Soul

É uma pena que Soul chegue para nós apenas via streaming. O novo longa da Pixar foi um dos afetados pela pandemia e chegou direto no Disney+ no dia de Natal. Em casa, no conforto do sofá a produção é excelente, na imersão que só o cinema proporciona envolveria almas por completo, visual, auditiva e reflexivamente.

Joe (voz de Jamie Foxx) é um professor de música, que vive buscando a chance de se tornar um musico profissional. Quando a grande chance bate à sua porta, ele sofre um acidente, sua alma  se separa do corpo e ele precisa fazer de tudo para voltar a tempo de seu show. Nessa jornada, ele é acompanhado por 22 (Tina Fey), uma alma que nunca encontrou razão para viver. 

Agora, deixe esta descrição simplista de lado. Afinal, este é um filme Pixar e seu enredo vai muito além da mera aventura para alcançar um objetivo. Soul aborda com objetividade e sutileza temas existenciais complexos. Faz refletir sobre missão, propósito e o real sentido da vida. Desde a simples busca de um propósito, uma razão para viver. Passando pela certeza de sua missão na vida, e o foco exacerbado que pode te aprisionar nessa busca. Até chegar na resposta mais simples, a razão da vida é viver. Como? Saboreando cada momento. 

É claro, nenhuma destas mensagens alcançariam o público não fossem seus condutores tão eficientes. Joe poderia cair no clichê de aspirante de musico fracassado, mas seu cotidiano e paixões são apresentados com calma, e neste processo ele se torna apenas mais de nós. Alguém cheio de aspirações, mas que a vida nunca dera oportunidade, quem nunca se sentiu ou conheceu alguém assim? Já 22 retrata, com um charme sarcástico, aqueles que ainda buscam por sua razão de viver, desafio que todos encaramos cedo ou tarde. Ambos carismáticos, bem construídos e acima de tudo altamente relacionáveis.

Nessa tarefa de retratar expressões, vontades e buscas da alma, o longa aborda conceitos que vão além da matéria, e faz isso com uma mitologia e visão própria. Criando um além-vida e um pré-vida, que não causam estranheza, tão pouco estão atreladas à uma filosofia ou religião específica. São conceitos do imaginário coletivo, expressos de forma criativa e com visual original. 

Se os traços criam um mundo novo, a música traz a familiaridade e emoções bem conhecidas, ao criar um contraste entre realidades. O mundo das almas é etéreo, simples, claro. Enquanto a vida é complexa, rica, de espírito vibrante. 

A fotografia completa esse quadro ao definir bem o mundo pelas cores. Suaves e claras onde o futuro é promissor. Mais sombria, porém ainda mágica na realidade dos perdidos. Colorida e aconchegante nas nada cinzentas ruas de Nova York, e exuberante quando envolta pela riqueza do Jazz. Repare no jogo de sombras e luzes das apresentações no palco, que de tão perfeitas em alguns momentos parecem "filmadas" ao invés de animadas. 

O elenco diverso de vozes, traz diversos talentos conhecidos. Além de Fox e Fey, cujos carismas e personalidades ajudam a construir Joe e 22, a produção ainda conta com Graham Norton, Rachel House, Angela Bassett, Margo Hall, Daveed Diggs e até Alice Braga.

Soul significa "alma" em inglês. Também é o nome de um dos gêneros musicais mais vibrantes e apaixonados. Agora é também o nome de um longa que reflete musica, alma, existência e vida, de forma complexa e emocionante. A Pixar acertou não apenas no título, extremamente apropriado para sua animação, mas na obra como um todo. Soul tem a alma que promete e muito mais!

Soul
2020 - EUA - 100min
Animação/Aventura

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