Riverdale não precisa de 22 episódios. Se isso era uma dúvida no ano anterior, a terceira temporada deixou bem claro, a série tinha seu enredo melhor amarrado quando tivera menos capítulos lá em sua estreia. As mais recentes aventuras de Archie e companhia, precisam dar muitas voltas para preencher tempo, e acaba enfraquecendo o mistério, seu grande diferencial entre as séries teens.
Depois do assassinato de Jason Blosson, e do serial killer Gorro Negro, os adolescentes precisam lidar com o Rei Gárgula. Uma entidade misteriosa por trás de um jogo de RPG letal que virou mania na escola. Correndo por fora, está a trama da Fazenda, uma seita estranha introduzida ainda na temporada anterior, que recruta muitos dos personagens secundários. E os negócios de longo alcance de Hiram Lodge (Mark Consuelos), e poder aparentemente ilimitado.
Rei Gágula, Fazenda e Hiram, além dos afazeres de uma adolescente comum (ou quase isso). Os roteiristas da série parecem não economizar na criatividade para preencher os muitos capítulos do programa. Além destes três problemas principais, eles apelam para inúmeras reviravoltas e acontecimentos, mas pouco tempo para explorá-los ou mesmo lhes conferir peso. Inclua entre os fillers (episódios que existem apenas para preencher a temporada), o episódio musical, e um passado nos anos de 1980, com o elenco jovem interpretando seus pais quando adolescentes.
Elenco principal interpretando os pais de seus personagens na adolescência. |
Apenas nessa temporada, Archie (K.J. Apa) foi preso, participou de um clube da luta, fugiu, se exilou, sofreu um ataque de urso, voltou para casa, começou a comandar um clube de boxe e onde também treina para ser um profissional esporte. Já a cidade ficou em quarentena, teve a reserva de água batizada por um veneno que só atinge adolescentes (hein?), foi tomada por uma onda de RPG assassino, abraçou uma seita maluca, alguns personagens de apoio foram mortos, outros voltaram à vida. Houve brigas de gangues, e uma divisão na mais descolada delas, os Serpentes. Aliás, seu antigo líder, virou o xerife da cidade. E eu provavelmente estou esquecendo alguns eventos.
Parece contraditório eu alegar que a série não precisa de 22 episódios, e ao mesmo tempo reclamar que tem coisa demais acontecendo. Mas o excesso de subtramas é resultado da necessidade de preencher esse tempo, e da obrigação em construir um mistério complexo, e eventualmente absurdo, para surpreender o espectador. São tantos desvios, e pistas faltas, que por muito tempo, nada de realmente relevante para a trama principal acontece. O miolo da série, fica confuso, cansativo, e em alguns momentos exagerado demais, mesmo para quem tem o nível de suspensão de descrença bem alto. Vide à relação entre Archie e Hiram, que passa da perseguição letal à troca de favores, em dois episódios.
Chad Michael Murray, vem comandar a seita maluca |
Já na reta final, quando a série foca em seus verdadeiros temas, a Fazenda e o jogo de RPG Grifos e Gárgulas, o fôlego retorna e voltamos a reconhecer o programa que surpreendeu muita gente em seu ano de estreia. É claro, os planos ainda são mirabolantes e exagerados, e devem afastar que não tem tolerância com o gênero. Assim como o fato dos adultos serem cegos para os problemas ou grandes causadores deles, enquanto os adolescentes acham (e geralmente estão certos) que podem resolver tudo sozinhos. Mas, por mais irreais que sejam, estes são os parâmetros que estabelecidos pelo programa desde seu início.
É neste desfecho de temporada, que Archie, Verônica (Camila Mendes), Betty (Lili Reinhart) e Jughead (Cole Sprouse) voltam à trabalhar juntos. Embora altura alguns devam se perguntar, porque Verônica e Archie estão ali, já que sua trama correu separada dos mistérios por quase toda a temporada. A resposta é simples, eles fazem parte do quarteto protagonista, especialmente o ruivo, o dono do quadrinho que inspirou a série.
É o quarteto que tem seus arcos mais explorados, embora bem pouco em relação aos anos anteriores, já que as reviravoltas e subtramas não deixam espaço para muita coisa. Verônica se mantém no constante cabo de guerra com seu pai. Archie oscila entre fugir e decidir seu futuro. Somos apresentados à mãe e irmã de Jughead, e assim como a maioria das pessoas da cidade, elas não são simples de conviver. É Betty quem tem maior desenvolvimento, já a trama do mistério está conectada diretamente à sua família.
Entre os coadjuvantes o espaço é ainda menor. A maioria é escalada, ou descartada,de acordo com a conveniência do roteiro. Josie (Ashleigh Murray) se despediu do programa, para participar do spin-off Katy Keene. E mesmo a favorita do público Cheryl (Madelaine Petsch), que teve a melhor trama da segunda temporada, aqui se limita ao romance e à atender às necessidades das reviravoltas. Vale mencionar ainda que o destino de Fred Andrews, vivido por Luke Perry que faleceu durante a produção deste terceiro ano, deve ser explicado apenas na próxima temporada.
De volta ao roteiro, a trama deste ano tenta conectar quase todos os mistérios da cidadezinha até então. Uma ideia interessante, não fosse jogada de repente apenas no season finale. Tais pistas poderiam ter sido plantadas com mais antecedência, oferecendo maior envolvimento para aquele monótono meio de temporada.
O desfecho, como de costume, fica em aberto. Com não apenas um, mas dois ganchos para temporada seguinte. Tanto o mistério da Fazenda, quanto Grifos e Gárgulas não foram encerrados, apenas se tornaram um segredo diferente. Enquanto um flashforward nos minutos finais, plantam uma semente de medo sobre o futuro de um dos protagonistas. Eles querem ter certeza absoluta de te deixar curioso e ansioso para o já confirmado ano quatro.
Riverdale precisa crescer para além dos limites da cidadezinha que lhes dá nome. Não é possível que a situação da cidade, não chame atenção de alguém de fora. Ou mesmo que Hiram Lodge com tanto poder, fique confinado ali. Ao mesmo tempo, precisa começar a planejar seu final, antes que os exageros e absurdos fiquem insustentáveis, mesmo para os espectadores mais fiéis.
É hora de aproveitar o tom de ano de formatura da próxima temporada, e seus muitos episódios para destrinchar com riqueza de detalhes este acúmulo de mistérios e exageros. Sem acrescentar mais, apena tornando a trama coesa, e bem desenvolvida. É também preciso ter coragem para encerrar a série em seu quarto ano. Assim, Archie e companhia se formariam com honras e um final planejado e bem construído, digno da dedicação dos fãs.
Riverdale é exibida pela Warner Channel. Suas duas primeiras temporadas estão disponíveis também na Netflix. O segundo e terceiro anos tem 22 episódios cada, enquanto o primeiro apenas 13.
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