Mauricio de Sousa: O Filme

Quando cinebiografias são produzidas com grande envolvimento do retratado ou de sua família, já é esperado que a obra seja "chapa branca". Em outras palavras, que tenha temas omitidos ou amenizados para não comprometer o biografado, enquanto extrapola na exaltação de seus pontos positivos. O que não priva as narrativas de criar conflitos, dilemas e dificuldades a serem superadas heróicamente pelo protagonista, que por sua vez amplificam nosso comprometimento com a obra. 

Mauricio de Sousa: O Filme entretanto, consegue extrapolar na benevolência com a jornada do quadrinhista. Ao ponto de eliminar conflitos completamente. Transformando o desenrolar de sua vida e carreira em um check list de eventos da wikipédia. 

Partindo de sua infância, o pequeno Maurício (vivido pelo fofo Diego Laumar) já demonstra o interesse por quadinhos, desenhos e o olhar observador que o fez encontrar personagens entre figuras reais que encontrou ao longo da vida. 

Já na fase adulta, o papel é vivido por Mauro Souza, filho de Maurício (aquele que inspirou o Nimbus) e por tanto, com uma semelhança física notável. Entretanto, por mais carismático e parecido com o pai que seja, o interprete ainda não tem experiência para carregar o filme sozinho. Em especial um com um roteiro tão fraco. 

É o roteiro o grande problema de Mauricio de Sousa: O Filme. O texto pouco constrói os conflito, tão pouco os explora. Apresentando-os em uma cena, e os resolvendo imediatamente na cena seguinte. Os pais do protagonista vão se divorciar, e ele vai se mudar para são paulo? Tudo bem, a avô (Elizabete Savala) se despede e o conforta. Ele busca um trabalho com desenhos no jornal? Não consegue, mas sai com a vaga de jornalista, ficando disponível na redação para quando suas habilidades artísticas forem necessárias. 

E mesmo as soluções mais interessantes, como quando sem emprego ele descobre um jeito de vender sua arte para jornais de várias cidades simultaneamente, a resolução do dilema é apenas contada, não mostrada. Já o grande clímax, a criação da Mônica é apresentada de forma tão didática e repetitiva, que nos faz questionar toda a genialidade apresentada pelo roteiro até então. 

Maurício é taxado de misógeno por não criar personagens femininas, e precisa remediar isso. Ele tendo crescido com irmãs, casado com uma mulher, pai de três filhas, não entende nem conhece as meninas. Precisa que a avó diga com todas as letras que a solução para seus problemas está em sua família, e mesmo assim não entende a dica de imediado. Mesmo com as meninas correndo e, círculos em volta dele. 

A tentativa de transformar a criação de sua mais importante personagem em um momento icônico, é rasa e fragil. Transforma Maurício, em uma pessoa lenta. Que não tem mais a percepção do que está à sua volta apresentada no filme desde a infância. E um pai extremamente desatento. 

E, logo depois disso, a história termina. Deixando de lado, o impacto na cultura popular brasileira, na alfabetização de várias gerações que eles adoram alardear, e a expansão da sua marca para se tornar a maior do país no ramo. Conquistando espaço até em mercados internacionais. Sim, é um recorte propsital, eu reconheco. Primeiros anos, e seu amadurecimento até se tornar um quadrinhista estabelecido. Mas, como poucos conflitos acontecem, quando o recorte escohido termina, ainda ficamos com a sensação de que não vimos sua vida de fato.

A reconstrução de época é caprichada, em especial os trechos de sua infância, com claras referencias ao universo de Chico Bento. Já as inserções de tirinhas ao longo da trama, não são tão fluidas, e quase soam aleatóreas quando pipocam na tela. 

O elenco conta com bons nomes, em especial das mulheres que o cercam, Elizabeth Savala (Vó Dita), Natália Lage (sua mãe Dona Nila) e Thati Lopes (a primeira esposa Marilene), o que torna ainda mais sem sentido sua dificuldade com personagens femininos. Os demais são figuras conhecidas ou não, que entram e saem da vida do personagem, sem muita apresentação, ou despedida. À excessão de Emílio Orciollo Netto, que vive o o pai de Maurício.

A inteção desta biografia, como muitas e não há nada errado nisso, é homenagear o retratado enquanto conta sua história. Mas uma tentativa de exaltação equivocada, cria uma vida sem conflitos, e consequentemente um personagem unilateral. Maurício aqui é criativo e feliz, e apenas isso. Não é uma pessoa real. Mauricio de Sousa: O Filme não é apenas um filme chapa branca. É o filme institucional da Maurício de Souza Produções. Aquele que vão passar para todos os novos contratados da empresa, mas que não faz juz ao legado da figura que apresenta. 

Mauricio de Sousa: O Filme
2025 - Brasil - 95min
Biografia

Leia mais sobre Maurício de Souza

Post a Comment

أحدث أقدم