Amor e Morte

Tema que sempre despertou a curiosidade de muitos o "True Crime", os crimes reais, estão mais em alta do que nunca. Não faltam, livros, podcasts, séries, filmes e quaisquer outras formas de conteúdo possíveis contando e analisando assassinatos e outras atrocidades cometidas no mundo real. Também não faltam diferentes formas de abordar essas histórias, Amor e Morte da HBO, é uma dessas obras que propõe uma abordagem própria sobre um evento real. 

Calma, quando eu disse "abordagem própria", não quis dizer que eles estavam alterando e mudando os eventos. Até porquê em se tratando de um assassinato, apenas os envolvidos podem ter certeza de tudo que realmente aconteceu. E a parcela sobrevivente, em outras palavras o assassino, nem sempre é um narrador confiável. Aqui acompanhamos a história pelos olhos de Candy Montgomery (Elizabeth Olsen).

Dona de casa, mãe de família, membro ativo de sua igreja, Candy é uma moradora modelo de uma cidadezinha no interior do Texas. Mas entediada, resolve convidar o marido de uma miga para ter um caso. Depois de ponderar Allan Gore (Jesse Plemons) aceita e a relação dura algum tempo. O resultado disso é um assassinato brutal e de desdobramentos surpreendentes. 

Já existem outras obras, inclusive uma serie no Star+ chamada Candy, que contam a história do crime acontecido em 1980, e de seu posterior julgamento. Mas, se você ainda não esbarrou em algum deles, recomendo que assista a minissérie da HBO primeiro. Já que a produção aposta no mistério e no comportamento incomum de Candy para prender a atenção do público. Descobrir a cada episódio como cada personagem vai agir e as consequências disso, é parte da diversão. 

Diversão essa, que somada ao tom leve que o roteiro toma em alguns momentos, pode até nos fazer acreditar que se trata de uma história fictícia. Um belo exemplo é a forma jocosa com que a série mostra a burocracia que Candy e Allan criam para organizar seu caso amoroso. Leveza que à primeira vista parece destoar do tema da obra, um assassinato com mais e quarenta machadadas, mas que é crucial para apontar a hipocrisia da sociedade e do "american way of life". E principalmente para chocar quando finalmente vemos o crime acontecer.

O tom mais leve, também ajuda a tornar crível, quando a história entra na parte do julgamento, a estratégia absurda da defesa. Essa sim, um pouco alterada e amenizada, de acordo com o que pesquisei sobre o caso. Pois é, o plano do advogado de defesa na vida real é ainda mais absurdo e surpreendente. 

Elizabeth Olsen conduz o tom da narrativa com uma Candy, carismática, divertida e muito mais espirituosa que todos a sua volta. Tanto que a seu amante vivido por Jesse Plemons, oscila do tom robótico da sua vida pacata, para uma vivacidade contida quando está com a moça. Sim, eles querem que a gente torça pra ela, independente de seus atos. E a abordagem funciona!

Patrick Fugit é o marido traído, distante e conectado, ao ponto de ser o último a saber de qualquer coisa, e aceitar passivamente todos os absurdos que acontecem em sua vida. O "quarteto amoroso" é completado pela Betty Gore de Lily Rabe, uma esposa carente, depressiva e paranoica, o oposto da protagonista na tarefa de gerar empatia. 

O elenco ainda traz Tom Pelphrey, como o advogado sem escrúpulos, mas surpreendentemente certeiro. Enquanto Krysten Ritter, Keir Gilchrist e Elizabeth Marvel ajudam a compor a comunidade em que Candy vive. 

A produção traz a qualidade esperada de uma obra da HBO (no caso HBO Max, já que a minissérie está disponível apenas no streaming, não no canal de TV). Com uma reconstrução de época caprichada, ainda que não traga caracterizações completamente fiéis das figuras retratadas. O que é coerente com a abordagem escolhida, além de ser uma versão pouco confiável de apenas um dos envolvidos, a obra se dá o direito de reduzir e ajustar eventos para contar a história à sua própria maneira. 

Bem desenvolvida e surpreendentemente divertida, Amor e Morte quase nos faz nos sentir culpados por nos entreter tanto a partir da tragédia de alguém. Mas é disso que se trata a indústria de "true crime", não é mesmo. Sendo assim, só posso deduzir que a série é um bom exemplar desse nicho. E vale a atenção até de quem não é tão fã de crimes reais.

Amor e Morte tem seis episódios com cerca de uma hora cada. Todos estão disponíveis na HBO Max.

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