Shazam!

Com grandes poderes vem... grandes poderes, ué! A responsabilidade e o consequente intuito de ajudar o próximo cada um constrói a seu tempo. Ou não. É isso que vai definir se você é um herói, vilão, ou só um cara com habilidades legais sub-aproveitadas. Shazam! precisa descobrir qual destes caras pretende ser, aprender a lidar com suas habilidades e encontrar um lar, nesta primeira aventura. Muito trabalho para alguém de apenas quatorze anos.

Billy Batson (Asher Angel) é um adolescente que salta de um lar adotivo para outro, se recusando se relacionar com qualquer família adotiva. Logo após chegar em uma nova casa, ele recebe poderes de um mago, se transformando em um herói adulto toda vez que grita Shazam! (Zachary Levi). Explorar e exibir seus poderes são a diversão perfeita, até que o super-vilão Dr. Sivana (Mark Strong) resolve brincar também.

Shazam! existe no mesmo universo que os demais filmes de heróis da DC. De fato, é a existência destes personagens que de certa forma ajudam o protagonista a começar a compreender o heroísmo. Mas as conexões param por aí, as aventuras de Billy são diferentes em estilo, tom e até gênero.

Assumidamente uma comédia para toda a família, o roteiro se aproveita ao máximo da condição incomum de seu protagonista, uma criança presa no corpo de um adulto. Situação que inevitavelmente evoca o clássico da Sessão da Tarde, Quero ser Grande, no qual a produção tem orgulho de se inspirar.  O diferencial aqui, são os poderes que oferecem piadas diferentes e um maior potencial de exagero, que o longa estrelado por Tom Hanks. Afinal, estamos falando de um marmanjo de colante enchimento e capa. O protagonista é uma crianças, sem as amarras da responsabilidade de seus colegas poderosos, ele pode se divertir com suas habilidades. 

As piadas são acertadas, e estão presentes ao longo de todo o filme, mas este não se vale apenas delas para funcionar. A produção tem seus momentos mais dramáticos. Billy tem um arco a ser desenvolvido além dos super-poderes, assim como o vilão. Ambos relacionados com família.

É na capacidade de se portar como uma criança empolgada com o mundo e no carisma de Zachary Levi, que o humor mais ingênuo se sustenta e torna crível. O ator acerta no tom da ingenuidade e da comédia. Além de quase sempre soa mais como um adolescente genuíno que seu correlato mirim, até porque cabe a ele, as cenas de encantamento com as super habilidades. Asher Angel entrega relações corretas, mas parece sempre mais contido que sua versão super. A discrepância, não chega comprometer, mas pode incomodar alguns.

No elenco mirim, quem chama atenção é Jack Dylan Grazer (de It: A Coisa) como Freddy, o adolescente que divide a aventura com o protagonista. Um nerd ao mesmo tempo irritante e cativante, ele rouba a cena nos momentos em que contracena com Angel, e atua no mesmo nivel que Levi. As demais crianças entregam o necessário, embora atendam a alguns estereótipos desnecessários como o asiático viciado e tecnologia Eugene (Ian Chen). O destaque para a fofíssima Faithe Herman, que interpreta a caçula Darla.

É no vilão genérico vivido por Mark Strong que o longa tem seu ponto mais fraco. Mais devido aos maneirismos do ator que já fez este mesmo papel em diversas produções, que pelo roteiro em si. Este até constrói uma motivação razoável para o malvado, que também ajuda a construir a mitologia do herói, ao custo de uma introdução um pouco mais arrastada que o restante o filme. O acerto, e real ameaça que o Dr. Silvana oferecem estão nas criaturas atreladas a ele. 

Também estão relacionadas aos monstrões de CGI, as poucas sequências mais assustadoras da produção. Nada que aterrorize demais os pequenos, mas o suficiente para lembrar a estreia no terror do diretor David F. Sandberg (Annabelle 2: A Criação do Mal).

As cenas de ação funcionam, especialmente nas sequencias de treinamento e salvamento. As lutas são menos memoráveis, mas coerentes com a produção. Billy não tem nenhum treinamento de luta, logo os embates acertadamente não tem coreografias sofisticadas. A produção ainda ganha pontos, por optar em usar os atores em cabos, ao invés dos bonecos de CGI, muito usados por sua concorrente a Marvel. O efeito também não é perfeito, mas a presença dos interpretes cria uma conexão e um senso de perigo maior para o expectador.

Há ainda duas cenas pós créditos, e várias referências ao Superman, Mulher Maravilha, Aquaman e Batman. Assim como à outros ícones da cultura pop. Fique de olho!

Divertido, leve e eficiente. Shazam! tem potencial para se tornar a franquia com a qual a molecada mais se identifica e sente representada. Mas tem nostalgia o suficiente para alcançar também os adultos, afinal todos já fomos adolescentes que se divertiriam muito com grandes poderes e só um pouquinho de responsabilidade.

Shazam!
2019 - EUA - 132min
Aventura, comédia, ação

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