
Maria (Sophia Lillis de It: A Coisa e Objetos Cortantes) e João (Samuel Leakey) vivem em uma época de fome e peste. Os irmãos são expulsos de casa pela mãe, quando esta decide/percebe que não é capaz de mantê-los. Em sua busca floresta à dentro por casa e comida, os dois são acolhidos por Holda (Alice Krige), velha estranha que vive isolada em uma casa onde estranhamente há fartura.
Apesar de inspirado em um conto para crianças, esta nova adaptação é uma produção de terror, que se aproxima ao tom sombrio e cruel da tradição oral do conto. É na construção desta atmosfera, ameaçadora, depressiva e mística, que o filme tem seus maiores métodos.
A direção de arte acerta ao construir um mundo decadente, simplório e ao mesmo repleto de símbolos macabros. Enquanto a fotografia, aposta construir cenas iluminadas aparentemente luzes rústicas (velas, fogueiras). Criando, ao mesmo tempo que mostra o que deseja, uma infinidade de "coisas não vistas" nas sombras e penumbras. Sem usar o batido, e incômodo, artifício da escuridão total para causar o medo.


A escolha, entretanto, é pelo caminho mais simples e pobre. Um embate sem muito significado, e de resolução absurdamente simples. Não fique surpreso ao se perceber esperando por um rebote da vilã, para aplacar a sensação de que a mocinha se safara fácil demais. A revanche não vem, a resolução foi fácil, e fica por isso mesmo.
Alice Krige é quem melhor se destaca, ao criar uma criatura fisicamente frágil, mas psicologicamente ameaçadora. Sophia Lillis entrega uma atuação propositalmente austera, e sempre incomodada, enquanto Samuel Leakey faz o que lhes é pedido e apenas isso. Charles Babalola também não tem muito a oferecer com seu personagem que não oferece muito à trama, de fato sua ausência provavelmente não faria diferença. No geral é um bom elenco, mas que não consegue extrair muito do material que lhes é oferecido.
Maria e João: O Conto das Bruxas tem um argumento interessante, cheio de potencial, e consegue construir uma atmosfera macabra própria. Entretanto, seu roteiro fica aquém do que poderia, sem se comprometer com nenhuma das idéias que planta, e consequentemente não entregando muito ao espectador. Enquanto o João e Maria originais, sabiam bem o que lições queriam contar, sua nova versão parece não fazer ideia de para onde quer ir e quais ideias defender. Deixando o público mais perdido e insatisfeito, do que aterrorizado. Tarefa difícil, afinal, quem não teria medo de uma velinha canibal que atrai crianças com doces?
Maria e João: O Conto das Bruxas (Gretel & Hansel)
2020 - EUA - 87min
Terror
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