Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica

O mundo de Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica é bastante parecido com o nosso, mas com uma diferença gritante. Lá a magia existe, embora tenha sido substituída pelas facilidades da tecnologia. É claro, o longa da Pixar faz bom uso deste detalhe diferente, para contar uma história muito familiar à nossa realidade. Usando a magia da forma que ela é melhor aproveitada em nosso mundo, para explicar o que não compreendemos, encantar, entreter, e fazer adultos chorarem bastante.

Ian e Barley Lightfoot (vozes de Tom Holland e Chris Pratt respectivamente) perderam o pai ainda pequenos. Quando o caçula faz dezoito anos, a dupla recebe um presente do pai, um artefato mágico que possibilitaria o reencontro com o pai por um dia. Mas o feitiço dá errado, e a dupla tem apenas vinte e quatro horas para corrigi-lo.

Não é difícil deduzir que os irmãos ganharão muito mais que o reencontro com o pai ao longo deste road-movie. Ou melhor "quest", para ficar no linguajar dos RPGs, nos quais a produção tem sua maior referência. A jornada dos irmãos é pautada pelas normas e passos tradicionais do jogo, de uma forma que ainda não havia sido utilizada nos cinemas. 

E já que estamos falando de referências, não faltam alusões à O Senhor dos Anéis, já que os jogos bebem das mesmas fontes que as obras de Tolkien. Também temos pitadas outras aventuras, fantasias e comédias de Indiana Jones, História Sem FimUm Morto Muito Louco e até produções mais recentes da Disney, como a inevitável referência aos Vingadores, universo do qual tanto Holland quanto Pratt participam.

Mas não é apenas de referências que se faz um filme, e para a Pixar, estas são apenas enfeites em um universo bem construído. O estúdio imagina como um mundo de fantasia, com criaturas e elementos mágicos poderiam evoluir à semelhança de nossa realidade. Com a tecnologia, cultura e hábitos, pensadas para as necessidades de seus mágicos moradores, sejam eles pequenas fadinhas ou imponentes centauros. Um mundo rico, vibrante e complexo, com as texturas, detalhismo e qualidades técnicas tradicionais do estúdio, que aqui incorpora inclusive expressões e trejeitos dos intérpretes na animação. Mesmo dublado (as vozes da dupla principal, são as mesmas da franquia da Marvel), é possível reconhecer Holland e Pratt em Ian e Barley.

Tudo isso para dar suporte à uma história bastante "humana". Ian e Barley, tem lições individuais e conjuntas a aprender. Barley, precisa superar um trauma que determinou a forma como vive. Enquanto Ian precisa desenvolver auto-confiança. Juntos, vão lidar com o luto, amadurecer, aprender a confiar e valorizar um ao outro. E principalmente, se concentrar no que tem e podem alcançar, ao invés do que já foi perdido. Seguir adiante, como o título original em inglês, Onward, sugere.

Menos complexa, porém igualmente divertida, é a jornada da mãe dos irmãos. Laurel (Julia Louis-Dreyfus) sai da zona de conforto da dona de casa suburbana e faz novas amizades enquanto busca pelos filhos. Aqui entra Manticore (Octavia Spencer), uma entidade mitológica que precisa relembrar sua verdadeira natureza. As jornadas das duas duplas, também desperta o mundo em que vivem, que não dava valor à história antiga, para a existência da magia e a importância de se conhecer e respeitar passado.

Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica tem roteiro criativo, inteligente e bem estruturado, que leva o público para uma aventura divertida e com boas mensagens. Além das tradicionais duas camadas de compreensão, a que encanta e diverte as crianças, e aquela que faz os adultos chorarem como bebês ao lado dos filhos. Em outras palavras a Pixar acertou novamente em sua tarefa de fazer rir e chorar na mesma intensidade. Desta vez usando a magia de todas as formas possíveis, a de literal para os personagens, a figurativa para o público. Em um excelente exemplo da expressão "a magia do cinema"!

Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica (Onward)
2020 - EUA - 102min
Animação, Aventura


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