Duna

 Parte 1

Sim, "Parte 1"! Este longa dirigido por Denis Villeneuve aborda apenas metade do clássico escrito por Frank Herbert. Divisão que conta pontos tanto a favor, quanto contra, dependendo de seu ponto de vista. 

Em um futuro distante, a casa Atreides é designada para administrar o planeta desértico Arrakis, única fonte de uma especiaria rara e essencial para seu modo de vida. Inóspito, habitados pelos nativos Fremen e por vermes de areia e muito disputado por sua riqueza, o que gera grandes conflitos com outras casas do império. No meio deste conflito, o jovem Paul Atreides (Timothée Chalamet) parece ter um propósito maior que o imaginado. 

Planetas diferentes, nomes complicados, ordem desconhecidas, hierarquia e políticas complexas, é um novo universo o que Herbert oferece em sua obra mais famosa e cultuada. E este é provavelmente o maior desafio da adaptação de Villeneuve, apresentar este universo para não leitores, sem se tornar extremamente didático ao ponto de afastar os fãs.  É bem no meio desse caminho que este filme parece seguir.

Esta primeira parte de Duna é sim uma grande introdução a este mundo e seus personagens, rico em detalhes e imagens. Ao mesmo tempo, não explica detalhadamente cada aspecto deste mundo, deixando algumas compreensões para o espectador construir conforme a história se desenrola. O que deve agradar bastante os  fãs, mas não constrói um elo tão forte com quem chega a sala de cinema sem referência alguma. 

O ritmo mais compassado contemplativo, também pode afastar os não iniciados. Uma vez que estes não tem ainda bagagem e intimidade suficiente com o conteúdo para apreciar todos os pormenores, por trás destas sequencias mais longas e cheias de simbolismos e significados. Não significa, no entanto, que o grande público vá achar a produção ruim, ou ficar perdido quanto ao que está havendo. Apenas que sua empolgação e comprometimento não vai alcançar o mesmo nível dos fãs da obra. Por outro lado, a produção não tem medo de levar o tempo que precisa para contar sua história da forma que acha apropriada. 

O roteiro bem equilibrado, foca inicialmente na introdução a este mundo, e inclui a ação pontual e gradualmente conforme a história evolui. Bem como a adaptação dos personagens, deixa bem claros seus papéis "no jogo". Timothée Chalamet tem presença para carregar o filme, e apresenta um Paul complexo e cheio de nuances. Embora a postura misteriosa e o tratamento quase messiânico que seu personagem recebe em alguns momentos, possa atrapalhar a empatia de quem não compreender completamente o que está em torno de seu personagem. Afinal, só temos metade da história aqui!

Oscar Isaac provém a autoridade e carisma que o líder da casa Atreides, necessita. Já a caracterização de  Stellan Skarsgård cria um Baron Vladimir Harkonnen tão asqueroso quanto temível. Jason Momoa traz energia sempre que entra em cena. Enquanto dos fãs de Zendaya devem ficar decepcionados com a pouca participação da moça, que deve ter mais função na Parte 2 da história. O restante do elenco estelar conta com Rebecca Ferguson, Josh Brolin, Javier Bardem, Dave Bautista, entre os nomes de maior destaque, todos bem cientes e ajustados ao que seus papéis exigem. 

Apesar de tudo isso, é a grandiosidade da produção que realmente chama atenção. A criação de ambientes característicos de cada cultura, os complexos trajes destiladores de humidade corporal, passando pelo design dos vermes de areia e as paisagens no deserto, tudo é caprichado, bem elaborado e, principalmente, grandioso. O universo de Duna é vasto, e Villeneuve nos faz ter completa noção disso, mesmo que passemos a maior parte do tempo em um único planeta. 

Fotografia e música são as responsáveis por criar o "tom épico" à jornada. Embora a música de Hanz Zimmer, soe um pouco intrusiva em vários momentos, como se precisasse pontuar frequentemente: "presta atenção, essa cena é importante!".

Um último empecilho no caminho de Duna é chegar ao grande público depois de obras que ela mesma inspirou. É provável se pegar fazendo comparações com os planetas dominados pelo Império de Star Wars, ou as intrigas políticas politicas entre as casas de Game of Thrones. Logo, vale apontar, estas obras existem por causa de Duna, que já tentou incursões na tela anteriormente mas nunca com tanto potencial quanto esta versão de 2021, devido a complexidade do material.

Já o lançamento dividido em partes, lembra o que Peter Jackson fizeram com O Senhor dos Anéis, a diferença é que Duna ainda não tem sua segunda parte confirmada, e muito menos em produção como fora o caso da aventura dos Hobbits. O final em aberto e, sem confirmação de um desfecho, pode contar pontos contra a produção, que ainda estreia nesse período de passos lentos de retorno aos cinemas ainda em meio a pandemia.

Duna é um marco da ficção-cientifica. Denis Villeneuve é um amante da obra, e tem completa noção de sua grandiosidade e complexidade. Entrega um filme que tenta agradar fãs e novatos, caminho difícil que pode dividir opiniões. Mas certamente é uma obra bem construída e corajosa. Duna é tão ambicioso quanto grandioso. Resta saber se esta ambição será suficiente para nos levar até o desfecho da jornada de Paul Atreides.

Duna (Dune)
EUA - 2021 - 156min
Ficção científica, Drama

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem