Nosferatu (2024)

Ah, mas o cinema não tem mais criatividade! Hoje em dia só vive de remakes e adaptações... - calma, pra começar isso não é coisa atual, o cinema sempre fez remakes e, principalmente, adaptações. E pra continuar, de vez em quando as revisitas são sim necessárias e bem vindas. Como é o caso de Nosferatu de Robert Eggers.

Para quem desconhece o vampirão, Nosferatu é uma adaptação não autorizada de Drácula de Bram Stoker que chegou aos cinemas em 1922, pelas mãos de F.W. Murnau. Sendo um dos filmes mais expressivos do expressionismo alemão, e que influenciou a mitologia de vampiros desde então. E volta e meia ganha outras versões, homenagens, e faz aparições em outras obras por aí. Além de um remake pelas mãos de ninguém menos que Werner Herzog em 1979, Nosferatu: O Vampiro da Noite

E por incrível que pareça, mesmo depois de tantos anos de influencia, ainda há sim o que explorar em torno do personagem. E não é preciso nem fazer grandes adições ou alterações na história. Essa nova versão segue direitinho o roteiro original. O Conde Orlok (Bill Skarsgård) convoca um agente imobiliário, Thomas Hutter (Nicholas Hoult) para seu castelo, com a intenção de adquirir uma residência na cidade. É claro, tudo um plano para conseguir novas vítimas. Mais especificamente Ellen Hutter (Lily-Rose Depp), esposa de Thomas, que tem uma saúde conturbada, e de quem depende a vitória sobre o vampiro. É claro, que vai levar tempo, muita desgraça, e a ajuda de um estudioso sobrenatural, p Prof. Albin Eberhart von Franz (Willem Dafoe) andes de a moça compreender o que é preciso fazer.

Extremamente detalhista e comprometido, Eggers prova a necessidade da existência de sua versão, aprofundando a história através de uma construção de mundo impressionante. Passando por detalhes históricos, como hábitos, condições de vida e vestimentas da época, até os mitológicos se apoiando em contos do leste europeu, e na influencia do sobrenatural sob a vida dos personagens. Em especial Ellen, que aqui ganha habilidades específicas e uma conexão maior com o monstro, ao invés de ser a mera donzela a ser sacrificada. 

A relação com a mocinha, é a maior contribuição desta versão para a mitologia do personagem. Que agora deixa explicita um interesse sexual que nos tempos de Stoker e Murneau só podia existir nas entrelinhas. Conexão, que Lily-Rose Depp entrega surpreendentemente bem, dentro do contexto de estranheza e desconforto típico dos filmes do diretor. 

Aliás todo o elenco, entra nessa atmosfera incômoda com facilidade. Desde as reações de Nicholas Hoult, que são o maior indicador da figura grotesca de Orlok por boa parte do filme, uma vez que o vilão está sempre nas sombras. Até a empogação inapropriada do professor vivido por Dafoe diante do possível encontro com seu objeto de estudo. 

Falando no personagem de Dafoe um adendo aqui, que pode ser considerado um SPOILER: O professor tem um livro que conta como Orlok pode ser derrotado. Não uma criatura semelhante, o próprio Nosferatu. Mas se ele ainda está "morto-vivo", com base em que escreveram esse livro? Não acho que seja um furo de roteiro, tendo um diretor tão detalhista. Talvez eu tenha ficado perdida na explicação. Talvez existam outros Nosferatus por aí. Mas a questão ficou pairando na minha mente durante todo o filme. Quem souber a resposta. Agradeço se puser nos comentários. 

De volta ao elenco, ainda estão em cena com boas atuações, Ralph Ineson, Aaron Taylor-Johnson e Emma Corrin. Criando todo um núcleo que não existia nas versões anteriores. O das pessoas próximas aos protagonistas, que vão sofre as consequências de suas escolhas, e intensificar suas reações. Enriquecendo ainda mais a narrativa. 

É apenas Bill Skarsgård que não pode mostrar todo seu potencial, já que Orlok além de o colocar por baixo de pesada maquiagem, ainda aparece sempre nas sombras. Fazendo com que o ator concentre seus esforços no trabalho de voz e respiração, conseguindo tornar a experiência de ouvir o conde tão incomoda como olhar para ele. 

E por falar nas sombras que envolvem Nosferatu, Eggers  completa o trabalho de construção de mundo através de uma fotografia bem planejada e executada. Trazendo um mundo sombrio, escuro, tão sem vida, que por vezes parece em preto e branco, referenciando o filme de 22. Inclusive na forma como usa a sombra das mãos características do personagem título. Quando Orlok chega, de fato cobre uma cidade já tenebrosa com sua sombra macabra. O resultado é um terror que envolve e angustia, ao invés de arrancar sustos fáceis, ou ameaças momentâneas. O perigo é constante, e está em todo canto, não há escapatória. 

Então, guarde suas reclamações sobre falta de originalidade e excesso de remakes em Hollywood. Isso não é um problema quando há visões novas a serem exploradas de uma mesma história. Coisa que sempre há, já que cada nova geração vai ser relacionar de formas diferentes com cada conto. Basta ter talento, criatividade e boa vontade. Coisa que Robert Eggers já provou ter de sobra. 

Nosferatu
2024 - Reino Unido / EUA -132min
Terror, Fantasia

Conheça o Nosferatu de 1922!

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