Uma estória que evoca viagens interdimensionais e um mistério: porquê o garoto
Zuwi, de repente, consegue atravessar as dimensões e isso se torna um problemão
na vida dele? O que tudo isso tem a ver com o seu falecido pai? A trama de Virkadaz,
de Renata Dembogurski, parecia promissora e tem muitos elementos que podem
agradar ao público juvenil. A execução, porém, acaba sendo um tanto aquém do
esperado. O leitor mais acostumado a ler ficção científica certamente irá se
identificar com a temática, mas perceberá os pontos fracos de cara. Mas, antes
de tudo, vamos a um pequeno resumo do livro.
Zuwi
é um adolescente que, em seu aniversário de catorze anos, inexplicavelmente
passa mal durante sua festa de aniversário e consegue viajar para outra
dimensão – mesmo sem ter noção do que aconteceu, e muito menos como
aconteceu. O fato é que sua experiência (nada agradável, a princípio), gerou
uma anomalia na Index (uma espécie de ordem multidimensional) e chamou a
atenção de muita gente perigosa: por ser uma rara e poderosa chave entre os
muitos plix (dimensões), logo agentes reguladores e o perigoso Mr. Khan desejam obtê-la. Os reguladores para protegê-la; Mr. Khan para finalmente pôr
em prática seu plano de dominação da Index.
Nisso
tudo, Zuwi não está sozinho. Ele acabará envolvendo, involuntariamente, seu
grupo de amigos na nebulosa trama desenvolvida a partir de um evento sob o qual
não tinha nenhum controle. Na tentativa de ajudar o amigo, Fred, Lui e Julie e
Lara acabarão convocados pelo misterioso dono da lanchonete Marghour, Llinky,
para decifrar as novas possibilidades que o evento causou. Sua pupila, a jovem
Anne, não fica muito contente com a solução encontrada pelo mestre, mas verá
que os riscos são muito maiores se os jovens capangas de Mr. Khan, Simon e
Alexa, conseguirem chegar primeiro à chave e a levarem para seu chefe. Então,
mesmo que por caminhos tortos – e com muitos percalços para os dois, Anne e
Zuwi terão que correr contra o tempo para evitar que um simples acidente se
torne a destruição de tudo.
Como
ponto positivo, creio que o maior mérito da autora é tentar descomplicar
conceitos físicos para os jovens. Dito isso, toda a forma como a trama é
exposta parece confusa e apressada. Como dito antes, fãs de clássicos de sci-fi
sabem que é necessário um tempo maior para assimilar as novidades e também para
a ambientação nos novos mundos apresentados. Os capítulos são bem curtinhos, o
que leva a uma enxurrada de informação e uma sequência de ações por vezes
apressada demais e que dificultam a absorção e entendimento do que se passa.
Além disso, incomoda um pouco as novas definições e expressões – é muito mais
fácil entender “outra dimensão” que “plix”, até porque ele também se torna um
verbo e “plixar” é viajar entre as dimensões – e o falso vocabulário jovem.
Esse é um dos maiores desafios de um escritor que se volta para uma audiência
tão antenada e em evolução, comunicar-se em seu próprio idioma (e não em como
ele acha que os jovens se comunicam). A escrita em terceira pessoa,
nessas horas, se revela melhor do que quando lemos o que o próprio Zuwi narra
dos acontecimentos.
Outro
ponto que me incomodou bastante foi a escolha quase aleatória dos nomes dos
envolvidos e a falta de profundidade nos personagens. Talvez a decisão tenha
sido para desapegar os personagens de uma referência cristalizada, uma raiz com
nacionalidades já exploradas e situá-los em um “plix” alternativo à nossa
realidade, mas isso não é totalmente confirmado – e tampouco é inegável que
causa uma confusão extra desnecessária. O fato do vilão ser tão maniqueísta
também incomoda muito. Os planos são rasos, as soluções convenientes demais.
Personagens são introduzidos sem muita lógica ou tempo para se descobrir mais
sobre eles; e então o leitor acaba sendo jogado de uma explicação quase literal
de um conceito, à ação urgente onde não há tempo para explicar nada.
Como
na própria Virkadaz imaginada, o livro é um emaranhado de possibilidades –
bastava ter acessado a chave correta para fazer dar certo. Mas, assim como seu
personagem principal, a autora parece ser levada à ação com pouco tempo ou
espaço para a reflexão de propósitos. Mas compreendo também que o produto é
voltado para uma geração muito diferente da minha, onde tudo acontece ao mesmo
tempo aqui e agora; então talvez faça mais sentido para o público a que se
destina. Confesso que teria gostado muito mais de Virkadaz se esse fosse
um livro maior, com mais tempo para explorar as minúcias dos personagens e
explorar melhor os caminhos que Zuwi precisa atravessar até chegar ao grande
confronto com o vilão e, principalmente, com seu passado.
Virkadaz
Renata Dembogurski
Editora InVerso
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