Um filme de terror e suspense que se passa em 1930, mas bem poderia estar falando de nosso futuro não muito distante, diante das catástrofes climáticas que estamos enfrentando. Ainda sim, a força da natureza não é o fator mais apavorante em cena.
Margaret Bellum (Sarah Paulson) é uma mãe sozinha em uma região inóspita de Oklahoma, assolada por terríveis tempestades de areia. Presa aos bons tempos do passado, ela insiste em ficar na fazenda e esperar o marido retornar de um trabalho distante, para quem sabe trazer alguma esperança para ela e suas filhas. Mesmo que isso custe a saúde das meninas e sua sanidade. Além de toda essa dificuldade, uma presença sinistra ameaça a família.
A referência que vem em mente ao assistir Prenda a Respiração do Disney+, é o excelente Os Outros estrelado por Nicole Kidman. Não pelos eventos sobrenaturais, mas pelo núcleo familiar onde uma mãe solitária e no limite acredita estar protegendo seus filhos de algo muito maior que ela. Com Paulson entregando uma atuação eficiente para demonstrar a degradação psicológica daquela mãe, nos fazendo duvidar de suas atitudes, ainda que acreditemos em suas intenções.
Margaret sabe que algo ameaça as filhas, e quer protegê-las. A dificuldade é em identificar essa ameaça. Seria um intruso, um animal, a poeira presente no ar, as tempestades de areia, a fome, uma entidade sobrenatural presente na poeira, ela mesma, ou tudo isso junto?
Uma pena que, o roteiro de Karrie Crouse, que também assina a direção ao lado de William Joines, se perca em alguns momentos. Inserido elementos sem função narrativa, como a deficiência auditiva de uma das filhas, que não funciona sequer como elemento complicador das situações. Ou ainda repetindo situações, atravancando o crescimento gradual da ameaça.
Felizmente a atuação de Paulson e sua interação com o elenco, em especial a filha mais velha Rose (Amiah Miller), conseguem contornar esse problema de ritmo e nos manter interessados até o fim da narrativa. Assim como boas atuações, ainda que pequenas, de Ebon Moss-Bachrach e Annaleigh Ashford.
O desfecho não é exatamente surpreendente. Qualquer um com um pouco de bagagem em suspense logo compreende de que se trata a verdadeira ameaça. A graça fica por conta de entender o como e o porquê? Porquê essa ameaça surgiu? E como a família vai sobreviver a ela? Aliás, se vai sobreviver.
Entretanto o fator mais relacionável em cena é uma infeliz comparação com a nossa situação atual, a dificuldade de respirar. Não apenas as tempestades de areia, fatais para quem for pego desabrigado, mas a insalubridade do ar durante todo o tempo. Seco e cheio de poeira pela falta de chuvas, tem efeito visível na saúde, condição de vida e capacidade mental dos personagens. Troque a poeira por fumaça, e temos o Brasil nos últimos meses.
Amplie mais o olhar, observe os efeitos climáticos extremos. Não demora muito para percebermos, é 1930 em Oklahoma, mas poderia ser muito bem 2030 em qualquer lugar do mundo. Mais que a ameaça direta à família, é difícil não se perceber imaginando como sobreviver em tais condições, já que elas parecem cada vez mais possíveis.
Mérito da direção de arte, fotografia e efeitos especiais que tornam aquelas fazendas inóspitas, extremamente plausíveis. Uma vastidão isolada, com a poeira presente até no ar, e sequencias apavorantes das tempestades de areia. Gatilhos para quem, como eu, tem alergia à poeira. Estaria sufocada na primeira brisa, então sim, assisti ao filme acatando a sugestão do título, prendendo a respiração.
Prenda a Respiração não é surpreendente, inovador e revolucionário. Mas, é um entretenimento eficiente, com boas atuações e ambientação, cumpre o que promete. E como bônus nos amedronta com o vislumbre aterrorizante de um futuro possível!
Prenda a Respiração (Hold Your Breath)
2024 - EUA - 94min
Suspense, Terror
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