Cruella

Esta não é a Cruella DeVill que conhecemos! Este pensamento é um exercício mental necessário para desfrutar melhor de Cruella, nova adaptação da Disney para a personagem. O problema é que ao mesmo tempo que exige de nós este desapego às versões anteriores, o longa também quer apelar para a nostalgia e memória afetiva deles. 

Estella (Emma Stone) uma criança criativa e incompreendida, e por isso rebelde, perde a mãe ainda na infância e passa a viver de pequenos golpes ao lado de Jasper (Joel Fry) e Horácio (Paul Walter Hauser). Já na idade adulta, tem a oportunidade de trabalhar para o ícone da moda, a Baronesa Von Hellman (Emma Thompson), e finalmente explorar seu talento nato para a moda. Entretanto, logo a jovem descobre uma sombria conexão com a estilista, que desencadeia uma guerra fashionista que aflora o lado mais cruel de Estella. 

Cruel + Estella = Cruella. Isso mesmo, é simples assim! A produção aborda a descida da protagonista ao lado sombrio. Incluindo alguns bons momentos de embate entre suas duas personalidades. Ainda que saibamos qual dos lados vai prevalecer desde o título.  

Assim como em Malévola, voltamos à infância da vilã assassina de cãezinhos para humanizá-la e quem sabe justificar seus atos maldosos. Mas enquanto o longa estrelado por Angelina Jolie, reescreve toda a história da Bela Adormecida, para se encaixar nessa personalidade mais complexa de sua vilã. Cruella, apenas oferece uma nova origem para a personagem, criando uma Cruella que não parece ser a mesma que um dia resolverá ser boa ideia matar 99 filhotinhos para fazer um casaco. 

É essa forte associação com uma personagem conhecida, que pode desafiar a suspenção de descrença de alguns. Já que, ao mesmo tempo que fornece uma nova versão de Cruella, a produção não para de referenciar à antiga, apelando para nossa nostalgia, mas deixando evidente as diferenças entre as personagens. Da primeira semente da ideia do casaco de dálmatas, passando pela péssima direção da moça, até seus companheiros de crime. 

A dupla aliás é um dos maiores pontos quebra  de nossa crença. Aqui apresentados como amigos de longa data, com status de família e certa consciência de certo, errado e limites. Nos fazendo perguntar, como no futuro se resumirão a meros capangas contratados que topam qualquer trabalho por dinheiro? Difícil imaginar, mesmo após a transformação da protagonista em vilã. Ao menos esta versão da dupla ganha mais destaque e profundidade, das quais seus intérpretes fazem bom uso. 

E por falar em intérpretes, Mark Strong está presente como mero acessório a ser usado em um momento específico. Enquanto Emma Stone brilha criando uma Cruella própria, que dispensa comparações com a versão de Gleen Close. Transitando bem entre as versões má e boa da personagem, e deixando a maléfica se impor de forma gradual e consistente. Igualmente eficiente Emma Thompson, cria uma vilã sem escrúpulos igualmente divertida e detestável. Além de construir uma relação excelente que, somada ao universo da mora em que a trama se passa, lembra bastante O Diabo Veste Prada

E já que estamos falando de moda, a produção abraça a época em que a trama se passa, a década de 1970, e aproveita a explosão do punk rock, para dar personalidade tanto aos figurinos quanto ao espetáculo da moda como um todo. A sequencia de embates públicos entre Cruella e a Baronesa, é criativa e cheia de estilo. Para muitos destes "duelos", a produção abraça outra vertente curiosa, a dos "filmes de assalto", ou no caso aqui, de grandes golpes, com direito aos panos mirabolantes, montagem dinâmica. 

Quem tenta ser estilosa e não consegue é a trilha sonora, que traz excelentes músicas conhecidas, mas que não se encaixam nas sequencias que adornam. O resultado é exagerado, cansativo, e volta e meia nos tira da narrativa, fazendo com que questionemos, o porquê daquela música estar tocando em determinado momento. 

Apesar de uma falha ou outra, a produção tem mais acertos do que erros e deve agradar a maioria. Particularmente, esta blogueira que vôs escreve, teria gostado mais se o filme conseguisse se desassociar das versões antecessoras de Cruella, ou mesmo contasse a história de uma personagem inédita. Uma nova vilã da moda, porque não? 


Mas a produção ainda reforça a conexão ao já plantar a semente de 101 Dálmatas em seu desfecho, provavelmente visando uma sequência. Sequencia essa que terá uma tarefa difícil: como transformar essa vilã que agora entendemos e adoramos, naquela mulher que cogitará matar 99 filhotes para fazer um simples casaco? 

Cruella
2021 - EUA - 134min
Drama, Comédia, Crime

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