Uma família inocente se muda para uma casa antiga, e a residência assombrada ameaça e muda suas vidas para sempre. A premissa de A Maldição da Residência Hill é uma velha conhecida do gênero de terror. De fato, A Assombração da Casa da Colina de Shirley Jackson, livro em que a série foi baseada, já ganhou duas adaptações para o cinema. Então como fugir do cliché do subgênero, e ao mesmo tempo preencher longas dez horas de projeção de uma série? Apostando não apenas na história, mas na forma de contá-la.

Assim, os episódios passeiam entre as diferentes épocas, com transições tecnicamente fluidas e bem construídas, que valem um olhar mais atento. Enquanto narrativamente, o roteiro opta por unir estes dois momentos através de temáticas e símbolos. Criando uma curiosa relação de causa e efeito que transcende os conceitos de linhas temporais. Além de deixar o espectador sempre alerta para as conexões entre os tempos, já que estas geralmente fornecem explicações e motivações para acontecimentos e ações dos personagens.
E por falar nos personagens, estes também recebem uma atenção meticulosa do roteiro, através de episódios de ponto de vista. A primeira metade da temporada é dedicada a mostrar a experiência de cada uma das crianças Crane na casa, e como suas vidas seguiram a partir disso. E claro, os acontecimentos da infância refletem em suas vidas adultas. Vale mencionar aqui, que a série traz diferentes tipos de fantasmas, entre eles os das nossas mentes, traumas, medos e desejos que carregamos.



Diferença esta que se apresenta também na forma de contar a história. A produção favorece efeitos práticos, explora ao máximo as possibilidades de seu assustador cenário/personagem, a casa, e brinca com ângulos e movimentos de câmera. A experimentação do diretor Mike Flanagan, que também é roteirista, chega ao seu auge no excelente sexto episódio. Duas Tempestades é formado, por longos complexos e verborrágicos planos sequências, que incluem a presença de crianças e fantasmas. Um desafio de produção que a série se dispôs a encarar, e o resultado é excepcional.
O elenco mirim é outro acerto. Bem escolhidos e dirigidos, os pequenos Violet McGraw e Julian Hilliard, convence ao passar vivacidade inocência que contrastaram com suas versões adultas. Paxton Singleton, é coerente como irmão mais velho prestativo, mas alheio à realidade. Lulu Wilson (Annabelle 2, Sharp Objects) e Mckenna Grace (Eu, Tônia, Um Laço de Amor), se unem ao irmão naquela fase da vida em que, apesar de não entendermos o que realmente se passa, já percebemos quando algo não vai bem.
No elenco adulto o destaque fica com Carla Gugino, que passa com mesma intensidade os sentimentos de fragilidade, preocupação e confusão, que a Olivia enfrenta. Sempre com a doçura de uma mãe amorosa. Timothy Hutton e Henry Thomas (o Eliot, de E.T.:O Extraterrestre), conseguem criar coesão entre os diferentes estágios da vida de Hugh, pai da família. Outros rostos conhecidos em cena, são Michiel Huisman (o Daario Naharis de Game of Thrones) e Elizabeth Reaser (Saga Crepúsculo).

Ciente de sua premissa exaustivamente explorada, A Maldição da Residência Hill se diferencia ao apresentar bem seus personagens - inclua aqui a casa em si -, construir relações e personalidades complexas, e envolver o espectador no mistério. Traz uma narrativa cheia de ecos e ciclos, que se complementam e completam, resultando em um final emocionante e convincente, apesar dos aspectos sobrenaturais da história. E também assusta no processo.
Deve agradar quem gosta de séries que demandam atenção como Westworld, e principalmente quem prefere o terror que vai além do susto fácil ou do medo momentâneo. A Maldição da Residência Hill constrói o medo, ao invés de simplesmente assustar. É uma grata e assustadora surpresa!
A Maldição da Residência Hill tem dez episódios com cerca de uma hora cada. Todos já estão disponíveis na Netflix.
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