A Maravilhosa Fotografia de O Conto da Aia

Escrito por: José Renato
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Distribuída pela Hulu, O Conto da Aia (The Handmaid’s Tale) é uma adaptação do livro de mesmo nome escrito por Margaret Atwood. Lançada em 2017, a série chamou atenção de muita gente por uma temática no mínimo complicada de ser assistida.

Além da história, que já é maravilhosa por si só, o conto das aias chamou atenção também por seus belíssimos enquadres, que é considerado hoje uma dos melhores entre as séries. A fotografia, como bem empregada que é, é usada a todo momento como suporte do próprio enredo, tornando-o assim ainda mais carregado de significado. A direção fica a cabo de Colin Watkinson, e dentre os diversos prêmios que a série recebeu, destaca-se aqui o prêmio de melhor fotografia em câmera única (Primetime Emmy Awards 2017), pelo episódio “Offred”, dado ao próprio Colin.

E o que tem essa fotografia de tão especial? Bem, vamos ver.

Começamos é claro pelo que é considerado mais “básico” aos iniciantes de fotografia, o uso do Plongée e do Contra-Plongée. As duas técnicas são perfeitamente empregadas em vários diálogos durante a obra, veja o exemplo:

Aqui em um diálogo entre Serena (Yvonne Strahovsky) e Tia Lydia (Ann Dowd), vemos o uso das técnicas para salientar a noção de poder, ou seja, quem está no controle da situação.

Plongée:


Contra-Plongée:

Aqui temos um outro Contra-Plongée, em que a ideia é demonstrar a redenção de June (Elisabeth Moss), buscando te comunicar que nesse momento ela está se sentindo forte. O sangue é uma mensagem literal do sofrimento derramado até aqui.

Contra-Plongée:


Podem-se usar também o uso da Perspectiva para salientar uma ideia. Veja neste plano, por exemplo, a altura de Serena está sendo utilizada para demonstrar a mesma noção de poder do diálogo anteriormente mencionado.

Perspectiva:

Tanto o Plongée, Contra-Plongée e a Perspectiva, são comumente usados para demonstrar a relação mandante-subordinado.

Ainda sobre enquadramentos de cenas, um muito comum que você verá constantemente é o Primeiríssimo Plano. Esse enquadre é usado principalmente para aproximar o telespectador aos sentimentos da personagem, algo que a série faz com louvor.

Primeiríssimo Plano:

Já neste outro plano, além de te aproximar de June, o enquadramento ainda é usado para estabelecer um diálogo mais direto com o telespectador através do olhar da atriz, há assim uma quebra sutil da quarta parede.

Primeiro Plano:

Vemos que a direção de fotografia também prefere ousar, ao fazer alguns enquadramentos utilizando objetos externos. Dessa forma, além de proporcionar belos e intrigantes planos, a série continua te mandando mensagens.

Neste enquadre por exemplo, podemos ter a noção de união, de conjunto, considerando existir um paralelo nos ideais dos dois personagens em cena:

Noção de união:

Colin também brinca com analogias religiosas das quais a própria série discute, quase como uma metalinguagem. Aqui os planos são usados para demonstrar uma possível noção maniqueísta.

Anjo:

Demônio:

Outra técnica que a série utiliza com primor é o de brincar com a realidade das aias, que estão em grande parte do seriado na condição de prisioneiras. Por algumas vezes verá uma delas quase que literalmente atrás das grades:


Ou até mesmo presas em caixas:

O uso dessas imagens, mesmo que por algumas vezes passem muito rapidamente, servem para que possamos sentir a sensação de isolamento, aprisionamento ou vigilância, estando assim constantemente reforçando a narrativa.

Você deve ter percebido que o tema abordado aqui se resume a enquadramentos de cenas, o que é apenas um dos aspectos estudados em fotografia. O Conto da Aia consegue se destacar também em outros quesitos, como Luz, Foco, e algumas outras Rimas Visuais. Caso tenha gostado, posso abordar tudo isso em um próximo artigo.

Então é isso pessoal, um grande abraço!

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