Stranger Things - 5ª temporada (parte 1)

A primeira parte da quinta temporada de Stranger Things é a representação perfeita do fim de uma era. O fim da hegemonia da Netflix, de seu formato de maratona, e da ousadia e originalidade que marcaram as primeiras obras da plataforma de streaming. Trazendo uma fórmula repetida, desgastada, mas que ainda empolga, graças ao envolvimento prévio com aquele mundo, e a momentos pontuais de grande impacto. 

Mas estou me adiantando, primeiro vamos falar sobre como encontramos Hawkings e seus habitantes após o final apocalíptico do quarto ano. E os encontramos "na mesma"! Eis aí a primeira decepção com o retorno da série. O chão literalmente se abriu nos episódios anteriores, e sim, a cidade está em quarentena. Entretanto um olhar mais minucioso deixa claro, o statuos quo é o mesmo das temporadas anteriores.

O grupo de personagens conhecidos ocupados com a "missão da vez". Eleven (Millie Bobby Brown) isolada, escondida de uma entidade poderosa. Antes os cientistas do laboratório, agora os militares. E o restante da cidade seguindo suas vidas como se nada houvesse. 

O chão se abriu, dezenas de pessoas sumiram ou morreram em circunstancias misteriosas, monstros foram vistos, mas as aulas continuam normamente, o hospital também, assim como restaurantes (como conseguem em uma quarentena controlada?). Ninguém além dos personagens principais tenta sair, faz perguntas. Enquanto o mundo externo continua alheio à tudo. Ok, era os anos 1980, mais fácil do governo acobertar. Ainda sim, eu esperava encontrar mais caos na cidade, e mais urgência também.

O grupo passou os ultimos meses, vasculhando o mundo invertido em busca de Vecna (Jamie Campbell Bower). Os militares tem acesso à um mundo novo, cheio de criaturas e mistérios, mas seu maior foco é uma adolescente. É preciso o vilão finalmente retornar (após se recuperar das feridas, talvez?) para finalmente colocar a história em andamento. Então, tudo acontece em um par de dias. 

Sequestros de crianças no mundo normal, pessoas perdidas no mundo invertido e planos mirabolantes que, sabemos desde o princípío, falharão. Preenche horas de duração até que algo relevante de fato aconteça. Este algo relevante é a evolução de Will.

Pivô que deu o pontapé inicial da série, o personagem de Noah Schnapp finalmente recebe a atenção que merece. Ao interagir mais com Robin (Maya Hawke) compreende quem realmente é, desbloqueando todo seu potencial, literal e figurativamente. Uma construção tardia, mas bem feita que é responsável pela nota alta em que esta primeira parte termina. A recompensa que disfarça a enrolação para garantir episódios longos, e boas métricas de visualização. Nas plataformas de streaming, o tempo que se fica logado é uma métrica importante. 

Além do deabrochar de Will, outros poucas linhas narrativas avançam. Começamos a ter um vislumbre dos planos do vilão, e do destino de Max (Sadie Sink). E o primeiro embate entre Eleven e a nova vilã Dr. Kay (Linda Hamilton). Mas novamente, muito tempo é gasto com pouca evolução, e o resultado é inconclusivo. Nos faz recear que os episódios finais, vão ter coisas demais para resolver. 

Além da personagem de Hamilton, as novidades da série são poucas. Finalmente a irmã de Mike (Finn Wolfhard), Holly (Nell Fisher) tem idade para participar dos conflitos. E junto com o valentão de sua escola Derek (Jake Connelly) suprem a cota de crianças por quem torcemos. Uma vez que o elenco original já está crescido. 

Aliás a idade dos personagens é um problema. O ex-elenco mirim está visivelmente na casa dos 20, e a caracterização da década de 80 os envelhece ainda mais (basta lembrar dos vídeos virais dos jovens do Programa Silvio Santos da época). Entretanto o roteiro ainda os entende, e os trata como crianças. Não apenas na interação com os adultos Hopper e Joyce (David Harbour e Winona Ryder), que seria justificado como super-proteção, mas entre eles mesmos. É por isso inclusive que a relação entre Robin e Will tem tanto impacto, ela o trata como igual, honestidade que o roteiro não consegue imprimir todo o tempo. 

E temos ainda o problema de Eleven. Super-poderosa, desde que deixou a ingenuidade de quem não conhece o mundo fora do laboratório, a personagem simplesmente não funciona bem com o grupo. E suas habilidades resolveria muitos dos problemas rápido demais. Motivos pelos quais em desde a segunda temporada a série se repete em isolá-la dos demais e sabotar seus poderes. O que acontece nessa primeira parte também. 

Tendo apontado todos essas falhas e poréns, no entanto, não posso afirmar que não me diverti. Na maior parte do tempo, o apego aos personagens, o retorno aos anos 80 (para quem viveu, e a descoberta para os mais jovens), as referências, a trilha sonora e a curiosidade pelo desfecho parecem ser mais que suficientes para nos manter entretidos. 

Entre os pontos altos, o mundo criado por Vecna para prender suas vítimas em uma ilusão no estilo Alice no País das Maravilhas. Cheio de referências, pistas e possibilidades até demais. A jornada de Max que traz até viagens no tempo através de memórias. E claro, as cenas de ação, como os ataques dos demogorgons, e a fuga das crianças da base militar. 

O visual da década de 1980, exagerado e caricato não decepciona (a gente realmente se vestia assim?). Em contraponto, os efeitos especiais sim. Não nas criaturas, os mosntros continuam eficientes como nas temporadas anteriores, mas na construção da atmosfera no mundo invertido. A sensação de excesso de tela verde é inevitável e incomoda em muitos momentos. Talvez porque esta seja a primeira vez que passamos tanto tempo nesse mundo. 

Então sim, os primeiros quatro episódios do desfecho de Stranger Things são compostos de altos e baixos. A fórmula não traz novidades, mas ao menos começa a se encaminhar para um desfecho. Enquanto o apego aos personagens, ao universo, e principalemente a cruiosidade compensam os momentos mais fracos.

A torcida é que os próximos e derradeiros episódios sigam uma curva ascendente. Trazendo mais tensão, criativadade e recompensa por essa década acompanhando e, principalmente, sempre esperando pela próxima temporada. Seja o final da série bom, ou não, uma coisa é certa: a Netflix dificilmente vai conseguir repetir esse fenômeno.

Os quatro primeiros episódios da quinta e última temporada de Stranger Things já estão disponíveis na Netflix. O restante chega em duas partes, no Natal e no Ano Novo. 

Leia mais sobre Stranger Things, tem curiosidades e críticas de todas as temporadas aqui no blog. 

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