Gladiador 2

Sucesso de público e crítica, cinco Oscar, mais de quatrocentos milhões de dólares nas bilheterias, parecia mesmo que a jornada de Maximus Décimus Meridius ia ecoar na eternidade. Só faltava mesmo a sequencia obrigatória, quando algo faz muito sucesso em Hollywood. Mas como continuar a história, quando - SPOILER - seu grande herói morreu? Talvez seja isso que Ridley Scott levou 24 anos para descobrir, antes de lançar o próximo o capítulo. Ao público resta descobrir, Gladiador 2 justifica a longa espera?

Dezesseis anos após os eventos do primeiro filme, acompanhamos Hano (Paul Mescal), que perde a esposa em um ataque romano comandado pelo General Acacius (Pedro Pascal), levado como escravo, e consequentemente se torna gladiador. O interessante é que Hano, na verdade é Lucius, o sobrinho do imperador do filme original, afastado e escondido ainda na infância para sua própria proteção. É claro que seu retorno acontece em momento crítico para a política de Roma, quando o império está sob o comando de insanos e tiranos imperadores gêmeos (Joseph Quinn e Fred Hechinger), inspirando o jovem a continuar o trabalho que Máximus começou, de devolver a "democracia" ao império. Make Roma great again!

Talvez o grande problema de Gladiador 2 seja enfraquecer o filme 2000. Seja pela invalidação do sacrifício de Máximus, que morreu para libertar Roma e manter Lucius a salvo e nada disso ocorreu. Novos ditadores tomaram o trono, e o garoto precisou fugir e se perder no mundo para sobreviver. E seu nome é apenas um registro apagado na lista de lutadores no Coliseu. Seja pelo fim da ambiguidade em torno da paternidade do protagonista. No original ele poderia ser filho do marido de sua mãe, de Máximus seu antigo amor, ou mesmo do incestuoso tio. Resposta dada apenas reforçar a conexão com o herói vivido por Russel Crowe, e conquistar nossa torcida por tabela. 

O que gera uma cômoda conveniência, já que o rapaz que cresceu acreditando ser filho de outro, imediatamente assume bandeiras e personalidade do pai recém descoberto. Outra facilitação é mais gritante. Por boa parte do filme, o protagonista é movido por vingança, sentimento que é desfeito por duas linhas de diálogo, assim que o roteiro precisa que o objetivo do personagem mude. "Que importa que seja responsável pela morte de minha esposa, se você respeitava meu pai, por quem não fui criado. Aliás qual dos pais mesmo? De qualquer forma, vou te perdoar." - fácil assim.

Impossível não imaginar que toda a trama de vingança foi criada apenas para emular os objetivos do protagonista do primeiro filme. Quando na verdade a história que queriam contar era a de um herdeiro do trono fugitivo, que retorna para reconquistar seu lugar, tal qual Simba de O Rei Leão.

Pontos fracos estabelecidos, é preciso mencionar, um roteiro complexo e bem definido não é o maior atrativo do filme. Assim as intrigas políticas são apenas uma desculpa para levar a trama para grandes batalhas, e lutas épicas no coliseu, que é o que o público realmente espera. E nisso Gladiador 2 não decepciona. Amplia os embates, e as dificuldades explorando todo o espetáculo que pode ser criado, e de fato era, em torno das lutas de gladiadores. Bestas ferozes, reencenação de batalhas, embates corpo-a-corpo, envolvimento da plateia, tem de tudo, um dia no Coliseu valia o ingresso pago. 

Mas e para nós, o filme vale os ingressos exorbitantes das salas de cinema? Isso depende do que você procura. Um roteiro complexo de intrigas palacianas e políticas? O roteiro finge ter um, mas é bem simplório e raso. 

Boas atuações? Gladiador 2 tem sim, especialmente Denzel Washington, Joseph Quinn e Fred Hechinger que estão se divertindo com seus personagens. E Pedro Pascal, que traz um dilema e honra para seu personagem que emula os vistos em Crowe, em 2000. Mas o filme também traz de volta Connie Nielsen que já era o elo mais fraco do elenco no filme anterior.  Paul Mescal carrega a jornada do protagonista com eficiência, mas sem a visceralidade e o carisma de Maximus. O que fica bastante evidente durante seu discurso no clímax. Criado para ser inspirador, mas apenas uma solução simples para um embate prometido. 

Já a trilha sonora é o elemento que mais evoca o filme original. Na tentativa de resgatar os bons sentimentos atrelados a ele. Enquanto o design de produção, cria uma Roma grandiosa e crível, mas que não consegue causar o mesmo impacto do primeiro filme. Talvez pela repetição, talvez pelas facilidades tecnológicas que esses 24 anos de diferença ofereceram. Não é mais tão difícil recriar a antiguidade hoje como era nos ano 2000. 

Quem procura um espetáculo de embates e lutas, no entanto, não vai se arrepender. São duas horas e meia de lutas bem coreografadas e criativas. Alguns elementos em CGI não são tão empolgantes quanto os tigres reais do primeiro filme. Mas ainda são ameaça o suficiente para criar boas soluções e escapadas. 

Gladiador 2 é uma sequencia tardia que não tem o mesmo brilho do original. Talvez não alcance o mesmo status de épico, embora seja planejado para tal.  Mas ainda é um bom entretenimento. Bem produzido, empolgante e divertido, é o tipo de filme pipoca que muita gente adora! 

Gladiador 2 (Gladiator II)
2024 - EUA - 148min
Ação, Aventura, Drama

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