Westworld - 3ª temporada

Quando as primeiras imagens da terceira temporada de Westworld saíram, a reação da maioria das pessoas foi a seguinte: "para, volta, aquela é a Dolores? Isso era Westworld?".

Um mundo e personagens completamente novos na tela, e uma única cena final da personagem de Evan Rachel Wood, para comprovar que se tratava da série aclamada da HBO, abriram a perspectiva e criaram grande expectativa sobre as novidades surpreendentes estariam por vir. Mal sabiam os espectadores, que o que viria seria exatamente esta estranheza e falta de reconhecimento sobre qual programa estaríamos assistindo.

Os parques da Delos entraram em colapso, visitantes humanos morreram, parte dos anfitriões fugiu, o restante fora danificado, mas Dolores escapou para o mundo real. É a partir daí que acompanhamos este terceiro ano. As consequências do massacre no parque, e os planos da anfitriã no novo mundo, de uma forma muito mais simples e linear que nas temporadas anteriores.

Apesar de ser uma das características que diferenciavam a série, a mudança das múltiplas linhas temporais para uma narrativa linear, leia-se simples, não é uma surpresa. A complexidade da segunda temporada acabou afastando espectadores menos dispostos a especulações e quebra cabeças. A mudança de tom, para uma vertente que privilegia mais a ação, também não seria problema, se sustentada por um bom roteiro, com motivações e atitudes coerentes, especialmente para personagens que já conhecemos.

Entretanto, na ânsia de manter algum mistério, já que agora estamos acompanhando a história linearmente, o roteiro optou por esconder planos e motivações de alguns, enquanto simplifica e limita outros. Assim, acompanhamos um plano aparentemente desconexo de Dolores por vários episódios, e quando a grande revelação vem, não é nada inimaginável. De fato, muita gente deduziu boa parte antes. O empasse entre ela e Mave soa infundado, visto que seria facilmente resolvido com uma conversa, coisa que elas fizeram na temporada anterior. A vontade de ver as duas duelando, superou a coerência aqui.

Enquanto isso, Maeve (Thandie Newton), outrora mais empática que a filha do rancheiro, aceita ser ferramenta de um humano desconhecido com um plano maléfico. Suas supostas motivações seriam um assunto já resolvido na temporada anterior, a segurança da filha. William (Ed Harris) e Bernard (Jeffrey Wright) seguem como ferramentas de dolores, sendo esquecido pela trama, ou jogados de um lado para o outro conforme coerente.

A mesma falta de precisão acomete os personagens novos. Serac (Vincent Cassel) promete ser uma grande força neste novo mundo, mas faz pouco e é facilmente subjugado. Enquanto Caleb (Aaron Paul), passa metade do tempo perdido, e a outra metade seguindo Dolores. É apenas no penúltimo episódio que o humano resolve se informar sobre o plano. Atitude no mínimo incoerente com a própria descrição do personagem, "alguém capaz de fazer escolhas".

E já que estamos falando dos humanos, difícil não notar ausência deles. Estamos fora do parque, mas vemos menos da humanidade do que quando estávamos em Westworld. Onde está este novo mundo que prometeram? Como funciona esta sociedade que acha normal massacrar robôs? A construção de mundo até está lá, é perceptível, mas pouca explorado diante do foco na jornada de Dolores.

Vemos menos dos robôs também, com pouquíssimos anfitriões sobreviventes, e algumas participações especiais questionáveis. A mais gritante, é a de Musashi (Hiroyuki Sanada), escolhido por Dolores com quem nunca interagiu, para substituir um chefão da Yakuza, quando o mais coerente seria replicar o humano, à exemplo do que ela fez com outro personagem. A explicação para a escolha? A produção queria trabalhar com Sanada novamente, e fez isso com diversos outros membros do elenco original, em aparições que funcionam melhor para alguns que para outros.

Para não dizer que ha reclamações, existem sim acertos nessa temporada. A grande ironia dos humanos seguirem uma narrativa criada por um robô, invertendo os poderes, e de certa forma igualando humanos e anfitriões é excelente. Há também momentos isolados extremamente inspirados, como a sessão de terapia dos William, e o desenvolvimento de Charlote. O excelente elenco, original e novas aquisições, entrega o melhor possível mesmo com as inconsistências de roteiro.

As cenas de ação são bem executadas, assim como toda a parte técnica, fotografia, figurinos, cenografia, mas essas são esvaziadas novamente pela história simplificada em rasa. O que fica evidente no quinto episódio Genre, que cria um bom recurso para explorar possibilidades narrativas, que no entanto, não tem função alguma na trama. Acompanhar a história alternando pelos estilos de diferentes gêneros do cinema, é incrível e bem executado, mas também totalmente gratuito.

A terceira temporada de Westworld amplia o universo, traz de volta seus bons personagens e apresenta novos, mas não parece a mesma série. Quer ser simples, e ao mesmo tempo surpreender, o resultado é uma história arrastada e muitas pontas soltas (cadê aquele corpo extra de Charlotte que vimos ser impresso?), e poucas surpresas. Particularmente, senti como se a temporada fosse um longo episódio intermediário. Uma grande preparação para o que está por vir (e vai vir, a série foi renovada), que seria muito mais interessante, se explorada de forma mais dinâmica em menos episódios.

Para uma série cujo maior mérito era deixar seu público em contante alerta e estimulá-lo a analisar suas muitas camadas, a simplificação e distatismo torna a produção irreconhecível. E nem os ganchos para o próximo ano, evitam que o público questione a natureza do programa e a existência de novas temporadas.

Westworld é exibida pela HBO, a terceira temporada tem apenas oito episódios, todos estão disponíveis na HBOGo.

Leia mais sobre o universo de Westworld!

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