Resgate do Coração

Por algum motivo que a razão desconhece, eu fui assistir à Resgate do Coração pensando que se tratava de um daqueles filmes de natal da Netflix, que aparecem aos montes nesta época do ano. Mas as datas festivas aqui, servem apenas para pontuar a passagem de tempo na jornada da protagonista.

O marido de Kate (Kristin Davis), esperou apenas o filho sair para faculdade para contar a esposa que o casamento estava acabado. Em choque e sem rumo, a rica novaiorquina decide fazer sozinha a viagem de segunda lua de mel para a África que planejava há tempos. Chegando lá, ela esbarra em um novo romance. Derek (Rob Lowe) traz na bagagem um novo propósito de vida para ela, proteger elefantes.

Auto-descoberta, saída da zona de conforto, empoderamento feminino, busca por um propósito nobre na vida, preservação ambiental... Os temas de Resgate do Coração parecem ter sido escolhidos sob encomenda, para abordar tudo aquilo que está na moda e/ou faça emocionar. É claro, que este processo burocrático cria um roteiro previsível e com pouco charme.

Não é difícil deduzir o destino de Kate, e até seus fracos conflitos apenas pela sinopse. Ela deve abandonar sua vida antiga, família e amigos, para viver um novo amor e redescobrir uma paixão da juventude? São tempos de avião e Skype, não é um dilema tão grande assim não é mesmo?

Entretanto, não são previsibilidade e as temáticas programadas para emocionar, o problema mais gritante desta produção Netflix, são as conveniências absurdas, e a insistência de atrelar o desenvolvimento pessoal da protagonista à figuras masculinas. Kate é veterinária que abandonou a carreira para ser dona de casa, coincidentemente esbarra em um pretendente que cuida de animais, e logo se vê apta a cuidar de grandes paquidermes.

Ao menos a temática de preservação ambiental é válida. Explica direitinho a caça predatória dos elefantes em busca de marfim, e o trabalho complexo que é recuperar feridos e filhotes órfãos reabilitando-os para a vida selvagem. Uma pena que faça isso sob a visão do salvador branco, que geralmente transforma o continente africano em uma nação só. Kate foi para África, simples assim. O filme não se preocupa muito em determinar o país, seu povo ou cultura, como se o continente inteiro fosse uma coisa só.

Com um roteiro simples e nada original, a direção de Ernie Barbarash também não foge do previsível. Bem executado, mas sem personalidade ou charme. Kristin Davis e Rob Lowe até tentam, mas não podem fazer muito com as frases que soam como cartões de natal e campanhas de conscientização sobre a extinção, e consequentemente criam pouca química em seu romance obrigatório. Enquanto isso, a trilha sonora, faz questão de tentar pontuar o influenciar o que devemos sentir do lado de cá da tela.

Resgate do Coração é bem intencionado, mas pouco inspirado. Seu maior mérito é a introdução à conscientização sobre a caça predatória, e a luta para a preservação dos elefantes. Previsível, pretende inundar o espectador de boas mensagens, mas acaba servindo apenas como distração enquanto digerimos à ceia ao lado da família sonolenta. Talvez seja mesmo um filme de natal afinal.

Resgate do Coração (Christmas In The Wild)
2019 - EUA - 85min
Drama, Romance

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