Mentiras Perigosas

Uma moça de ascendência latina herda os bens do idoso para quem trabalhava como cuidadora, mas a herança traz uma rede de intrigas e mistérios para a vida da personagem. Parece o enredo de Entre Facas e Segredos, mas este é o plot de Mentiras Perigosas da Netflix. A comparação com o longa de Rian Johnson é tão inevitável quanto cruel, ao apontar que a produção dirigida por Michael Scott, não é apenas inferior, mas sequer consegue entregar o que propõe.

Katie (Camila Mendes, a Verônica de Riverdale) e seu marido Adam (Jessie T. Usher, o A-Train de The Boys) se esforçam bastante para tentar melhorar de vida, sem muito resultado. A situação do casal parece tomar novos rumos quando, o idoso para quem Katie trabalhava morre e deixa todos os bens para a moça. Além do dinheiro, os dois também herdam uma série de mistérios, intrigas e ameaças.

Quem matou Leonard (Elliott Gould)? Porque ele fez de Katie sua herdeira? Quais os segredos escondidos na casa? Estaria o casal, ou apenas um deles, envolvido em alguma trama mirabolante? Mentiras Perigosas tenta criar todos estes mistérios ao longo de sua projeção, mas falta coerência ao roteiro, que usa pistas aleatórias excessivas e sem sentido. O resultado é um emaranhado de subtramas que não se conectam, ou influenciam a trama principal.

Há o assalto no restaurante, o jardineiro misterioso, o corretor abusado, o testamento surpresa, o dinheiro no baú, a advogada conveniente... Algumas destas histórias estão de fato ligadas ao mistério da morte e herança. Outras estão lá apenas para fazer volume e confundir, tornando-se inevitavelmente, pontas soltas.

O roteiro também aposta em conveniências e comportamentos inverossímeis para que a história progridam e para criar dúvida no especador. O comportamento estranho de Adam, a passividade de Katie, e a longa narrativa que a dupla deduz de pistas rasas são os mais gritantes. À certa altura, o casal encontra algo escondido na casa e partir disso, deduz nomes, datas, motivações, ações, impasses e dificuldades, apenas por estes poucos objetos e pautam suas ações firmemente presos a essas alegações. Impossível não se perguntar de onde os personagens tiraram tantos detalhes, e como tem certeza deles.

A produção até tenta criar algumas cenas mais estilosas, como a cena abertura com um visual neon, mas logo se esquece destas tentativas e passa a entregar o básico em produções do gênero. O elenco até tenta, mas pouco tem a fazer com personagens tão rasos. Adam é chato me ambicioso, Katie é boazinha, receosa e inocente, a detetive (Sasha Alexander) é desconfiada, o corretor (Cam Gigandet) é suspeito, a advogada (Jamie Chung) é exageradamente prestativa e conveniente, os personagens são apenas isso quando começam e continuam assim até o final da projeção.

Mentiras Perigosas, tinha a intenção de ser intrigante e surpreendente, e até tinha potencial para tal. Mas o roteiro mal planejado e um desenvolvimento mal feito, criam uma produção cuja trama deixa dúvidas e furos até em seu desfecho (mas como este personagem pode ficar com isso mesmo depois de toda a confusão?). Sem entregar o que promete, o único atrativo restante é a escalação de estrelas jovens de séries de sucesso no elenco. Infelizmente, não há carisma que se sustente com tantos pontos contra.

Mentiras Perigosas (Dangerous Lies)
2020 - EUA - 96min
Suspense

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