O Outro Pai

Eu não sei você, caro leitor, mas toda vez que entro na Netflix tenho a sensação que o serviço de streaming está focando em produções voltadas para o público juvenil. Ao menos é esta a sensação que tenho, quando procuro uma obra descompromissada, e esbarro em títulos como O Date Perfeito, Para todos os garotos que já amei e Barraca do Beijo. Não há nada errado com estas produções, mas de vez em quando queremos ver algo diferente. Foi desviando dos muitos romances juvenis que descobri O Outro Pai.

Claudia (Belén Cuesta), Sofía (Amaia Salamanca), Sara (Blanca Suárez) e Lucia (Macarena García) são irmãs que pouco tem em comum e por isso vivem distantes. Ciente disso, sua espirituosa mãe lhes deixa em testamento uma grande revelação e uma tarefa como requisito para que as moças possam receber a herança. Nenhuma das quatro é filha biológica do homem que as criou, elas devem descobrir juntas suas verdadeiras origens, encontrando o verdadeiro pai de cada uma.

Assim, o filme apresenta através destas quatro personagens, as diferentes reações e relações para uma mesma situação. Há a filha certinha, que tenta disfarçar seu casamento fracassado, aquela que precisou escolher entre carreira e amor, outras de dificuldade de assumir compromissos e se sentem excluídas da família por razões distintas. Com personalidades tão distintas, cada uma vai reagir a seu próprio modo à esta revelação bombástica e consequentemente afetar a relação entre elas. No final das contas, é esta última relação que conta, indo além de paternidades perdidas e relacionamentos fracassados.

Divertida, simples e direta essa "dramédia" espanhola tem apenas 79 minutos de duração. Parece pouco tempo para lidar com tantas personagens, mas o roteiro acerta ao ir direto ao ponto. Sem gorduras ou enrolação, rapidamente somos apresentadas às protagonistas e sua curiosa situação. E como as moças tem pressa em resolver o problema e se separar, o filme o ritmo acelerado delas, e aos poucos desacelera conforme as consequências das descobertas as atingem e e ajudam a reconstruir suas relações. Embora nunca se torne lento ao ponto de destoar de seu início.

A duração curta e o ritmo, não são as únicas características diferentes das que estamos acostumados. O estilo da atuação tem um tom mais teatral, que se aproxima mais das novelas mexicanas, que dos filmes hollywoodanos. Mas sem exageros, como rompantes de emoção e nomes duplos proclamados com pompa dos folhetins, é uma diferença cultural curiosa e bem vinda. Uma vez que nos ajustamos ao estilo, não fica difícil se relacionar com as personagens, e acreditar em suas relações. Cuesta, Salamanca, Garcia e Suárez constroem uma boa química, e uma dinâmica de irmãs verossímil.

Bom, verossímil dentro do contexto de sua aventura, que minimiza os traumas da experiência. O roteiro não faz pouco caso dos dilemas e tristezas das personagens, mas prefere focar no aprendizado que vem com ele. A intenção aqui é entreter e divertir, e isso a produção consegue.

Completam o elenco bons nomes da dramaturgia espanhola, alguns que já vislumbramos em um ou outro filme hollywoodiano, como Carlos Bardem, Emilio Gutiérrez Caba, Tito Valverde e Juan Diego. Rossy de Palma e Marisa Paredes, colaboradoras constantes de Pedro Almodóvar, são as mais reconhecidas por aqui.

O Outro Pai é despretensioso, leve, divertido e principalmente diferente. Não traz grandes reviravoltas, ou atuações arrebatadoras e nem pretende. Seu objetivo é entreter por alguns minutos, e isso a produção faz bem. Uma boa opção para quem procura alguns momentos de diversão despretensiosa, mas quer fugir da mesmice juvenil do catálogo de streaming.

O Outro Pai (A pesar de todo)
2019 - Espanha - 79min
Comédia, Drama


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