Holland

Suspenses sobre vidas aparentemente perfeitas, e a falácia do "sonho americano", são sempre intrigantes. Uma vez que muitos aspectos dela remetem a situações cotidianas reais, enquanto outros são condições almejadas por muitos. Ver esta perfeição desmoronar é sempre interessante e surpreendente. Ou ao menos deveria ser. Holland, novo filme do Prime Vídeo, falha em seu principal objetivo. 

Nancy Vandergroot (Nicole Kidman) tem a vida perfeita. Um bom trabalho como professora, filho e marido carinhosos, e uma boa casa na cidadezinha pacata e amistosa de Holland. E talvez por isso, esteja sempre procurando e investigando intrigas imaginárias. A investigação se volta para o marido Fred (Matthew Macfadyen), quando um simples boleto indica que o cônjuge pode estar escondendo algo. Então ela recruta seu amigo de trabalho Dave Delgado (Gael García Bernal), para ajudar a desvendar o mistério.

Uma investigação amadora, e consequentemente atrapalhada, que poderia render ao mesmo tempo bons momentos de tensão e comédia. Entretanto, o roteiro perde o foco, entre seguir com o mistério e criar metáforas sobre a falsidade da vida perfeita. Assim, o filme entrega vários temas, como confiança no casamento, xenofobia e até distúrbios mentais, sem realmente se aprofundar em nenhum deles. 

A condição mental dos personagens, especialmente da protagonista, por exemplo, é apenas uma ferramenta para tentar criar mais mistério. Será tudo imaginação de Nancy? Outra ferramenta usada em prol do mistério é a época em que a trama se passa. Situado no ano 2000, convenientemente para dificultar o acesso à informações, e tornar a investigação mais complexa. 

Afinal o acesso a internet, a quantidade de informação contida nela, e a qualidade do sinal de celular eram muito mais precárias na época. Apenas me questiono, porque não recuar ainda mais, para uma época em que essas tecnologias não estavam disponíveis? A década de 1950, por exemplo, auge do sonho americano, e dos ideais de família perfeita. 

A fotografia é o ponto forte, ao usar cores e distanciamento de câmera para criar metáforas da vida perfeita. Sejam com imagens que facilmente seriam emolduradas, ou ainda com os excelentes paralelos com a maquete construída pelo marido suspeito. A direção de Mimi Cave, não inova, apenas atende as expectativas do roteiro, que, como já mencionado deixa a desejar. Especialmente ao convidar o público a investigar junto como qualquer bom suspense. 

É muito provável, que o espectador alcance a conclusão muito antes dos personagens. Antes mesmo da metade da projeção, uma vez que as pistas são óbvias para alguém com a bagagem 2025. Mas não para os personagens situados em 2000.

E por falar nos personagens, o elenco principal é excelente. Os destaques ficam para Nicole Kidman e Gael García Bernal que tem uma química interessante. Matthew Macfadyen é eficiente como suspeito, mas não alcança a dualidade que tornaria o personagem mais interessante. Sabemos que ele faz algo de errado, seja um erro pequeno ou não. O jovem Jude Hill de Belfast, é uma agradável surpresa se encaixando bem entre grandes nomes. 

Holland tem uma boa proposta de suspense, críticas e metáforas sociais em sua premissa. Mas se confunde na hora de explorá-las. Entregando uma obra visualmente interessante, que até entretém, mas nunca realmente nos intriga, e conquista nosso engajamento. Criando uma sessão agradável, mas altamente esquecível. 

Holland
2025 - EUA - 110min
Suspense

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