Lyra (Dafne Keen) e Will (Amir Wilson), cada um e seu mundo, atravessaram fendas e foram parar em Citagazzi. Dois estranhos em um novo mundo não demora muito para a dupla formar uma parceria, e perceber que, curiosamente seus objetivos curiosamente se alinham. O mundo de Lyra lida com as consequências da fenda aberta por Lorde Asriel (James McAvoy). Enquanto no universo de Will, é a Dra. Mary Mallone (Simone Kirby) quem faz grandes avanços.
Tem muita coisa acontecendo neste segundo ano de His Dark Materials, vários núcleos de personagens se movimentando com objetivos próprios, mas cada um ocupando seu lugar no tabuleiro da jornada de Lyra e Will. Como aliados, protagonistas, ou mesmo alternando entre os lados, cada um tem sua micro jornada que movimenta o quadro maior. A busca pelo conhecimento e livre arbítrio, que ironicamente curiosamente vem de uma profecia, que não pode ser conhecida por aqueles que atuam nela.
Este é o nível de complexidade dos temas propostos pela saga literária, e adaptados para a série da BBC e HBO. Não que a jornada não possa ser encarada apenas como uma aventura fantástica, mas que traz riqueza de reflexões, temas, simbolismos e referências para aqueles que decidirem se empenhar um pouco mais.
A série consegue transpor com eficiência essa mistura de temas, sem apelar para a expositividade e explicações cansativas. A luta conta a Autoridade, seja ela divina ou terrena, o que nos torna humanos, a busca pelo livre arbítrio, por conhecimento, pelo sentido da vida, propósito individual, são vistos de diferentes formas em vários personagens. Como a busca desprendida e entusiasmada de Mary Mallone por conhecimento, ou a descoberta de propósito de Lee Scoresby (Lin-Manuel Miranda), proteger Lyra.
Nenhum dos temas abordados no entanto, é mais impressionante que o conflito interno de Mrs Coulter (Ruth Wilson). Dividida entre a busca de poder e a proteção da filha, com a capacidade de suprimir necessidade e instintos, e um desprezo assustador por si mesma. Tudo potencializado pela excelente atuação de Wilson, e pelo fato de que podemos vê-la literalmente abusar de sua alma, ou deixá-la para traz, já que esta é representada por um deamon. Silencioso, submisso e extremamente agressivo quando libertado, em contraste com a figura controlada de sua metade humana.
Direção de arte, cenário e figurinos entregam um trabalho excelente, na distinção dos mundos em que a história transita. O destaque fica para os grandes cenários construídos para criar a cidade fantasma de Citagazzi. Já os efeitos especiais continuam eficientes, especialmente se considerarmos a quantidade de criaturas de CGI em cena, e o orçamento de uma série de TV.
O roteiro tem um ritmo mais uniforme que do ano anterior, que trazia momentos arrastados e outros resolvidos a toque de caixa. Com um episódio a menos, a história é mais dinâmica e equilibrada, oferecendo o tempo necessário para trazer novos conceitos e personagens, mas sem atrasar a história no processo.
A segunda temporada de His Dark Materials tem a difícil tarefa de ser o capítulo do meio de uma aventura. E o agravante de ter um universo rico e complexo. Mas a produção consegue ser ainda melhor que seu primeiro ano. Equilibra seus vários núcleos, em um ritmo empolgante e dinâmico. Mantém a coragem de colocar seus personagens em risco real, fazer sacrifícios necessários. Continua abordando com eficiência temas complexos nas entrelinhas, e ainda deixa tudo e todos à postos para o clímax. É o melhor que se pode ter em uma série de fantasia.
O segundo ano tem 7 episódios com cerca de uma hora cada. A série é exibida no Brasil pela HBO, e está disponível na HBO Go.
Aqui no blog tem vários textos sobre a saga Fronteiras do Universo. Leia as críticas da primeira temporada da série, e dos dos livros A Bússola de Ouro, A Faca Sutil e A Luneta Âmbar, A Oxford de Lyra e o Livro vs Filme: A Bússola de Ouro.
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