A Libertação

Faz dias que a Netflix me oferece este filme, eventualmente ao ver os nomes de Glenn Close, Aunjanue Ellis-Taylor e Caleb McLaughlin  no roteiro aceitei a indicação para ver A Libertação. Filme de terror inspirado em fatos, que não se decide entre o drama e o terror, o realismo e o sobrenatural.

Ebony Jackson (Andra Day), mãe de três com histórico de alcoolismo e prisão se muda para uma nova casa com os filhos, e a mãe Alberta (Glenn Close), onde coisas estranhas começam a acontecer, especialmente com as crianças. Mas com sua vida pregressa, a protagonista precisa convencer os outros, e a si mesma que realmente se trata de algo sobrenatural, e não do efeito de sua personalidade explosiva somada ao uso de entorpecentes.

Casa assombrada, dúvida entre alucinação e sobrenatural, possessão em crianças, exorcismo... os elementos escolhidos por A Libertação não são os mais originais. Entretanto, somado ao tema de mãe solo negra, com problemas temperamentais e de alcoolismo, que replica a criação ruim que recebeu da mãe recém convertida e arrependida, poderia criar paralelos e metáforas interessantes sobre a sociedade atual. Tudo intensificado pela inspiração em um caso real. 

Infelizmente nem o roteiro, nem a direção de Lee Daniels conseguem encontrar o equilibro de todos estes temas. Tão pouco se decidem em dar foco a um ou outro. Apostando muito no drama na primeira metade do filme, e trocando repentinamente para o sobrenatural no trecho final. Enfraquecendo a parte dramática, e sem trazer sustentação para mitologia demoníaca no final. Quando a Reverenda Bernice James (Aunjanue Ellis-Taylor), finalmente entra em cena, sua autoridade é fraca. E seus métodos amadores para qualquer um que já tenha visto qualquer obra com leves alusões à exorcismos. 

Enquanto a parte mais "realista" no início nos faz questionar as escolhas dos personagens. Como por exemplo a de Ebony de permanecer na casa. Já que ela afirma que se muda constantemente, ou ainda como o serviço social dá tantas chances a uma mulher visivelmente desequilibrada de manter a guarda dos filhos.

O que nos leva às atuações. A partir de uma personagem mais explosiva e desequilibrada, do que sobrecarregada como tenta se mostrar, Andra Day não consegue conquistar a fidelidade do público. E junto com essa perda vai nossa preocupação com todos em cena, e qualquer chance de ser impactado pelos eventos aterrorizantes em cena. 

Glenn Close até que tenta dar veracidade a uma avó arrependida, que tenta fazer o possível enquanto enfrenta uma doença grave. Mas o roteiro não cria uma personagem constante, com o interesse dela nos assuntos familiares oscilando constantemente. E finalmente, escala a atriz para uma sequencia que deveria ser impactante no clímax, mas é apenas vergonhosa. Assim como as atuações de Aunjanue Ellis-Taylor e Mo'Nique, que só entregam o que o roteiro ruim pede. 

De resto, o filme traz, clichês do gênero. Filmados e entregues da forma mais previsível, e consequente menos assustadora possível. Crianças estranhas, vozes demoníacas, distorção corporal, pessoas sendo arremeçadas, imagens ameaçadoras com símbolos religiosos, e tudo mais que você já possa ter encontrado em outros filmes. Vale mencionar, o problema não é a repetição de símbolos e fórmulas, mas a falta de personalidade, lógica, ou propósito ao fazê-los. Parecendo apenas que a produção tinha uma lista para cumprir.

A Libertação pode até ter chamado atenção na Netflix, mas está longe de merece-la. Um terror genérico, aborrecido, que cansa ao invés de assustar. Mais um para a galeria de potenciais desperdiçados.

A Libertação (The Deliverance)
2024 - EUA - 112min
Terror

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