Cidade Invisível

Lobisomens, vampiros, deuses, semi-deuses, dragões, fadas, bruxas, zumbis... nós, brasileiros, conhecemos muito bem lendas e mitologias de diferentes partes do mundo. Entretanto quando voltamos os olhos para nós, a maioria está limitada à 3 ou quatro criaturas que apareceram em obras de Monteiro Lobato, ou em distantes aulas do ensino fundamental. Cidade Invisível pretende explorar o potencial do nosso folclore em forma de série da Netflix


Um assassinato misterioso, coloca o detetive ambiental Eric (Marco Pigossi) no meio de uma batalha muito maior. A luta pela sobrevivência de entidades míticas, que estão sendo exterminadas por algo igualmente fantástico.

Cuca, Saci e outras personalidades de nosso folclore são repaginadas e inseridas em nosso mundo. Afastados das florestas estas entidades vivem entre nós, como pessoas comuns, escondendo suas habilidades. Escondendo, não deixando de usá-las. Assim, o fantástico invade a realidade, e desafia os conceitos do protagonista que aos poucos vai se envolvendo cada vez mais neste mundo. 


O roteiro não inova muito nos passos que escolhe dar para a investigação. O desenvolvimento do mistério, é bastante conhecido em obras do gênero. Uma familiaridade talvez adotada para vender melhor a série em diferentes partes do mundo, onde o folclore brasileiro é completamente desconhecido. 

Igualmente familiar é a escolha das entidades abordadas. Este primeiro ano opta por trazer em sua maioria personagens conhecidos em todo território nacional. Repassados por tradição oral, estes personagens tem diversas versões, e a série opta por mesclar estas diferentes características, e até criar algumas novas para encaixá-los no ambiente urbano do século XXI. 


O resultado geral é eficiente, embora em diferentes níveis. O excelente Curupira de Fabio Lago, surge com força estrondosa baseada no contraste entre sua fragilidade na cidade, e seu poder na floresta. Já Cuca de Alessandra Negrine, demonstra um potencial que nunca se concretiza, já que a personagem não age tanto quanto poderia. 

E por falar no elenco, a maioria executa um trabalho excelente. Os destaques ficam para Pigossi, que consegue escalar a entrada do policial no mundo fantástico sem exageros. E Fabio Lago, que acerta ao escolher os momentos de explosão em sua atuação. O ponto fraco fica por conta da pouco expressiva  Manuela Dieguez, especialmente quando sua personagem ganha mais destaque na segunda metade da história. 


Os efeitos especiais são simples, porém eficientes. Enquanto os "cold openings" (aquelas pequenas cenas antes da abertura), poderiam se estender um pouco mais.

Há ainda tempo para um necessário discurso ambiental, já que a sobrevivência das entidades está relacionada com a preservação das florestas. Embora não haja muita explicação do porquê as entidades vivem nas cidades, já que não parecem estar lutando pelo seu lar original, onde são mais fortes. Ou mesmo porquê a trama se passa no Rio de Janeiro, quando a maioria dos personagens são originais de outras regiões do país. Outras pequenas falhas de roteiro como esta, podem incomodar os mais exigentes. A maioria pode ser contornada em temporadas futuras. 


Baseada em uma história de Raphael Draccon e Carolina Munhóz, e dirigida por Carlos Saldanha, Cidade Invisível opta por caminhos seguros para alcançar um público maior. Mas cria um universo coeso e rico, cheio de possibilidades, e claro com ganchos pra uma próxima temporada. Que esta venha expandindo horizontes, e explorando ainda mais nosso rico folclore. 

Cidade Invisível tem sete episódios com cerca de uma hora cada, todos disponíveis na Netflix

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