A Freira

Em Invocação do Mal, os Warren nos apresentaram a um novo universo de entidades sobrenaturais. Annabelle inaugurou a apresentação das "altas aventuras" destes mau-agouros, antes de esbarrarem nos demonologistas. A Feira é a segunda criatura a ganhar um filme que apresenta sua história.

Após um suicídio de uma jovem freira em um convento na Romênia, o Vaticano envia o perturbado Padre Burke (Demián Bichir) para investigar o ocorrido, acompanhado pela noviça Irene (Taissa Farmiga). A dupla vai precisar descobrir e entender a história da Abadia para enfrentar a força do mal que habita a construção.

A Freira, abraça o estilo investigativo adotado pelas aventuras dos Warren, com duas diferenças. A primeira, é que apesar da suspeita existir, os personagens deste filme não tem a certeza de estar investigando um caso sobrenatural. E a segunda, e maior delas, esta aventura não está preso à casos ou personagens reais. Essa "liberdade" oferecem um frescor que conta pontos a favor deste novo capítulo da franquia.

Apesar de conhecermos o monstro, o caminho aqui é de descoberta. Estamos em outro país acompanhando pessoas novas, e um mistério também novo. A gradual descoberta da história da abadia, limitada pelo fato de se tratar de um convento de clausura, é o que dita o ritmo da trama. A ameça se intensifica conforme conhecemos mais do convento, de seus moradores e também dos investigadores. Se o medo do desconhecido é grande, entender a ameaça nem sempre melhora a situação.

O roteiro tenta agradar dois público de terror ao conciliar momentos de tensão e terror psicológico, com os tradicionais jump-scares. O resultado é surpreendentemente positivo. Não entedia quem prefere os sustos fáceis, ao mesmo tempo que consegue construir uma atmosfera enervante para quem não costumam se empolgar tanto com eles.

Parte da construção desta atmosfera fica por conta da construção visual daquele universo. E a direção de arte consegue passar a sensação de enclausuramento, sem apelar apenas para quartos e corredores pequenos e claustrofóbicos. Os ambientes mais amplos, e até espaços externos, são muito mais condizentes com o castelo em que a história se passa. A criação do espaço assustador fica por conta dos elementos que decoram os ambientes, naturalmente assustadores por sua natureza religiosa e pelo jogo de luzes e sombras criado pela iluminação de velas, lampiões  e janelas.

E por falar em natureza religiosa, a imagem de uma freira em si, vestida em seu habito completo, também é misteriosa e potencialmente assustadora. E a produção tem total consciência disso ao explorar ao máximo a natureza desta figura, tornando a semelhante a sombras ou vultos pelos cantos, seja usando várias delas para criar uma simetria tão bizarra quanto graficamente bela.

Destoando desta imagem fantasmagórica, literal e figurativamente, está a irmã Irene. Em uma boa interpretação, Farmiga consegue encarnar uma pessoa de espírito livre, que compreende o "lado sombrio" do mundo. Taissa Farmiga é irmã de Vera Farmiga, a Lorraine Warren dos filmes Invocação do Mal, um easter-egg interessante para os fãs, e um ponto extra na empatia e familiaridade com a moça. Não que Taissa precise de ajuda nesse quesito.

Se a moça é o ponto de luz na trama, Burke é a alma atormentada que precisa enfrentar os próprios demônios, em uma atuação convincente de Bichir. Frenchie (Jonas Bloquet), completa o elenco principal. O guia da região traz também toques de humor para a trama, sem dúvida a mais "bem-humorada" da franquia. Estas pausas bem situadas, fornecem momentos de alívio e alguns sorrisos sinceros em meio à muitas "rizadas de nervoso".

Ainda sim, o filme não escapa de uma ou outro escorregão de lógica, se você escolher pensar muito nos detalhes. Especialmente em relação às escolhas de alguns personagens, mas quando foi que pessoas de filme de terror foram sensatas? E estas questões provavelmente te atingirão após a sessão, sem estragar a experiência na sala escura.

O mais novo capítulo do universo de terror da Warner, aposta na atmosfera bem construída, em um ritmo de ameaça crescente, no elenco carismático - eu acompanharia a dupla de protagonistas em outra caçada sem pestanejar - e em sua história individual para assustar de forma eficiente. Funciona sozinho, mas não deixa de estar bem conectado à esse universo. Pode não superar o primeiro invocação do mal, mas entrega o que propôs e diverte. Se as próximas criaturas seguirem os passos de A Feira, vamos ter muito mais bons capítulos assombrados para acompanhar.

A Freira (The Nun)
EUA - 2018 - 97min
Terror


Leia as críticas dos outros filmes da franquia: Invocação do MalAnnabelle, Invocação do Mal 2, Annabelle 2 - A Criação do Mal

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