Bom Menino

Recentemente, o fenômeno de Caramelo da Neflix, reacendeu a velha piada sobre nos preocuparmos mais com o destino dos cães do que dos humanos no filme. O que torna o momento bastante oportuno para a chegada de Bom Menino, longa de Ben Leonberg que inova ao nos mostrar a tradicional história de uma casa mal assombrada pela perspectiva canina. Se o público já teme pelos cachorro em dramas, imagina o que acontece em um filme de terror estrelado por ele. 

Indy é o fiel cãozinho de Todd (Shane Jensen), humano que descobriu uma doença terminal e resolve mudar para a casa de campo do avô. Lá, enquanto o tutor começa a cuidar da residência abandonada e desenterrar memórias de família, o cachorro começa a notar presenças e eventos estranhos. 

A trama é típica de filmes de casas amaldiçoadas, barulhos, vultos, pesadelos sugestivos e outras atividades paranormais começam a atormentar o protagonista. Que nesse caso, é um cachorro! E é pela perspectiva dele que vêmos o mundo e suas assombrações. Acompanhamos suas reações, desconfianças, medos e até tentativas de alerta mal sucedidas, antes do grande embate com seja lá o que assombra a residência. 

Uma porposta interessante, e bem executada por Leonberg. O diretor usa a perspectiva diferente, na altura do cão, para distorcer, esconder e deturpar, não apenas o sobrenatural, mas também o mundo humano. Mal vemos o rosto de Todd, por exemplo. Escolha bem interessante, que ele quase consegue manter por todo o filme. No clímax, um olhar mais direto sob o tutor humano acaba se fazendo necessário, quebrando o estilo. Uma pena!

Entreanto, o problema de verdade é que as ações do protagonista são limitadas por sua persona canina. Ele não tem como pesquisar sobre os eventos, ou mesmo conversar com alguém para entendê-los. Até o ato de pedir ajuda a terceiros é limitado. Então ficamos nós público, e protagonista tentando interpretar pistas vagas. O que leva o diretor a repetir essas pistas. 

Presença, criaturas, fantasmas, sonhos, doença um ciclo que se repete ao menos três vezes, antes do clímax para que o filme alcance a duração de longa metragem. O que é compreensível, o filme não seria financeiramente viável como um curta. Mas, ao não conseguir se extender sem se repetir, o roteiro se torna cansativo, e vai gradualmente perdendo o interesse do público. Enfraquecendo seu ponto de vista inovador. 

O elenco é bem econômico. Indy conquista nossa torcida imediatamente, extremamente expressivo sem ajuda de computação gráfica. Já os humanos se restrigem ao tutor, duas ou três pessoas com quem interage, e poucas outras que aparecem em uma TV, propositalmente antiga, para que não vejamos muito bem rostos humanos. 

A mensagem é sobre amizade e lealdade, já que acima de tudo, o protagonista quer proteger seu humano à todo custo. Já a assombração em questão, nunca entendemos completamente, mas o filme deixa margem para interpretações. Desde uma maldição sobrenatural real, até a iminência da morte inevitável do tutor em estágio terminal. Escolho a segunda versão, onde os eventos que atormentam o doguinho são na verdade metáforas para a perda de seu tutor, sendo levado gradualmente pela morte. 

Bom Menino não vai virar uma franquia de terror canina. Mas é um bom experimento cinematográfico. Daqueles que exploram novos olhares e possibilidades para tramas conhecidas, é curtinho ainda que cansativo em alguns momentos pela repetição, mas ao final vale pela experiência. 

Bom Menino (Good Boy)
2025 - EUA - 73min
Terror

Post a Comment

Postagem Anterior Próxima Postagem