O Retorno de Mary Poppins

Sequencias, remakes, reimaginações, adaptações, há quem diga que estamos em uma era em que pouco se cria no cinema. Há também quem aposte todas as fichas na nostalgia e familiaridade. Logo, é inevitável questionar a existência de alguns títulos, quando seus originais ainda funcionam perfeitamente para o público atual. Sendo assim, as questões aqui são, se a existência O Retorno de Mary Poppins se justifica para audiência de hoje, e se este consegue fazê-lo sem macular a memória do clássico com Julie Andrews.

Em uma Londres ainda abalada pela Grande Depressão, Mary Poppins (Emily Blunt) retorna à casa da família Banks, supostamente para tomar conta de Annabel (Pixie Davies), Georgie (Joel Dawson) e John (Nathanael Saleh). Mas, assim como o original são os adultos quem mais precisam da babá. Os irmãos Jane e Michael Banks (Emily Mortimer e Ben Whishaw) enfrentam dificuldades desde a morte da esposa de Michael, e a casa da família está em risco.

Apesar de ser praticamente perfeita em todos os sentidos, personagem título não dispensa ajuda em suas missões. Aqui ela conta com o apoio de Jack (Lin-Manuel Miranda), pupilo de Bert (Dick Van Dyke), para levar as crianças para aventuras em mundos animados, visitas a personagens únicos, e também para ter um gostinho de mundo real, com muita música dança e aprendizado.

Sim, o roteiro desta nova aventura é praticamente o mesmo do longa de 1964. A semelhança vai desde elementos e situações, passando pela ordem em que as coisas acontecem, até os momentos de virada. A aposta aqui é sem dúvida na nostalgia gerada pela familiaridade. E funciona. É difícil não esboçar um sorriso, ao reconhecer uma referência ou homenagem ao clássico com que crescemos.

Por outro lado, esta referência exagerada, torna impossível evitar a comparação. É aqui que a produção perde um pouco de seu brilho. Chega a ser injusto, comparar as boas canções e números musicais da produção atual, com os clássicos que sabemos de cor. A sensação é de que nenhuma canção é tão marcante quanto os que já conhecemos, e nenhum dos números se destaca ao ponto de continuar com você após a sessão. Tudo soa um pouco repetitivo, e pode decepcionar quem esperava algo à mais.

No entanto, na comparação mais complicada o filme se sai muito bem. A Mary Poppins de Emily Blunt, tem uma personalidade mais afinada com os tempos atuais, sem no entanto descaracterizar a personagem apresentada por Julie Andrews em 1964. A postura, ternura e trejeitos, ainda estão lá, mas o tom é um pouco mais moderno, permitindo que Blunt imprima sua marca na composição.

E por falar no elenco, Ben Whishaw tem alguns momentos mais tocantes, mas no geral o elenco adulto formado por grandes nomes tem poucas cenas para trabalhar. Emily Mortimer, Julie Walters, Colin Firth e Meryl Streep são eficientes, mas sabemos que sempre podem oferecer mais, quando o roteiro permite. Lin-Manuel Miranda praticamente divide o protagonismo com Blunt, e o faz bem, mas seu personagem, uma "nova versão de Bert" é o que mais deve sofrer com comparações. O elenco mirim cumpre sua função de serem fofos, se encantarem pelo mundo, com o bônus de serem um pouco mais responsáveis e independentes que seu pai na mesma idade.

Entretanto, todos os grandes nomes em cena nenhum chama mais atenção que Dick Van Dyke. Único ator da produção original a retornar, aos 93 anos, faz uma participação curta, porém marcante. Cheia de referências, com música, e pasmem, dança!

De volta ao filme, honestamente não sei se a molecada atual acostumada com CGI se encantará com os efeitos especiais deste longa, tão facilmente quanto nós encantamos com o original da era pré-computação gráfica. Potencial para tal as sequencias tem. Além disso, as cenas fazem uso bom uso de efeitos práticos, e quando não, emulam muito bem o estilo e atmosfera do primeiro filme com eficiência. O mesmo vale para figurino, fotografia e cenários, que nos transportam de volta ao número 17 da Rua das Cerejeiras com sucesso.

Fruto de seu tempo O Retorno de Mary Poppins, é aquela sequencia com gostinho de remake, semelhante à O Despertar da Força. A diferença aqui é que não há intenções claras de tentar estender a franquia. Não que isso não seja possível. Por hora, a produção cumpre aquilo à que se propôs, trazer a babá criada por P.L.Travers para novas gerações. E, principalmente, fisgar aqueles que já são fãs, através da nostalgia e reverência ao original.

O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns)
2018 - EUA - 130min
Musical, Aventura, Fantasia

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