos o que o próprio Zuwi narra dos acontecimentos.

            Outro ponto que me incomodou bastante foi a escolha quase aleatória dos nomes dos envolvidos e a falta de profundidade nos personagens. Talvez a decisão tenha sido para desapegar os personagens de uma referência cristalizada, uma raiz com nacionalidades já exploradas e situá-los em um “plix” alternativo à nossa realidade, mas isso não é totalmente confirmado – e tampouco é inegável que causa uma confusão extra desnecessária. O fato do vilão ser tão maniqueísta também incomoda muito. Os planos são rasos, as soluções convenientes demais. Personagens são introduzidos sem muita lógica ou tempo para se descobrir mais sobre eles; e então o leitor acaba sendo jogado de uma explicação quase literal de um conceito, à ação urgente onde não há tempo para explicar nada.

            Como na própria Virkadaz imaginada, o livro é um emaranhado de possibilidades – bastava ter acessado a chave correta para fazer dar certo. Mas, assim como seu personagem principal, a autora parece ser levada à ação com pouco tempo ou espaço para a reflexão de propósitos. Mas compreendo também que o produto é voltado para uma geração muito diferente da minha, onde tudo acontece ao mesmo tempo aqui e agora; então talvez faça mais sentido para o público a que se destina. Confesso que teria gostado muito mais de Virkadaz se esse fosse um livro maior, com mais tempo para explorar as minúcias dos personagens e explorar melhor os caminhos que Zuwi precisa atravessar até chegar ao grande confronto com o vilão e, principalmente, com seu passado.

Virkadaz
Renata Dembogurski
Editora InVerso

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